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Gestão humanitária e riscos sanitários são desafios após terremotos na Turquia e Síria

As equipes de emergência conseguiram resgatar mais sobreviventes dos escombros uma semana após o terremoto que deixou mais de 35.00 mortos na Turquia e na Síria. A esperança de encontrar sobreviventes são cada vez mais tênues. A gestão da catástrofe está agora entrando em uma nova fase: cuidar de mais de um milhão de desabrigados e gerenciar os riscos à saúde.

Mulheres sentadas diante de escombros em área destruída por terremoto em Antakya, no sudeste da Turquia, 12/02/23.
Mulheres sentadas diante de escombros em área destruída por terremoto em Antakya, no sudeste da Turquia, 12/02/23. AP - Bernat Armangue
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Céline Pierre-Magnani, correspondente da RFI, e AFP

O número de vítimas fatais do violento terremoto de 6 de fevereiro na Turquia e Síria chegou a 35.225, de acordo com os dados oficiais atualizados nesta segunda-feira (13). Agora são mais de 31 mil e 600 mortos na Turquia e mais de 3 mil e 500 mortos na Síria.

Uma criança e uma mulher de 62 anos foram os mais recentes casos de resgates milagrosos, depois de quase sete dias presos entre os escombros de imóveis que desabaram no terremoto devastador de 6 de fevereiro.

Mustafa, de sete anos, foi resgatado na província turca de Hatay, enquanto Nafize Yilmaz foi encontrada com vida em Nurdagi, também em Hatay, informou nesta segunda-feira (13) a agência estatal de notícias Anadolu. Ambos passaram 163 horas presos nos escombros antes dos resgates no domingo à noite.

Mais de 32.000 pessoas de organizações locais trabalham nos esforços de busca e resgate, ao lado de 8.294 voluntários do exterior, informou a Autoridade de Gestão de Desastres e Emergências (Afad).

Desabrigados 

Na cidade de Malataya, de 800.000 habitantes, milhares de pessoas tiveram de deixar suas casas, que ameaçavam desabar após os terremotos. Durante seis dias Tahir, da Afad, trabalhou dia e noite na montagem de acampamentos para desabrigados.

Em poucos dias, as barracas, cruciais para enfrentar o rigoroso inverno, já estão em falta. “As pessoas vêm aqui e nos perguntam como conseguir barracas. Infelizmente não tenho solução para elas”, disse Tahir à RFI. Ele informa as pessoas que o governo encomendou tendas no exterior, que devem chegar em breve.

Segundo ele, as autoridades têm feito um apelo intenso por ajuda internacional para tentar preencher essa lacuna. A requisição de residências universitárias no país é uma das soluções temporárias.

Um integrante de uma equipe britânica de resgate publicou no domingo no Twitter um vídeo que mostra um voluntário descendo por um túnel aberto nos escombros em Hatay, onde ele encontrou um turco que permaneceu preso por cinco dias após o terremoto.

As equipes trabalham contra o tempo e os especialistas advertem que a possibilidade de encontrar pessoas com vida diminui a cada dia.

Na cidade turca destruída de Kahramanmaras, próxima ao epicentro do terremoto, os voluntários cavaram entre montanhas de escombros e encontraram um corpo.

Mas as equipes de resgate reclamam da falta de sensores e equipamentos de busca avançados, o que significa que precisam cavar cuidadosamente entre os escombros com pás ou com as mãos.

“Se tivéssemos esse tipo de equipamento, nós teríamos salvado centenas de vidas, ou mais", disse Alaa Moubarak, chefe da Defesa Civil em Jableh, no noroeste da Síria.

Falta ajuda na Síria

A ONU alerta que a Síria necessita de ajuda urgente. Um comboio com suprimentos para o noroeste da Síria chegou via Turquia, mas o diretor de emergências da ONU, Martin Griffiths, destacou que muito mais é necessário para milhões de pessoas que tiveram suas casas destruídas.

"Até agora, falhamos com as pessoas do noroeste da Síria. Elas se sentem abandonadas. Buscam a ajuda internacional que não chega", afirmou Griffiths no Twitter.

Ao avaliar os danos no sábado no sul da Turquia, quando o balanço era de 28.000 mortos, Griffiths disse que o número poderia "dobrar ou ainda mais".

Conflito dificulta chegada de ajuda

A ajuda demorou a chegar à Síria, um país que enfrenta anos de guerra civil, um conflito que destruiu seu sistema de saúde. Algumas partes do país permanecem sob controle de rebeldes que lutam contra o governo do presidente Bashar al Assad.

Um comboio de 10 caminhões da ONU entrou no noroeste da Síria pela passagem de fronteira de Bab al Hawa, segundo um correspondente da AFP.

Bab al Hawa é o único ponto através do qual a ajuda internacional pode entrar em áreas da Síria sob controle rebelde após quase 12 anos de guerra civil. Outros pontos foram fechados por pressão da China e da Rússia.

O diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, se reuniu no domingo com Assad em Damasco e disse que o presidente sírio afirmou estar disposto a abrir mais passagens de fronteira para permitir a entrada de ajuda nas zonas sob controle dos rebeldes.

Conflito, Covid, cólera

"As crises combinadas de conflito, Covid, cólera, declínio econômico e, agora, o terremoto, têm um custo insuportável", afirmou Tedros depois de visitar a cidade síria de Aleppo.

Damasco aprovou a entrada dos comboios de ajuda a partir de áreas sob controle do governo, mas Tedros disse que a OMS aguarda a autorização das áreas controladas por rebeldes para entrar em algumas regiões.

Assad espera mais "cooperação eficiente" com a agência da ONU para solucionar a falta de suprimentos, equipamentos e remédios, indicou a presidência síria.

Mas as preocupações de segurança na Turquia provocaram a suspensão de algumas operações de resgate. Muitas pessoas foram detidas por saques e por tentativas de fraudar as vítimas do terremoto, segundo a imprensa estatal.

Uma organização israelense de emergências anunciou no domingo que suspendeu as tarefas de resgate na Turquia por uma "significativa" ameaça para a segurança de sua equipe.

Médicos se preocupam com possível crise sanitária

Na zona rural tuca de Malatya, milhares de pessoas tiveram que fugir de suas casas. Todos os sobreviventes do terremoto que se instalaram no acampamento sabem onde fica a enfermaria.

Os pacientes passam pela tenda do Doutor Eren. Este atende, examina e distribui remédios. Ele se disponibilizou assim que soube do desastre. Depois de mais de cinco dias no local, Dr. Eren está preocupado com os riscos à saúde decorrentes de acomodações improvisadas:

“Estamos em risco de epidemias. Pode ser simplesmente um surto de gastroenterite, mas também pode ser muito mais grave, como a hepatite A, por exemplo, ou o sarampo”, declarou o médico à RFI. Eu não sei se há tuberculose na área, mas se dez pessoas vivem em uma tenda por um mês, então a tuberculose vai acabar aparecendo. Tudo pode acontecer. Estamos no meio do inverno, e é a estação epidêmica. E há populações de refugiados não registrados aqui, alguns dos quais não são vacinados e podem transmitir doenças. São as crianças e os idosos os mais frágeis”, acrescentou.

Revolta

Na Turquia aumenta a irritação com a qualidade ruim dos edifícios e com a resposta governamental ao maior desastre em quase um século no país.

Um total de 12.141 edifícios desabaram ou ficaram gravemente danificados no país.

Dez pessoas foram detidas como parte das investigações, incluindo duas que tentaram fugir para a Geórgia.

 

 

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