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Fracasso no lançamento de satélite espião norte-coreano provoca pânico na região

A Coreia do Norte fracassou na tentativa de colocar em órbita seu primeiro satélite espião, que pretendia monitorar as atividades militares americanas na região. Depois de apresentar uma falha técnica, o foguete que transportava o equipamento caiu no mar. O lançamento norte-coreano foi cercado de confusão, com cenas de pânico registradas nesta quarta-feira (31) na Coreia do Sul e no Japão, depois que sirenes de alerta contra ataques soaram nos países vizinhos.

Analistas dizem que a recuperação dos destroços do foguete e do satélite norte-coreanos pelas Forças Armadas da Coreia do Sul fornecerá indícios sobre a capacidade militar de Pyongyang.
Analistas dizem que a recuperação dos destroços do foguete e do satélite norte-coreanos pelas Forças Armadas da Coreia do Sul fornecerá indícios sobre a capacidade militar de Pyongyang. © KCNA/UPI/Shutterstock/SIPA
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"O novo foguete de transporte de satélites 'Chollima-1' caiu no Mar Ocidental (Amarelo) depois de perder o impulso devido ao arranque irregular do motor de dois estágios", informou a agência oficial norte-coreana de notícias KCNA.

O projétil "desapareceu rapidamente dos radares antes de alcançar o ponto de chegada previsto", destacou o Exército sul-coreano, de acordo com a agência Yonhap. Seul divulgou imagens dos destroços do satélite e do lançador, que a Coreia do Sul afirma ter recuperado no Mar Amarelo, a 200 km da ilha de Eocheong. As imagens mostram uma grande estrutura metálica em forma de cilindro, com alguns tubos e cabos na extremidade.

"Com a recuparação dos destroços, os especialistas poderão ter uma ideia das capacidades da Coreia do Norte em relação ao lançamento de foguetes de grande porte", declarou à AFP o analista americano Ankit Pand, que desenvolve estudos sobre a Coreia do Norte nos Estados Unidos.

O governo norte-americano condenou o lançamento, que utilizou "tecnologia de mísseis balísticos" e "corre o risco de desestabilizar a situação de segurança na região e fora dela", disse Adam Hodge, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA.

O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, também condenou o experimento, que foi realizado "em flagrante violação das resoluções da ONU".

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu à Coreia do Norte que pare com essas operações e retorne à mesa de negociações. "Qualquer lançamento com tecnologia de mísseis balísticos é contrário às resoluções do Conselho de Segurança", afirmou Guterres em um comunicado.

Pyongyang anunciou na terça-feira (30) que colocaria um satélite espião em órbita para "enfrentar as perigosas ações militares dos Estados Unidos e de seus vassalos". O comentário foi uma referência aos exercícios militares conjuntos de Washington e Seul nas proximidades da península coreana, que Pyongyang considera ensaios para uma invasão. Embora não comunique com antecedência sobre seus testes de mísseis, o governo ditatorial de Pyongyang  geralmente fornece informações sobre seus programas espaciais, que são apresentados como pacíficos, e avisou que esse lançamento ocorreria entre 31 de maio e 11 de junho.

Pânico e confusão

O lançamento, no início da manhã, provocou grande confusão no Japão e na Coreia do Sul. Em Seul, capital sul-coreana, as sirenes foram acionadas e a prefeitura enviou a todos os smartphones um alerta de "emergência crítica" às 6h41 (18h41 de terça-feira em Brasília). O alerta, que pedia a todos os cidadãos que se preparassem para uma evacuação, com prioridade para "crianças e idosos", foi cancelado poucos minutos depois. O ministério do Interior informou que a mensagem foi enviada por engano.

O Exército sul-coreano, citado pela agência Yonhap, destacou que a área metropolitana de Seul não foi ameaçada pelo foguete.

"Eu estava levando meus filhos pequenos para um estacionamento no subsolo", declarou à AFP um homem de 37 anos, que estava "indignado" com o erro.

Também foi divulgado um alerta de míssil para a província japonesa de Okinawa (sul). A população recebeu a orientação de procurar abrigo, mas a advertência foi suspensa 30 minutos depois.

A Administração Nacional de Desenvolvimento Aeroespacial da Coreia do Norte atribuiu a falha no lançamento à "baixa confiabilidade e estabilidade do novo sistema de motor aplicado ao Chollima-1 e à natureza instável do combustível utilizado". A agência afirmou que pretende investigar de maneira profunda as "falhas graves" reveladas no lançamento do satélite e que fará uma nova tentativa "o mais rápido possível".

Mísseis dissimulados?

O Japão também condenou o lançamento e lembrou que a iniciativa viola as resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Como foguetes de longo alcance e lançadores espaciais compartilham a mesma tecnologia, os analistas acreditam que o desenvolvimento da capacidade de colocar um satélite em órbita daria a Pyongyang a cobertura para testar mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) proibidos pelas resoluções da ONU.

O fracasso desta quarta-feira deve ser considerado um revés temporário para o líder norte-coreano, Kim Jong Un, que seguirá estimulando o desenvolvimento dos programas nuclear e de satélites, de acordo com os analistas. "Sabemos que a determinação de Kim não termina com esta atividade recente", declarou Soo Kim, da LMI Consulting e ex-analista da CIA, à AFP. Ele acrescentou que o lançamento pode ser um "prelúdio para novas provocações, incluindo o teste nuclear sobre o qual há muito especulamos".

Após o rompimento do diálogo com Washington sobre o programa nuclear norte-coreano em 2019, Pyongyang intensificou o desenvolvimento de seu programa nuclear, com uma série de testes de armas, incluindo o lançamento de vários ICBMs. Desde 1998, a Coreia do Norte lançou cinco satélites, três dos quais falharam imediatamente e dois parecem ter atingido a órbita, embora seus sinais nunca tenham sido detectados de forma independente, o que pode ser provocado por um mau funcionamento.

Com informações da AFP

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