Festival de Cannes: “Monster” de Kore-eda critica a sociedade japonesa pelo olhar de garotos
O último longa-metragem do cineasta japonês estreou nessa quarta-feira (17) na competição pela Palma de Ouro do Festival de Cinema de Cannes. O drama conta a história de Minato, um pré-adolescente, órfão de pai, que começa a ter problemas de comportamento. O filme tem várias partes, revelando diferentes pontos de vistas dos personagens, que aprofundam e enriquecem a narrativa.
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O cineasta, premiado com a Palma de Ouro por “Assunto de Família”, continua com “Monster” suas crônicas realistas da sociedade japonesa. A primeira imagem do longa é o incêndio de um prédio, que mobiliza bombeiros e moradores. O incêndio vai voltar várias vezes assim como um tufão que ameaça a cidade. O início da narrativa instala um clima de suspense, e coisas cada vez mais bizarras e inexplicáveis acontecem.
A mãe de Minato superprotege o filho, que educa sozinha desde a morte do marido. Diante do comportamento cada dia mais esquisito do garoto, ela procura a escola. Um professor é apontado como responsável, mas a escola propõe como única solução desculpas. A mãe se depara com um sistema rígido que a deixa perplexa e desamparada.
“Sopre o que você não pode contar”
A segunda parte revela um outro ponto de vista dos mesmos acontecimentos, que contradiz o primeiro. Ele é narrado pelo professor que é muito mais atencioso e sútil do que mostrado anteriormente.
Por fim, descobrimos o olhar do garoto. O último ato revela a amizade escondida entre Minato e um camarada de classe, filho de um pai alcoólatra, que era vítima de bullying dos outros alunos. Uma amizade cheia de sonhos, segredos e brincadeiras, em um terreno baldio da cidade, longe dos olhares. O nascimento de sentimentos amorosos ilumina a intriga. Uma das brincadeiras das crianças, “adivinhe quem é o monstro” dá nome ao filme.
Minato acaba por assumir à diretora da escola que mentiu. A mulher confessa que ela fez o mesmo e o aconselha a tocar um instrumento de sopro. “Sopre o que você não pode contar a ninguém”.
Em entrevista ao jornalista da RFI Seigfried Forster, Kore-eda disse que seu filme “dá a impressão de ver coisas que não existem”. Ele explica que todos os personagens “buscam coisas monstruosas”, mas que, na verdade, “ninguém sabe ao certo o que busca”. “Não há nenhum mostro! Tudo se passa no lado sombrio do coração, no interior dos personagens”, revela.
Conhecido por melodramas, o cineasta japonês acredita que “esse clima de suspense e ansiedade, principalmente no início do filme, diferencia um pouco ‘Monster’ de seus outros trabalhos”.
Concorrentes do dia
Mais dois filmes, dos 21 longas da competição, entram na disputa pela Palma de Ouro nesta quinta-feira (18) terceiro dia do Festival de Cannes.
“Juventude" é o único documentário da competição oficial este ano. Ele é assinado pelo chinês Wang Bing, um dos principais documentaristas em atividade, que estreia na disputa pelo prêmio máximo de Cannes. O segundo filme do dia é "Black Flies" (Moscas negras), do francês Jean-Stéphane Sauvaire, com Sean Penn no papel principal.
Na mostra Un certain Regard, entra em cena o longa argentino “Los Delincuentes”, de Rodrigo Moreno, coproduzido pela brasileira Julia Alves. A produção conta a história de dois bancários que roubam do cofre do banco onde trabalham em Buenos Aires o valor equivalente aos salários de toda uma vida de trabalho. Um sonho que vira pesadelo, mas no final se transforma em liberdade.
Mas a grande atração do dia é a estreia mundial, fora da competição, do quinto filme da lendária saga “Indiana Jones”. O festival promete uma recepção “excepcional” para o protagonista Harrison Ford, de 80 anos, que deverá subir o tapete vermelho de chapéu e chicote na mão, acessórios característicos do personagem, e ao som da famosa trilha sonora da saga. "Indiana Jones e o chamado do Destino" é dirigido por James Mangold.
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