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Terremoto na Síria: médico descreve inferno de sobreviventes na região de Idlib

O balanço de vítimas dos terremotos na Turquia e na Síria já supera 11.200 mortos. Dois dias após o desastre, as equipes de resgate trabalham ininterruptamente para retirar eventuais sobreviventes presos entre os escombros de imóveis reduzidos a ruínas, nos dois países. Na Síria, já devastada por mais de 11 anos de guerra, o acesso à ajuda humanitária é complicado, especialmente na província de Idlib, controlada por grupos rebeldes e jihadistas, relata o médico Raphael Pitti, da ONG Mehad. 

Moradores buscam por vítimas do terremoto entre os escombros de casas e barracas que desabaram no povoado de Besnaya, região controlada por rebeldes sírios na província de Idlib.
Moradores buscam por vítimas do terremoto entre os escombros de casas e barracas que desabaram no povoado de Besnaya, região controlada por rebeldes sírios na província de Idlib. AFP - OMAR HAJ KADOUR
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Anastacia Becchio, da RFI 

RFI: Qual é a situação na província de Idlib?

Raphael Pitti: É uma região onde vivem cerca de 4,2 milhões de pessoas, população que inclui 2,8 milhões de sírios que fugiram da violência em outras áreas do país. Eles moram em acampamentos criados inicialmente com barracas, que com o tempo foram sendo transformadas em pequenas casas, construídas com blocos de concreto e telhados de zinco. Hoje, tudo isso foi destruído. Aqueles que estavam em barracas talvez estejam felizes por se considerarem pessoas de sorte, porque escaparam do soterramento. Muitas casas sofreram rachaduras e as pessoas não se atrevem a ficar dentro de uma construção que pode desabar. Um dos meus amigos médicos, um cirurgião que está na região, disse por telefone que as pessoas ficam do lado de fora.

Mas está muito frio, neva e chove. Os Capacetes Brancos, a segurança civil, trabalham intensamente para tentar encontrar pessoas vivas ainda sob os escombros. Mas infelizmente, com o passar do tempo, e dado o frio e o risco de hipotermia, há cada vez menos chances de encontrar pessoas vivas. Em algum momento, teremos que tomar a decisão de parar de procurar nos escombros, é uma situação desastrosa.

RFI: Esta área de Idlib, controlada por grupos rebeldes e jihadistas, é agora abastecida apenas por um corredor humanitário, o de Bab al-Hawa, na fronteira com a Turquia. A abertura deste corredor foi duramente negociada com Moscou e Damasco, sob a égide da ONU, e deve ser renovada a cada seis meses. Como esta ajuda está sendo entregue atualmente?

A passagem da fronteira de Bab al-Hawa, embora ainda aberta para caminhões que abastecem a região, infelizmente está fechada para pessoas, inclusive para doentes. Com isso, não podemos evacuar os mais gravemente feridos para a Turquia, como costumava ser o caso. Os hospitais desta província estão sobrecarregados com o número de vítimas. Existem muitas "síndromes de esmagamento", ou seja, pessoas que tiveram órgãos esmagados pelo desabamento de imóveis. Esse tipo de ferimento pode provocar, entre outros problemas, insuficiência renal, uma patologia que requer diálise, de modo que o número de vítimas irá aumentar nos próximos dias.

RFI: Esta passagem de Bab al-Hawa está localizada em uma área que também foi afetada pelos terremotos.

Sim, muitas estradas foram destruídas, o que acarreta problemas para o transporte de materiais para o interior da Síria. Nesta região de Idlib, existem apenas 70 leitos de UTI, não há oxigênio nem laboratórios de análises clínicas suficientes para os pacientes. Portanto, podemos realmente temer que, nos próximos dias, o número de mortos seja muito alto.

RFI: Poderíamos imaginar a abertura de outros corredores para a entrega de ajuda humanitária?

Sim, e acredito que seja importante. Nós pedimos à comunidade internacional para obter uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, a fim de garantir a reabertura do corredor humanitário que passou por Bab al-Salam, perto de Afrin. Este trajeto, assim como outros dois, foram fechados. Restou apenas o corredor de Bab al-Hawa, cujo funcionamento deve ser renegociado a cada seis meses. O que estamos pedindo é a reabertura desses outros dois corredores humanitários. E claro, não por seis meses, mas por um ano, visto que teremos que reconstruir, que teremos que cuidar de milhões de pessoas afetadas pelo terremoto de segunda-feira (6). Há uma necessidade humanitária de reabrir estes corredores.

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