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"Nunca achei que fosse ter vergonha da Rússia": estrela do Bolshoi abandona companhia por causa da guerra

Uma das bailarinas russas mais talentosas e admiradas de sua geração, Olga Smirnova, 30 anos, abandonou a prestigiosa trupe russa do Bolshoi depois de denunciar a guerra na Ucrânia, um movimento que evoca a deserção das lendas do balé para o Ocidente durante a era soviética. Smirnova havia denunciado fortemente a invasão russa da Ucrânia no início de março, dizendo que "não podemos ficar indiferentes a esta catástrofe global".

A dançarina russa Olga Smirnova, vista aqui atuando em "La Belle" (A Bela) em Mônaco em 2016.
A dançarina russa Olga Smirnova, vista aqui atuando em "La Belle" (A Bela) em Mônaco em 2016. AFP/File
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O Balé Nacional Holandês anunciou em uma declaração, nesta quarta-feira (16), que a "prima bailarina" estava se unindo à companhia sediada em Amsterdã, tornando-se a primeira bailarina russa a dar este passo, desde o início da guerra.

"Smirnova foi muito clara em sua recente denúncia da invasão russa da Ucrânia, o que torna o seu trabalho no país natal insustentável", disse a declaração. "Devo ser honesta e dizer que sou contra a guerra com toda a minha alma". (...) Nunca pensei que pudesse ter vergonha da Rússia (...) mas hoje sinto que existe um antes e um depois", escreveu Smirnova no Telegram.

Citada pelo Balé Nacional Holandês, a bailarina, cujo avô é ucraniano, disse que há algum tempo estava pensando em deixar o Bolshoi, mas que "as circunstâncias atuais haviam acelerado este processo".

O diretor do Balé Nacional Holandês, Ted Brandsen, saudou a decisão chamando Olga Smirnova de "uma dançarina excepcional". "É um privilégio tê-la como bailarina em nossa companhia na Holanda, embora as circunstâncias que levaram a esta decisão sejam muito tristes", disse ele na mesma declaração.

Formada na Academia de Balé Vaganova, o local de criação da trupe Mariinsky, a nativa de São Petersburgo foi contratada ainda muito jovem pelo Bolshoi, onde se destacou nos principais papéis do repertório.

Bailarino brasileiro também deixa a Rússia

Desde o início da invasão russa, vários dançarinos estrangeiros haviam anunciado sua saída dos balés russos, em solidariedade às vítimas do conflito na Ucrânia, mas Smirnova é a primeira dançarina russa a dar este passo publicamente.

O solista brasileiro Victor Caixeta, que foi uma estrela em ascensão no Mariinsky em São Petersburgo, também se juntará ao Balé Nacional Holandês. O Bolshoi, o orgulho da Rússia e mundialmente famoso, tem em sua trupe os melhores dançarinos de balé do mundo, assim como seu rival Mariinsky.

Ecos da Guerra Fria 

O anúncio de Smirnova tem ecos da Guerra Fria: em 1961, o lendário dançarino Rudolf Nureyev fez história ao desertar da URSS no aeroporto de Le Bourget, um passo altamente divulgado que foi interpretado como uma vitória do Ocidente.

Em 1974, o igualmente lendário Mikhail Barychnikov desertou para o Canadá, quatro anos após outra dançarina estrela, Natalia Makarova.

A invasão da Ucrânia teve um impacto cataclísmico sobre artistas e empresas russas, aumentando a ameaça de isolamento cultural, inédita até mesmo no auge da Guerra Fria. Em menos de duas semanas, uma turnê Bolshoi por Londres, programada para este verão, foi cancelada.

Dois grandes nomes viram as portas dos teatros ocidentais fechadas por causa de sua suposta simpatia por Vladimir Putin: o maestro titular Valery Gergiev, que foi desprogramado em todo o mundo, e a soprano internacional Anna Netrebko, que optou por uma retirada temporária dos palcos.

O maestro russo Tugan Sokhiev desistiu de ser diretor musical do Bolshoi e da Orquestra Nacional do Capitole de Toulouse, dizendo que estava sob pressão para tomar uma posição sobre os eventos na Ucrânia.

Alguns locais foram ainda mais longe, como a ópera de Mussorgsky "Boris Gudonov" (1869), cancelada pela Ópera Nacional Polonesa, ou pela Orquestra Filarmônica de Zagreb, retirando duas obras de Tchaikovsky de um concerto.

Várias vozes, notadamente na França, pediram para evitar confundir os assuntos e o boicote de artistas russos como um todo.

(Com AFP)

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