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Xi Jinping faz tímidas concessões à França e se esquiva de solução real para conflito na Ucrânia

O presidente francês, Emmanuel Macron, e seu colega chinês, Xi Jinping, trocaram nesta terça-feira (7) o Palácio do Eliseu pelas montanhas do sul da França, em busca de um diálogo mais direto sobre a Ucrânia e suas divergências comerciais. Especialistas notam que apesar de alguns anúncios na área comercial, o acesso das empresas europeias ao mercado chinês permanece limitado. Quanto ao pedido de Macron para convencer a Rússia a encerrar a guerra na Ucrânia, Xi Jinping não tem o menor interesse em ajudar os europeus.

Emmanuel Macron recepciona Xi Jinping no aeroporto de Tarbes, na região dos Pirineus.
Emmanuel Macron recepciona Xi Jinping no aeroporto de Tarbes, na região dos Pirineus. via REUTERS - Aurelien Morissard
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Apesar de Macron ter apostado na bela paisagem das montanhas dos Pirineus para continuar "inspirando" as conversas com o líder chinês, Françoise Nicolas, diretora do polo Ásia no Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI), disse em entrevista à RFI que "as visões do que representa uma política de cooperação comercial entre a China e a União Europeia" permanecem muito diferentes. "A China afirma que o seu mercado está muito mais aberto do que no passado, mas não é o caso. As empresas europeias continuam tendo muito pouco acesso ao mercado chinês", diz a pesquisadora.

Nesta terça-feira, o Ministério da Agricultura francês informou que os chefes de Estado francês e chinês “adotaram pela primeira vez uma declaração conjunta relativa ao intercâmbio e à cooperação agrícola”, envolvendo a exportação de aves, carne suína e vinhos franceses de apelação de origem protegida. 

As empresas francesas poderão continuar a exportar aves para o mercado chinês mesmo que seja detectado um caso de gripe aviária no país, desde que a carne provenha de áreas livres do vírus.

“A França é o primeiro país europeu e o segundo país do mundo, depois dos Estados Unidos, a conseguir concluir este acordo com a China”, sublinha o ministério.

A China também concordou em autorizar a importação de novas peças de carne suína, como estômago e intestinos de porco, pouco valorizados na Europa. 

A diretora da associação interprofissional Inaporc, Anne Richard, considerou esta decisão “muito positiva”. "Pés, orelhas, torresmo, focinho, intestinos a partir de agora... A França está encontrando escoamentos mais lucrativos na China para partes de carne suína raramente consumidas na Europa e consideradas 'nobres' a milhares de quilômetros de distância", explicou a dirigente à AFP. Segundo ela, esse acordo representa um aumento de 10% nas exportações francesas de carne suína para a China.

Principal mercado para o vinho francês no exterior, a China decidiu reconhecer, durante a visita de Xi Jinping, mais duas denominações de vinhos da região de Borgonha – Mâcon e Gevrey Chambertin. 

Na declaração conjunta, os dois países discutem “abrir o mercado à alfafa desidratada”, um alimento rico em proteínas destinado à pecuária, do qual a França é o segundo maior produtor europeu, atrás da Espanha.

Por outro lado, a venda de carne bovina francesa permanece parcialmente embargada por Pequim, oficialmente por causa dos riscos relacionados com a doença da "vaca louca", o que é visto como um pretexto para os chineses manterem seu mercado fechado ao produto europeu. Já as exportações de conhaque foram suspensas recentemente, desde que Pequim abriu uma investigação sobre subsídios do governo francês ao produto, em retaliação a uma investigação aberta pela Comissão Europeia sobre subsídios chineses aos carros elétricos importados pelo bloco

China não quer interferir na política russa, diz especialista

Esses tímidos sinais de abertura do presidente chinês, que representam na prática avanços irrisórios para os europeus, também se aplicam a questões estratégicas. Na segunda-feira, Xi Jinping aderiu a uma proposta de Macron e manifestou apoio à ideia de uma "trégua olímpica mundial" durante os Jogos de Paris. 

Após uma reunião trilateral no Palácio do Eliseu, que contou com a participação da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, Macron e a dirigente alemã disseram que esperavam ver Pequim "usar toda a sua influência para encerrar a guerra de agressão russa" na Ucrânia. Mas Xi Jinping saiu pela tangente, ao se declarar a favor da realização, "no devido tempo", de uma conferência internacional "reconhecida pela Rússia e pela Ucrânia", tomando distância da reunião de paz organizada pela Suíça em junho, antecipadamente boicotada por Moscou.

Na avaliação de Françoise Nicolas, diretora do polo Ásia no Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI), com essas declarações "vemos claramente que as posições de consenso não existem entre Pequim e os europeus". "A China não está disposta a exercer pressão sobre a Rússia porque quer se manter afastada do conflito ucraniano. Pequim não quer interferir de forma alguma na política russa. E é aí que provavelmente os europeus alimentam ilusões sobre a capacidade de Xi Jinping influenciar Moscou", afirma.

Presentes para Xi 

Os dois dirigentes, acompanhados de suas esposas, chegaram no início da tarde ao Col du Tormalet, mítica passagem da prova ciclística Volta da França, a 2.115 metros de altitude. Os casais presidenciais foram recebidos por mulheres com trajes típicos que dançavam, com braços para o alto, ao ritmo marcado por uma flauta e um acordeão, enquanto nevava. Peng Liyuan, a esposa de Xi Jinping, seguiu o ritmo com as mãos.

Macron pediu uma foto de recordação antes de entrar no restaurante de seu amigo pecuarista Éric Abadie e de oferecer ao visitante vários presentes: mantas de lã dos Pirineus, uma garrafa de Armagnac, boinas, uma camiseta amarela da Volta da França. "Sei que gosta de esportes (...) Ficaríamos encantados de ter corredores chineses no Tour", disse o presidente francês a Xi, que iniciou na França sua primeira viagem à Europa desde 2019. O líder chinês, que continuará seu giro europeu pela Sérvia e Hungria, prometeu promover o presunto local e confessou que gostava "muito dos queijos".

O Col du Tourmalet está "diretamente ligado à história muito pessoal de Macron", explica sua comitiva. O líder, que está comemorando o sétimo aniversário de sua primeira eleição nesta terça-feira, passou muitas férias com seus avós nessa região.

"A diplomacia de Emmanuel Macron sempre apostou, talvez excessivamente, no poder de sedução", analisa Bertrand Badie, especialista em Relações Internacionais da Universidade Sciences Po. Macron "sempre teve a ideia de que suas relações pessoais podem romper barreiras", explica Badie. O cenário intimista do Tourmalet faria parte deste objetivo. "Mas isso significa não conhecer bem Xi Jinping, que não é muito sentimental", alerta.

Depois da visita à França, Xi Jinping segue para a Sérvia e Hungria, dois países considerados próximos de Moscou.   

RFI e AFP

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