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Paraguaios vão às urnas em eleição presidencial acirrada, com possível virada para a esquerda

O Paraguai, dividido entre a vitalidade econômica e uma corrupção endêmica, elege seu presidente neste domingo (30), uma votação extremamente acirrada, que ameaça sete décadas de hegemonia da direita em Assunção, e com possíveis repercussões diplomáticas até mesmo na China.

Paraguai realiza eleições gerais e presidenciais em 30 de abril de 2023. Santiago Peña é o candidato à presidência do partido no poder.
Paraguai realiza eleições gerais e presidenciais em 30 de abril de 2023. Santiago Peña é o candidato à presidência do partido no poder. © Luis ROBAYO / AFP
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Santiago Peña, economista de 44 anos, herdeiro do Partido Colorado (conservador), sigla que está no poder quase ininterruptamente há 76 anos, e Efrain Alegre, advogado social-liberal, de 60 anos, à frente do partido de centro-esquerda de coalizão, são os dois favoritos em um duelo de rara incerteza, de acordo com as pesquisas. A eleição é disputada em um único turno.

Atrás deles, um candidato "antissistema", Paraguayo Cubas, com uma retórica radical e antiparlamentar, experimentou um avanço notável nas últimas semanas, com até 20% das intenções de voto.

Uma derrota do Colorado marcaria mais uma mudança à esquerda de um país latino-americano, em linha com a chamada onda "rosa", que se dissipa nos últimos quatro ou cinco anos, e que tem visto alternâncias do México ao Chile ou da Colômbia ao Brasil.

As questões sociais ocuparam parte dos temas da campanha, já que o "pequeno" Paraguai (com 7,5 milhões de habitantes, mas maior que a Alemanha) oferece um forte contraste. Potência agrícola (soja, carne), grande exportador de eletricidade (gigante hidrelétrica de Itaipu cogerida com o Brasil), sua saúde macroeconômica (crescimento de 4,5% previsto em 2023, três vezes mais que o da América Latina) mascara desigualdades históricas (24,7% de pobres) e falhas na saúde pública.

"Não me interessa. Não vamos votar", declara Albino Cubas, morador de um "bañado", comunidades pobres frequentemente inundadas às margens do Paraguai, em Assunção. "Não há uma proposta séria para os pobres. Nenhum candidato nos servirá."

"País está cheio de privilegiados"

"O país está cheio de privilegiados. Algumas pessoas ganham 100 milhões de guaranis (cerca de US$ 14 mil) por mês enquanto outras passam fome", se mostra indignado Alegre, que promete uma reforma tributária igualitária, mas primeiro uma solução pela austeridade do setor público.

Ex-ativista contra a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989), já tendo sido duas vezes candidato à presidência (2013 e 2018), Alegre se apresenta como opositor da "máfia" clientelista do Colorado "ligada ao crime organizado", um sistema agora "colapsado", em sua opinião.

A corrupção também é um ponto sensível nesta eleição - o Paraguai está em 137º lugar entre 180 países no ranking da ONG Transparência Internacional.

Os dois principais candidatos pretendem combater o problema, mas Santiago Peña ainda teve que se defender do estigma que pesava sobre seu mentor, o ex-presidente (2013-2018) e magnata do tabaco Horacio Cartes, que Washington qualificou oficialmente em 2022 como "significativamente corrupto" e proibido de entrar nos Estados Unidos e de fazer transações no país.

Porque em um Paraguai de “fronteiras porosas” (encravado entre Brasil, Argentina e Bolívia), importante ponto de trânsito da cocaína andina, a corrupção é desenfreada, e agora também mata: pelo menos um promotor que atuava ativamente contra a lavagem de dinheiro, um prefeito antidrogas e um jornalista foram assassinados em 2022.

Conservadores

Em um país 90% católico e com forte influência guarani (língua oficial ameríndia), os dois principais rivais se assemelham em relação às questões sociais. Ambos, por exemplo, são contrários ao casamento para todos e ao aborto.

“Somos uma sociedade conservadora, está profundamente enraizado em nós (...) e nos tornamos cautelosos face às grandes mudanças da sociedade”, assume Peña, que se apresenta como o garantidor das tradições e da família, diante de um mundo "desumanizado".

Muito distante das preocupações dos paraguaios, a eleição também pode ter um impacto geopolítico secundário. Se eleito, Efrain Alegre já deu a entender que "analisaria" o futuro das relações de Assunção com Taipei, em nome do maior interesse comercial que teria uma parceria com a China. O Paraguai é um dos 13 estados do mundo - e o único da América do Sul - que reconhece oficialmente Taiwan.

Santiago Peña, por sua vez, afirmou que transferiria - novamente - a embaixada do Paraguai em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. O presidente Cartes já havia feito isso em 2018, antes que seu sucessor, Mario Abdo Benitez, reconsiderasse a transferência alguns meses depois.

Cerca de 4,8 milhões de eleitores são chamados às urnas para escolherem presidente, vice-presidente, deputados, senadores e 17 governadores provinciais. Os resultados devem ser conhecidos cerca de 3 horas após o encerramento das urnas, no final da tarde deste domingo.

(Com informações da AFP)

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