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Linha Direta

Incursão de Israel em Rafah preocupa comunidade internacional; EUA pedem operação rápida e limitada

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Israel deu início à operação em Rafah levando adiante uma promessa feita há meses de que entraria com as tropas na cidade localizada no sul do enclave. Mas as autoridades do país têm procurado reforçar a mensagem, em especial aos Estados Unidos, de que a incursão é limitada e pode ser interrompida dependendo dos resultados das negociações sobre um acordo de cessar-fogo. 

Smoke rises following an Israeli airstrike on buildings near the separating wall between Egypt and Rafah, southern Gaza Strip, Monday, May 6, 2024.
Diante das “preocupações” com Rafah, os Estados Unidos suspendem um carregamento de bombas para Israel. Imagem de área entre Egito e Rafah, em Gaza, na segunda-feira, 6 de maio de 2024. AP - Ramez Habboub
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Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel

A ofensiva também tem sido menor do ponto de vista da quantidade de soldados israelenses envolvidos. Segundo o exército, apenas duas brigadas estão dedicadas a seguir no território. Também de acordo com os israelenses, houve coordenação com as organizações humanitárias em atuação em Gaza para que continuem a auxiliar no processo de deslocamento dos cerca de cem mil habitantes desta parte do enclave palestino. Lembrando que a estimativa é que entre 1 milhão e 1,5 milhão de pessoas estejam neste momento refugiadas em Rafah. 

Na prática, a invasão à cidade - anunciada durante meses por Israel - por enquanto está restrita aos bairros a leste de Rafah, as localidades menos povoadas do território. É justamente esta área que Israel ocupa. 

Israel também tomou com facilidade a Passagem de Rafah, a única saída de Gaza que não faz fronteira com o território israelense, mas egípcio. A Passagem de Rafah está localizada a apenas 3 km de distância da fronteira com Israel e fica no perímetro da área oriental de Rafah. 

Os israelenses seguem com a operação em paralelo ao chamado Corredor Filadélfia, uma faixa estreita de 14 km de extensão entre o Egito e Gaza. Esta é a fronteira entre os dois territórios. Para Israel, parte dos produtos e armamentos que entram em Gaza passa pela fronteira por meio de túneis ilegais construídos pelo Hamas.

Ao longo de meses, a expectativa de uma ofensiva ao ponto mais ao sul de Gaza deu tempo de sobra para o Hamas se preparar - essa é uma das críticas internas que se faz em Israel, inclusive. Desta forma, os cerca de cinco mil homens armados do grupo palestino que, segundo as estimativas israelenses deveriam estar no local, já tinham fugido antes mesmo da chegada das tropas de Israel. 

Hamas e Israel divergem em itens fundamentais da proposta

Em Beirute, no Líbano, Osama Hamdan, oficial do Hamas, avisou a Israel que se a operação em Rafah continuar, não haverá cessar-fogo. Ele também disse que, se Israel ampliar a ofensiva, irá enfrentar uma forte resistência por parte do grupo palestino. 

Uma pressão que o grupo palestino exerceu sobre Israel foi comunicar que havia aceitado a proposta de cessar-fogo aos intermediários de Catar e Egito. A partir daí, Israel foi estudar a resposta oficial recebida e passou a argumentar que não se tratava da proposta com a qual havia concordado inicialmente. De forma esquematizada, esses são os pontos de divergência entre as partes:

-Reféns israelenses a serem libertados;

Israel - exige receber 33 reféns vivos na primeira fase do acordo (crianças, doentes, mulheres e homens acima de 50 anos de idade).

Hamas - quer libertar apenas 18 reféns vivos. Os demais, vivos ou mortos.

-Prazo para a libertação;

Israel - exige que três reféns sejam libertados por dia.

Hamas - quer libertar três reféns por semana.

-Proporção de prisioneiros palestinos a serem libertados;

Israel - 20 prisioneiros para cada refém; 40 prisioneiros que cometeram os crimes mais graves devem ser libertados para cada soldada israelense libertada.

Hamas - 30 prisioneiros para cada refém; 50 prisioneiros que cometeram os crimes mais graves devem ser libertados para cada soldada israelense libertada.

-Direito a veto;

Israel - quer ter direito a veto de parte dos nomes dos prisioneiros palestinos escolhidos pelo Hamas para serem libertados.

Hamas - exige que Israel não tenha direito de vetar qualquer nome.

-Retorno dos palestinos ao norte de Gaza;

Israel - exige que apenas civis palestinos possam retornar.

Hamas - quer que todos os palestinos retornem, inclusive homens armados.

-Fim da guerra;

Israel - não quer reconhecer por escrito que o acordo levará ao fim da guerra.

Hamas - quer o reconhecimento sobre o fim da guerra a partir da implementação da segunda fase do acordo.

EUA pressionam e sociedade israelense está dividida

Os Estados Unidos pressionam Israel para não ampliar ofensiva. De acordo com o jornal do Catar Al-Arabi Al Jadid, a operação teria sido coordenada com os Estados Unidos. O Egito também teria sido avisado. Segundo a apuração da RFI, o Egito teria conhecimento de que Israel chegaria à Passagem de Rafah. 

Ainda conforme o jornal do Catar, a incursão teria sido autorizada por Washington para que o governo de Benjamin Netanyahu pudesse obter uma imagem de vitória a ser apresentada a seus ministros mais extremistas. Bezalel Smotrich, ministro das Finanças, chegou a dizer que o "governo não teria direito de continuar a existir, caso não levasse adiante a invasão terrestre a Rafah". 

No entanto, a paciência dos norte-americanos tem limite, e Washington não quer que a invasão se estenda para além da área ao leste de Rafah. Ainda segundo o jornal, se Israel descumprir o que foi combinado, os Estados Unidos poderiam inclusive proibir a transferência de munições e equipamento militar para o país. 

“Suspendemos a entrega de um carregamento de armas na semana passada. Ele consiste em 1.800 bombas pesando 907 kg (2.000 libras) e 1.700 bombas pesando 226 kg (500 libras)", disse uma autoridade sênior do governo do presidente dos EUA, Joe Biden, na terça-feira (7), falando sob condição de anonimato. “Ainda não tomamos uma decisão final sobre como proceder com essa remessa”, acrescentou.

Mesmo em Israel a ofensiva está longe de ser consensual e a opinião pública entende ser difícil realizar a incursão em larga escala no sul de Gaza e, ao mesmo tempo, conseguir libertar os reféns.

Num país polarizado, a opinião das pessoas também está dividida a partir da interpretação política dos acontecimentos; pesquisa do jornal Maariv mostra que 79% dos eleitores de partidos de direita apoiam a ideia de levar adiante a operação em Rafah. Já 81% dos israelenses que votam em partidos de centro ou esquerda são favoráveis a um acordo para libertar os reféns. 

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