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Seis dias após terremoto, resgates de sobreviventes emocionam a Turquia

Socorristas resgataram pouco antes do amanhecer deste domingo (12) um bebê de 7 meses e um adolescente de 13 anos ainda vivos, seis dias após o forte terremoto que matou mais de 30 mil pessoas na Turquia e na Síria. Outras operações comoventes aconteceram em várias cidades da região. Mas a ONU adverte: o número de vítimas pode "dobrar ou mais" nos próximos dias.

Soldado turco caminha em meio a prédios destruídos em Hatay. 12 de fevereiro de 2023
Soldado turco caminha em meio a prédios destruídos em Hatay. 12 de fevereiro de 2023 AFP - YASIN AKGUL
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Os salvamentos do bebê e da adolescente, filmados como "milagres" pela mídia turca, aconteceram em Hatay e Gaziantep, no sul da Turquia. "Você é um milagre", diz o título do vídeo compartilhado pela agência Anadolu no Twitter, celebrando o resgate da adolescente, bem depois do período de 72 horas considerado crucial para a sobrevivência humana sem hidratação.

Na província de Hatay, um menino de 7 meses, Hamza, também foi encontrado vivo, enrolado debaixo de uma laje onde tinha passado mais de 140 horas, informou a agência de notícias IHA durante a madrugada. Uma menina de 2 anos de idade, Asya, foi resgatada na mesma área.

Apesar do frio glacial, os bombeiros também retiraram uma mulher de 70 anos viva dos escombros na cidade turca de Kahramanmaras, em meio aos aplausos e gritos de emoção dos socorristas, de acordo com um vídeo transmitido pelo canal da TV pública Haber. "O mundo está aqui?", perguntou a mulher ao retornar à luz do dia.

Em Antáquia, o resgate de um homem que passou 152 soterrado também emocionou os socorristas.

A agência de notícias Anadolu ainda relatou o resgate de uma mãe de 35 anos e sua filha de 6 anos de um prédio destruído na província de Adiyaman.

Segundo os últimos números oficiais, o terremoto de 7,8 graus de magnitude matou pelo menos 28.191 pessoas: 24.617 na Turquia e 3.574 na Síria.

Papa pede 'ajuda concreta' aos desabrigados

O papa Francisco pediu "apoio concreto" às pessoas afetadas pelo desastre. "Continuemos a ser solidários, por meio da oração e do apoio concreto, com as pessoas atingidas pelo terremoto na Turquia e na Síria", disse ele no final de sua tradicional oração dominical na Praça de São Pedro, no Vaticano.

"Vi (...) as imagens desta catástrofe, a dor destas pessoas que sofrem por causa do terremoto. Vamos rezar por eles e não esquecê-los, e pensar no que podemos fazer por eles", acrescentou o pontífice argentino.

O papa já havia lançado um apelo à solidariedade internacional na quarta-feira: "Encorajo a todos a demonstrar solidariedade com estas terras, algumas das quais já foram martirizadas por uma longa guerra", disse ele.

Número de vítimas pode ser o dobro ou mais

"Ainda não começamos realmente a contar o número de mortes", lamentou o chefe da agência humanitária da ONU, Martin Griffiths, em visita a Kahramanmaras, na Turquia. 

"Em breve as equipes de busca e resgate serão substituídas pelos agentes humanitários, cujo trabalho é lidar nos próximos meses com o extraordinário número de pessoas afetadas", disse Griffiths no sábado (11), em um vídeo postado em sua conta no Twitter.

Em Gaziantep, onde cerca de 2.000 pessoas morreram, os desalojados fazem fila em temperaturas abaixo de zero para receber uma refeição quente, cortesia de uma onda de solidariedade dos restaurantes da cidade. O estabelecimento do turco Burhan Cagdas distribuiu gratuitamente cerca de 4.000 pratos aos sobreviventes.

"Nosso pessoal está em uma situação impossível", diz ele. Eles têm vítimas em suas próprias famílias e suas casas foram destruídas. A família de Burhan Cagdas dorme em carros desde segunda-feira. Mas a onda de solidariedade se faz presente. "Queremos ajudar", resume o dono do restaurante.

