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Israel intensifica ataques na Faixa de Gaza e cerca de 110 mil palestinos já deixaram Rafah

As delegações de Israel e do Hamas abandonaram as negociações indiretas no Cairo sem alcançar um acordo de trégua na Faixa de Gaza, onde prosseguem os bombardeios israelenses. Cerca de 110 mil pessoas fugiram da cidade de Rafah – ameaçada por um ataque em grande escala do exército israelense – para áreas que consideram menos perigosas no estreito território palestino, alertou a ONU nesta sexta-feira (10).

Palestina desce escadas de um prédio atingido por ataques israelenses em Rafah, no sul da Faixa de Gaza (9/5/24).
Palestina desce escadas de um prédio atingido por ataques israelenses em Rafah, no sul da Faixa de Gaza (9/5/24). REUTERS - Hatem Khaled
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“Cerca de 30 mil pessoas fogem de Rafah todos os dias”, disse o chefe do Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários (OCHA) para Gaza, Georgios Petropoulos, acrescentando que “a maioria destas pessoas já teve de se deslocar 5 ou 6 vezes seguidas” desde o início da guerra entre Israel e o Hamas.

Na última madrugada, equipes da AFP observaram disparos de artilharia israelense contra a cidade de Rafah, na fronteira com o Egito, e testemunhas relataram bombardeios na Cidade de Gaza e em Jabaliya, no norte do território.

Nos últimos dois dias, os países mediadores nas negociações - Catar, Egito e Estados Unidos - tentaram concretizar um pacto que permitiria a libertação de reféns israelenses e evitaria um ataque a Rafah, após sete meses de guerra.

Porém, o movimento islamista, que aceitou na segunda-feira a proposta apresentada pelos mediadores, afirmou em uma carta a outros grupos palestinos que Israel rejeitou a oferta.

"Consequentemente, a bola está agora totalmente com a ocupação", afirma o texto do Hamas, grupo considerado terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.

O canal egípcio Al Qahera News, próximo ao serviço de inteligência do país, informou que os mediadores continuam com os esforços para "aproximar as posições das duas partes", depois que as delegações deixaram o Cairo.

Em uma conversa com seu homólogo americano, Antony Blinken, o ministro das Relações Exteriores do Egito, Sameh Shoukry, fez um apelo às partes por "flexibilidade e para que mobilizem todos os esforços necessários para alcançar um acordo de trégua", informou sua pasta.

Palestinos velam parentes mortos nos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza. Rafah, 10/05/24.
Palestinos velam parentes mortos nos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza. Rafah, 10/05/24. AP - Ismael Abu Dayyah

Ajuda paralisada

O fechamento por parte de Israel de passagens de fronteira cruciais na Faixa de Gaza cortou as principais vias de acesso e tornou as operações humanitárias quase impossíveis, alertou a ONU.

"Perdemos o principal ponto de entrada para a ajuda humanitária", disse Andrea de Domenico, que dirige o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) nos Territórios Palestinos, em entrevista à AFP na quinta-feira.

Israel fechou no domingo a passagem de fronteira de Kerem Shalom, entre seu território e o sul de Gaza, pela qual entrava grande parte da ajuda ao território palestino, depois de um ataque de foguetes do Hamas que matou quatro soldados na região.

O exército israelense ordenou posteriormente o esvaziamento dos bairros da zona leste de Rafah e tomou o controle da passagem de fronteira entre essa cidade do sul de Gaza e o Egito, que também foi fechada.

Apesar do anúncio de Israel sobre a reabertura da passagem de Kerem Shalom na quarta-feira, Domenico afirma que o envio de ajuda continua "extremamente difícil". Além disso, o ponto de controle de Rafah, por onde entra todo o combustível utilizado em Gaza, continua fechado.

"Não há reservas de combustível em Gaza, o que significa que não há movimento. Isto paralisa completamente as operações humanitárias", explica.

A comunidade internacional exige há meses a entrada de mais ajuda no território, onde a zona norte já está oficialmente em situação de fome, segundo a diretora-executiva do Programa Mundial de Alimentos, Cindy McCain.

Palestinos refugiados chegam em Deir al Balah, na região central de Gaza, após fugirem de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em 8/5/24.
Palestinos refugiados chegam em Deir al Balah, na região central de Gaza, após fugirem de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em 8/5/24. AP - Abdel Kareem Hana

"Um desastre"

Antes do fechamento de Rafah e diante da ameaça de uma ofensiva israelense contra a cidade, a ONU solicita há várias semanas vias alternativas para fornecer combustível ao território.

Israel garantiu às Nações Unidas que está tentando encontrar uma solução, mas alertou que provavelmente não será possível transportar os 200.000 litros diários que as organizações humanitárias consideram necessários.

A Organização Mundial da Saúde advertiu na quarta-feira que os hospitais do sul de Gaza tinham combustível apenas para mais três dias.

A diretora do Unicef, Catherine Russell, destacou que se a entrada de combustível não for permitida, "as consequências serão sentidas quase imediatamente".

"Os serviços de apoio vital para bebês prematuros ficarão sem energia elétrica, crianças e famílias ficarão desidratadas ou consumirão água nociva", disse.

Além da falta de combustível, os comboios humanitários enfrentam a questão da segurança.

"É uma loucura. Há tanques em todos os lados, eles mantêm tropas no terreno, estão bombardeando a zona leste de Rafah e querem que saiamos para retirar combustível ou produtos básicos", disse Domenico.

"Sabem que simplesmente não podemos ir", insiste. As reservas de alimentos estão no fim e os tratamentos médicos para crianças desnutridas podem ser suspensos por falta de produtos, alerta.

Fumaça sobe de prédios após ataques em Rafah, no sul da Faixa de Gaza (9/5/24).
Fumaça sobe de prédios após ataques em Rafah, no sul da Faixa de Gaza (9/5/24). AFP - -

A situação pode piorar após o êxodo de quase 80.000 habitantes do leste de Rafah. 

As operações israelenses na cidade também ameaçam os poucos hospitais em funcionamento no sul de Gaza, alerta Domenico. "É inimaginável forçarmos seres humanos a uma experiência tão terrível e desumana", disse. "É um desastre".

A guerra em Gaza começou em 7 de outubro com o ataque sem precedentes do Hamas no sul de Israel, que deixou mais de 1.170 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.

Em retaliação, Israel iniciou uma ofensiva que já deixou mais de 34.900 mortos, a maioria mulheres e crianças, segundo o ministério da Saúde do território governado desde 2007 pelo Hamas.

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