EUA e União Europeia criticam condenação de Aung San Suu Kyi a 33 anos de prisão
Os Estados Unidos e a União Europeia criticaram nesta sexta-feira (30) a condenação de Aung San Suu Kyi, antiga líder política de Mianmar, a 33 anos de prisão. A birmanesa está presa desde 2021, quando o país sofreu um golpe militar. Ela foi condenada nesta sexta pela Junta Militar que governa desde então.
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"A condenação definitiva da conselheira de Estado Aung San Suu Kyi pelo regime militar birmanês é uma afronta à Justiça e ao Estado Democrático de Direito", declarou um porta-voz do governo norte-americano. Os Estados Unidos pedem sua libertação.
Após quase dois anos de prisão, o julgamento da birmanesa pelo regime militar que governa Mianmar terminou nesta sexta-feira. Suu Kyi, de 77 anos, foi condenada a um total de 33 anos de prisão por crimes de corrupção.
Com isso, a mulher que foi o rosto da oposição birmanesa durante anos e chegou a ganhar o prêmio Nobel da Paz corre o risco de terminar sua vida em uma prisão.
A União Europeia também condenou fortemente a decisão judicial. O veredito contra a proeminente figura da oposição "conclui uma série de julgamentos puramente políticos (...) sem respeito ao devido processo judiciário", o que "constitui uma clara tentativa de excluir da vida política os líderes democraticamente eleitos", disse um porta-voz da Comissão Europeia.
O rosto de uma crise
Aung San Suu Kyi encarna a crise política de seu país. A líder foi presa em 1º de fevereiro de 2021 durante o golpe de Estado que derrubou seu governo e encerrou um breve período democrático em Mianmar.
Ela, que por longos anos foi a personalidade mais conhecida internacionalmente da oposição birmanesa, hoje está totalmente isolada, e tem como único contato com o mundo fora da prisão seus advogados.
Filha de um herói da independência birmanesa, assassinado quando ela tinha dois anos, Suu Kyi passou a primeira parte da vida no exílio: primeiro, na Índia e, depois, no Reino Unido. Em 1988, surpreendeu ao anunciar que se envolveria no destino de seu país, em plena revolta contra a Junta Militar.
"Não podia, como filha do meu pai, permanecer indiferente a tudo que acontecia", afirmou em seu primeiro discurso no país, considerado o símbolo de sua entrada na política.
A repressão de 1988 matou quase 3.000 pessoas, mas estabeleceu o nascimento do ícone. Ela virou a "depositária das esperanças de um retorno à democracia" para todo povo birmanês, sufocado pela ditadura militar desde 1962, explica Phil Robertson, representante da Human Rights Watch na Ásia.
A junta militar autorizou a formação do partido opositor LND, mas Suu Kyi foi colocada rapidamente em prisão domiciliar. De sua casa, Suu Kyi acompanhou a vitória de seu partido nas eleições de 1990, mas os militares se recusaram a reconhecer os resultados.
Nesse período, ela recebia a visita de poucas pessoas autorizadas, assim como de seus dois filhos que moravam na Inglaterra com o pai, Michael Aris, professor em Oxford. Em 1991, venceu o Prêmio Nobel da Paz, mas não pôde comparecer à cerimônia em Oslo. Teve de esperar mais de 20 anos para receber a premiação.
Após 15 anos de prisão domiciliar, Aung San Suu Kyi foi libertada em 2010. E um ano após a dissolução da Junta Militar, entrou para o Parlamento.
Drama dos rohingyas
Rapidamente, sua imagem começou a ser abalada na comunidade internacional por críticas a sua concepção autocrática do poder.
Durante os anos à frente do país, Aung San Suu Kyi se viu obrigada a lidar com os militares, muito influentes, que controlavam três Ministérios cruciais: Interior, Defesa e Fronteiras.
A imagem da Prêmio Nobel da Paz foi abalada para sempre pelo drama dos rohingyas. Quase 750.000 membros desta minoria deixaram Mianmar fugindo dos abusos do Exército e das milícias budistas em 2017 e se refugiaram em acampamentos em Bangladesh.
A tragédia levou Mianmar a ser acusada de "genocídio" na Corte Internacional de Justiça (CIJ), principal órgão judicial da ONU.
A dirigente sempre negou "qualquer intenção genocida".
(Com informações da AFP)
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