Quase 32.000 pessoas estão mobilizadas nas operações de busca e resgate na Turquia, assim como mais de 8.000 agentes de defesa civil estrangeiros, de acordo com a agência turca de desastres.

Pela primeira vez em 35 anos, foi aberto um ponto de passagem entre a Turquia e a Armênia, para permitir a chegada de ajuda humanitária.

Equipes de resgate da Armênia, Grécia, Suécia, Israel e até do Curdistão sírio, países inúmeras vezes apontados como "inimigos" pelo presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, atenderam ao apelo de ajuda lançado por Ancara e trabalham no resgate de vítimas do terremoto.

Saqueadores invadem lojas e casas

Além da dor pela perda de familiares, da casa e das dificuldades para obter abrigo, alimentos e cobertores, sob temperaturas glaciais, os desabrigados do terremoto ainda enfrentam saques. 

Segundo os serviços de segurança da Turquia, pelo menos 48 pessoas foram presas por saques em oito províncias atingidas pelo tremor de terra. Entre elas, 42 na província de Hatay, onde fica Antáquia.

Quando foram detidos, os saqueadores transportavam grandes quantias em dinheiro, celulares, computadores, armas, joias e cartões bancários. Nesta província fronteiriça com a Síria, que em 2021 contava com mais de 430 mil refugiados deste país, os dedos turcos apontam para os "estrangeiros".

As redes sociais estão repletas de ameaças a saqueadores, com vídeos mostrando cenas em que pessoas são espancadas. Mas "os turcos também podem fazer isso", disse à AFP Nizamettin Bilmez, um vendedor de eletrodomésticos de Antáquia.

Prisão de empreiteiros

No sábado, o Exército austríaco suspendeu suas operações de resgate por algumas horas, citando a "situação de segurança" no sul da Turquia. Uma decisão semelhante foi tomada pela Agência Federal Alemã de Assistência Técnica (THW), bem como por uma ONG alemã especializada na assistência a vítimas de desastres naturais. À tarde, dois instrutores de cães farejadores austríacos puderam retomar a busca "sob a proteção do Exército turco", segundo um porta-voz do exército em Viena.

O súbito colapso de edifícios, que revelou o estado de precariedade das construções, provoca revolta entre os turcos. Eles criticam duramente o governo por falta de rigor na fiscalização. A mídia turca noticiou a prisão de 12 empreiteiros da construção civil no sul do país, suspeitos de não cumprir a legislação. Novas detenções são esperadas nos próximos dias.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 26 milhões de pessoas podem ter sido afetadas pelo violento terremoto na Turquia e na Síria, incluindo "cerca de 5 milhões de pessoas vulneráveis". A OMS lançou um apelo urgente para levantar US$ 42,8 milhões de recursos.

Mas enquanto a ajuda internacional flui para a Turquia, o acesso à Síria devastada pela guerra, cujo regime está sob sanções internacionais, está mais complicado.

Em visita a Aleppo, região do norte da Síria duramente atingida pelo terremoto, o diretor-geral da OMS Tedros Adhanom Ghebreyesus disse estar "de coração partido ao ver as condições que os sobreviventes estão enfrentando – frio glacial e acesso extremamente limitado a abrigo, comida, água, aquecimento e cuidados médicos".

As organizações humanitárias estão particularmente preocupadas com a propagação da cólera, que reapareceu na Síria. Na sexta-feira (11), o governo ditatorial sírio autorizou "a entrega de ajuda humanitária a todo o país", inclusive em áreas detidas pelos rebeldes, onde 5,3 milhões de pessoas podem ficar desabrigadas. Damasco disse que a distribuição da ajuda deveria ser "supervisionada pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho Sírio", com o apoio da ONU.

Até agora, quase toda a ajuda às áreas rebeldes tem sido canalizada através da Turquia. O único corredor humanitário em funcionamento, e renegociado a cada seis meses com a ONU, passa pela localidade de Bab al-Hawa.

Com informações da AFP

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