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Preocupação do Brasil com processo eleitoral na Venezuela é "legítima e não interferência", diz especialista

A coligação de oposição na Venezuela conseguiu finalmente inscrever na terça-feira (26) um candidato para as eleições presidenciais de 28 de julho, o ex-embaixador e cientista político Edmundo Gonzalez Urrutia. Mas líder oposicionista, Maria Corina Machado, inelegível, acusa o presidente Nicolás Maduro, que procura um terceiro mandato, de ter “escolhido” seus rivais. O Brasil manifestou "preocupação" com o processo eleitoral na Venezuela. 

Nicolas Maduro faz discurso para simpatizantes, após registrar sua candidatura para as eleições presidenciais, em Caracas, em 25 de março de 2024.
Nicolas Maduro faz discurso para simpatizantes, após registrar sua candidatura para as eleições presidenciais, em Caracas, em 25 de março de 2024. AP - Matias Delacroix
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Gonzalez Urrutia substitui Corina Yoris, a acadêmica novata em política que Machado havia indicado, mas que não conseguiu se inscrever, sem que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) desse qualquer explicação.

Embora a data limite de registro tenha expirado na segunda-feira à meia-noite, a CNE finalmente concedeu um prazo à oposição e concordou em registar Gonzalez Urrutia.

Analistas políticos e a oposição, no entanto, acreditam que Gonzalez poderá ser substituído por outro candidato – Machado, Yoris ou outro – no futuro se as negociações entre o poder e a oposição forem bem-sucedidas.

Machado, 56 anos, venceu com folga as primárias da oposição e parecia ser capaz de reunir uma oposição, muitas vezes dividida, em seu apoio. Ela foi declarada inelegível em meados de março – acusada pelas autoridades de corrupção e de apoiar uma invasão estrangeira – o que sempre negou.

O Brasil e a Colômbia manifestaram esta terça-feira sua “preocupação” com as restrições impostas aos candidatos da oposição na Venezuela. Caracas reagiu qualificando as declarações dos dois países, tradicionalmente aliados do presidente Nicolás Maduro, como “interferência”. 

“O governo brasileiro acompanha o desenvolvimento do processo eleitoral com expectativa e preocupação”, afirmou o Ministério de Relações Exteriores em comunicado.

O Itamaraty também manifestou “preocupação com os recentes acontecimentos ocorridos por ocasião do registo de algumas candidaturas”, que “poderão afetar a confiança de alguns setores da comunidade internacional” nas eleições.

“Não chamo isso de interferência, acho que é a manifestação de uma preocupação que é legítima. Na verdade, a cada dia eles são menos aliados no sentido não só político, mas econômico. Essa é uma diferença crucial que eles têm em relação à gestão do poder", disse Luis Salamanca, professor de ciência política da Universidade Central de Caracas, em entrevista à RFI. 

"Ou seja, esses dois países estão dizendo a Maduro: você chegou ao poder pelo voto, respeite o voto, respeite o direito ao voto, respeite a alternância", completou. 

“Há uma oposição majoritária liderada por María Corina Machado e a Plataforma Unitária. Depois, há uma oposição que não foi muito clara. Faltam ainda duas etapas: a fase dos desafios e a fase final das substituições. Aí já teríamos finalmente a candidatura da oposição", explica.

Ele salienta que "o jogo ainda não foi decidido". "Digamos que há uma pressão muito forte para evitar que Corina (Machado) seja candidata ou indique alguém para ser sua substituta, porque obviamente isso lhe transferiria todo o capital político que possui", diz Luis Salamanca.

Argentina recebe seis opositores venezuelanos

A Argentina anunciou na terça-feira que concedeu asilo, em sua embaixada em Caracas, a seis opositores do regime de Nicolás Maduro. 

Buenos Aires denunciou que o governo venezuelano cortou, na segunda-feira, o fornecimento de energia elétrica à sua residência oficial em Caracas, depois de a delegação ter recebido líderes políticos venezuelanos. 

O governo argentino alertou Maduro “sobre qualquer ação deliberada que coloque em risco a segurança de seu pessoal diplomático e dos cidadãos venezuelanos sob proteção”, num comunicado publicado na terça-feira à tarde.

“O presidente Javier Milei insta o socialista Nicolás Maduro a garantir a segurança e o bem-estar do povo venezuelano, bem como a convocar eleições transparentes, livres, democráticas e competitivas, sem proscrições de qualquer espécie”, exige o comunicado publicado pela assessoria do presidente.

As relações entre Argentina e Venezuela atravessam um dos piores momentos desde que Milei assumiu a Presidência. Um dos últimos episódios foi a proibição de aviões argentinos voarem pelo espaço aéreo venezuelano, em retaliação à apreensão e envio aos Estados Unidos, de um avião de carga venezuelano. 

A aeronave ficou retida durante meses em Ezeiza, na Argentina, bem como de sua tripulação composta de venezuelanos e iranianos.

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