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Coreia do Norte/EUA: o que resta do aperto de mão histórico entre Trump e Kim Jong-un

Em 12 de junho de 2018, o líder coreano Kim Jong-un aceitava se encontrar com o presidente norte-americano, Donald Trump. Em poucos meses, a comunidade internacional se permitiu pensar que a Coreia do Norte finalmente sairia de seu isolamento, renunciaria às armas nucleares e voltaria ao diálogo. Cinco anos depois, a realidade falou mais alto. O Ocidente continua sem saber como discutir com Pyongyang e o regime norte-coreano não parece disposto a desistir de seu programa nuclear.

Quinto aniversário do aperto de mão em Singapura entre o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong Un
Quinto aniversário do aperto de mão em Singapura entre o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong Un AP - Evan Vucci
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Vincent Souriau, da RFI

Na noite de 12 de junho de 2018, Donald Trump apareceu com ares de vitorioso diante de jornalistas de todo o mundo reunidos em Cingapura. O chefe da Casa Branca saia de uma reunião histórica com Kim Jong-un, e para ele, o diálogo havia, finalmente, sido retomado.

“Este encontro inédito, o primeiro entre um presidente norte-americano e um líder da Coreia do Norte prova que mudança real é possível”, disse Trump. “Acabamos de assinar uma declaração conjunta na qual o presidente Kim reafirma seu compromisso inabalável com a desnuclearização completa da península coreana. Também concordamos em entrar em negociações firmes para implementar este acordo o mais rápido possível. E ele quer fazer isso”, completou o magnata, como se saísse de uma reunião de negócios banal.

O aperto de mão selando a conversa e a Declaração de Cingapura foi imortalizado por fotógrafos do mundo todo. Afinal, um presidente norte-americano e um líder norte-coreano não se reuniam desde o final da Guerra da Coreia, nos anos 1950.

"Erro de interpretação"

Trump tinha razão de celebrar, pois, simbolicamente, esse encontro marcava um primeiro passo importante. Mas, na realidade, este acordo não previa nenhum calendário preciso, nem quais seriam os mecanismos de verificação e, sobretudo, a Casa Branca cometeu um grande erro de interpretação: em Pyongyang, a desnuclearização da península coreana não tem o mesmo significado que em Washington.

“Os norte-coreanos não reconhecem a Coreia do Sul como um Estado soberano. Para eles, a península coreana está ocupada no sul por forças coloniais, que seriam norte-americanas”, lembra o especialista Raphaëlle Pierre. “Para Pyongyang, a desnuclearização total implica que os Estados Unidos não devem mais estar presentes na península para que isso aconteça”, ressalta.

Além disso, a economia norte-coreana estava cada vez mais sufocada pelas sanções impostas por Washington. E a questão do bloqueio econômico não ficou totalmente definida na conversa entre os dois líderes.

Mesmo assim, Kim Jong Un fez um primeiro gesto. O líder asiático anunciou o fechamento do local de testes nucleares de Punggye-ri, no nordeste do país, esperando uma contrapartida. Se os Estados Unidos quisessem que esse processo avançasse, deveriam suspender, pelo menos parcialmente, as sanções econômicas impostas por Washington contra Pyongyang.

O que o governo norte-americano não fez.

Sanções americanas bloquearam o processo

A prova do impasse entre os dois lados foi resumida em uma declaração feita em um raro discurso de Ri Yong Ho, o chefe da diplomacia norte-coreana, em 28 de fevereiro de 2019, confirmando o fracasso da chamada cúpula de Hanói, no Vietnã.

“Atualmente, 11 resoluções da ONU visam a Coreia do Norte. Pedimos a retirada de cinco resoluções que dificultam o bom funcionamento da economia civil e as condições de vida do nosso povo. Em troca, estávamos prontos para desmantelar todas as instalações de produção nuclear de Yongbyon, incluindo as de plutônio e urânio, na presença de especialistas norte-americanos”, explicou o representante de Pyongyang. “Mas quando os Estados Unidos exigiram uma concessão adicional, ficou claro que essa proposta não tinha mais razão de ser mantida”, resumiu o friamente o representante do país asiático.

Em outras palavras, a Coreia do Norte tinha a sensação de fazer o máximo que podia, mas não conseguia entender a lógica norte-americana, pois Washington se mostrava incapaz de fazer uma contraproposta aceitável. “A palavra-chave é reciprocidade”, lança Raphaëlle Pierre. “Para os coreanos, em comparação com o que colocaram na mesa, a delegação norte-americana e o governo Trump, seja nas cúpulas ou fora das cúpulas, não conseguiram oferecer nada de substancial”.

Um ano e meio após o aperto de mão de Cingapura, a ruptura é oficializada. Em 1º de janeiro de 2020, Kim Jong-un anuncia o fim da moratória nos testes de mísseis balísticos e a intensificação do programa norte-coreano.

A declaração marca o que vem se mostrando como um caminho sem volta, pois cinco anos após o encontro entre os dois líderes, a situação nunca esteve tão tensa. A Coreia do Norte lançou três testes com misseis entre 25 e 29 de setembro de 2022 e incluiu em sua Constituição uma lei na qual diz claramente que a Coreia do Norte é um Estado nuclear e descarta qualquer tipo de negociação sobre o tema, seja com os Estados Unidos ou com as Nações Unidas.

O texto, apresentado pelo presidente norte-coreano como uma decisão “irreversível”, aponta que Pyongyang tem o direito de usar ataques nucleares preventivos para se proteger. Ao validar a lei, aprovada por unanimidade, Kim Jong-un disse que as armas atômicas representam “a dignidade, o corpo e o poder absoluto do Estado”.

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