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Novos protestos na Síria mostram que Assad não tem apoio das minorias, diz especialista

Há quase duas semanas, centenas de sírios se manifestam diariamente nas ruas de cidades no sul do país contra o regime do presidente Bashar al-Assad. Ainda que a alta dos preços pareça ser um dos principais fatores de insatisfação, para especialista entrevistado pela RFI, os protestos mostram que o governo de Damasco não tem mais o apoio das minorias.

Habitantes de Sueida, na Síria, protestam contra o aumento do preço dos combustíveis, em 24 de agosto de 2023.
Habitantes de Sueida, na Síria, protestam contra o aumento do preço dos combustíveis, em 24 de agosto de 2023. © Sweida 24 / via Reuters
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Os manifestantes bloquearam o acesso às sedes do partido Baas, no poder na Síria, na cidade de Sueida, ao sul de Damasco, e prometeram fazer o mesmo no resto da província.

Rotas foram bloqueadas por manifestantes em cidades mais extensas e localidades desta região limítrofe da Jordânia. No começo da semana, uma multidão queimou os retratos do presidente pendurados nas fachadas de certos locais públicos.

Sob temores de que os protestos se espalhem pelo país, o governo sírio tomou medidas para reprimir as manifestações.

As forças de segurança foram mobilizadas ao redor de Damasco, a capital. Ainda é cedo para saber se se trata de uma contestação ao regime ou apenas ao aumento do custo de vida. O movimento de contestação é apoiado por importantes figuras religiosas da minoria drusa, que pedem que o caráter pacífico do movimento seja preservado.

Nenhum incidente grave foi registrado desde o início das manifestações e as forças de ordem evitam todo contato com os manifestantes. Historicamente, a comunidade drusa não participou do conflito contra o regime, com algumas exceções.

“Essas manifestações desmentem todas as pretensões do Estado e seus apoiadores de que o regime sírio protege as minorias. É necessário destacar que a cidade que está no centro dessa contestação é Sueida, onde a maioria dos habitantes é proveniente da comunidade drusa”, diz o diretor do Centro Árabe de Pesquisas e Estudos Políticos (CAREP) e pesquisador me Ciências políticas e Relações internacionais, Salam Kawakibi.

Entrevista 

O especialista acredita que não é a crise econômica que os empurra a sair e se manifestar nas ruas, “mas sobretudo, uma entrevista que a Sky News realizou com Bashar Al-Assad, em que ele mostrou um ar bastante seguro de sua maneira de reprimir o povo sírio, como se celebrasse sua vitória”.

A cidade de Sueida recebe também beduínos, uma comunidade, segundo Kawabi, instrumentalizada pelo regime e apresentada como sendo inimiga dos drusos. “Atualmente os beduínos também protestam lado a lado com seus irmãos e irmãs de Sueida”, afirma.

As minorias da Síria costumavam apoiar o regime de Al-Assad, mas não parece ser mais o caso. “Não apenas não é mais o caso, como, na verdade, nunca foi. O regime sempre se mostrou como protetor das minorias. Isso reconfortou os europeus, os ocidentais”, explica. “Mas na realidade, ele não protege ninguém. Ele protege seu clã, sua fortuna, seu reino. Na própria região de onde vem a família Assad há muitos protestos. Mas a diferença entre a costa, de onde vem o presidente, e o sul é que a costa é cheia de apoiadores do regime, que reprimem com armas, sequestros e assassinatos toda forma de protesto”.

O regime de Damasco ainda não deixou claro qual será sua reação nos próximos dias. Para Kawabi, os sírios temem que se constate a insurgência do Estado Islâmico, com atentados visando à comunidade drusa, “para tentar, uma vez mais, instrumentalizar o medo do terrorismo do Estado Islâmico que é um aliado objetivo do regime para acalmar o movimento de protesto”.

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