Acessar o conteúdo principal

No último dia da campanha em Taiwan, China promete “esmagar" tentativa de independência

“Paz, não guerra”: dezenas de milhares de taiwaneses participaram nos últimos comícios de campanha na noite desta sexta-feira (12), na véspera de uma eleição presidencial que ocorre sob a pressão crescente da China. Pequim reivindica a soberania da ilha.

Eleitores do candidato do Partido Democrático Progressista, Lai Ching-te, também conhecido por William, aplaudem um comício na cidade de Tainan, no sul de Taiwan, nesta sexta-feira, 12 de janeiro de 2024.
Eleitores do candidato do Partido Democrático Progressista, Lai Ching-te, também conhecido por William, aplaudem um comício na cidade de Tainan, no sul de Taiwan, nesta sexta-feira, 12 de janeiro de 2024. AP - Ng Han Guan
Publicidade

Três candidatos disputam a presidência na eleição de um turno: o atual vice-presidente, Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista (DPP), Hou Yu-ih, do Kuomintang (KMT), e Ko Wen-je, do pequeno Partido Popular de Taiwan (TPP).

“A China diz que as eleições são uma escolha entre a guerra e a paz”, disse um estudante de 24 anos à AFP na reunião do DPP. Mas “esta é uma proposta equivocada, porque se há guerra ou não, não depende de nós”, acrescentou.

“Queremos paz, não guerra”, proclamavam também os cartazes coloridos empunhados pelos militantes do KMT.

O território de 23 milhões de habitantes, localizado a apenas 180 quilômetros da costa chinesa, é aclamado como um modelo de democracia na Ásia, mas está na mira de Pequim, que o considera como uma das suas províncias e que pode ser anexada pela força, se necessário.

Pressão de Pequim

Durante toda a semana, Pequim aumentou a sua pressão diplomática e militar sobre Taiwan. Na quinta-feira, cinco balões chineses cruzaram novamente a linha que separa o arquipélago da China, segundo o Ministério da Defesa de Taiwan, que também avistou dez aviões e seis navios de guerra.

Nesta sexta-feira, o exército chinês prometeu “esmagar” qualquer tentativa de independência de Taiwan. “O Exército de Libertação do Povo Chinês mantém alta vigilância em todos os momentos e tomará todas as medidas necessárias para esmagar firmemente as tentativas de ‘independência de Taiwan’ em todas as formas”, disse o porta-voz do Ministério da Defesa, Zhang Xiaogang, num comunicado de imprensa.

O candidato presidencial do Partido Popular de Taiwan (TPP), Ko Wen-je (terceiro à direita), encerra comício com a sua companheira de campanha Cynthia Wu (quarta à esquerda), em Taipei, Taiwan. (12/01/2024)
O candidato presidencial do Partido Popular de Taiwan (TPP), Ko Wen-je (terceiro à direita), encerra comício com a sua companheira de campanha Cynthia Wu (quarta à esquerda), em Taipei, Taiwan. (12/01/2024) AP - Chiang Ying-ying

Ele acusou o Partido Democrata Progressista, no poder em Taiwan, de empurrar a ilha “para condições perigosas de guerra” ao comprar armas dos Estados Unidos.

Na quinta-feira, a China havia exortado os eleitores de Taiwan a fazerem “a escolha certa” no pleito, criticando o “sério perigo” que representa Lai Ching-te. O candidato, apontado como favorito, é a favor da independência.

Taiwan é foco de tensões entre EUA e China

“Estas eleições suscitam um interesse crescente porque o contexto geopolítico da região evoluiu significativamente desde as últimas eleições, em 2020, em especial em termos de coerção militar, política e informativa da China em relação a Taiwan”, explica à AFP Marc Julienne, chefe de seção China no Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri). “O triângulo China-Estados Unidos-Taiwan está se tornando cada vez mais tenso.”

O estatuto de Taiwan é um dos temas mais explosivos da rivalidade entre a China e os Estados Unidos, principais apoiadores militares do território. Washington planeja enviar uma “delegação informal” à ilha após a votação.

Os Estados Unidos “acreditam que cabe aos eleitores de Taiwan decidir livremente o seu próximo líder e sem interferência externa”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel.

Nesta sexta, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, se reuniria com Liu Jianchao, chefe da divisão internacional do Comité Central do Partido Comunista Chinês, em Washington.

Os Estados Unidos alertaram a China sobre reagir aos resultados na forma de “mais pressão militar ou ações coercitivas”, e Pequim respondeu-lhes para não "se intrometerem nas eleições (...) para evitar prejudicar seriamente as relações sino-americanas”.

Posicionamento dos partidos em Taiwan

O KMT, o principal partido da oposição, defende uma aproximação com a China. Já o DPP proclama que Taiwan já é um Estado independente de fato.

“Taiwan é um Estado soberano e independente”, garante Monica, uma eleitora de Lai Ching-te, de 48 anos. “É por isso que estamos elegendo nosso próximo presidente”, disse.

“Taiwan não pertence à China”, acrescenta outra eleitora, Sylvia, de 31 anos. “Na verdade, já somos independentes, mas não legalmente.”

Desde 2016, Pequim cortou todas as comunicações de alto nível com Taiwan para protestar contra a eleição da atual presidente, Tsai Ing-wen, também do DPP. “A China teme que uma administração reeleita do DPP sob a liderança de Lai se manifeste a favor da independência formal de Taiwan, uma medida que Pequim ameaça impedir com uma ação militar”, sublinha James Crabtree, especialista do Conselho da União Europeia de Relações Internacionais (ECFR).

Na terça-feira, Lai Ching-te prometeu manter a porta aberta ao diálogo com a China, mas alertou: "Aceitar o princípio chinês de 'uma só China' não é a verdadeira paz. A paz sem soberania é tal como Hong Kong. É uma falsa paz.”

(Com informações da AFP)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.