Coletivo de artistas publica manifesto contra presença de Johnny Depp no Festival de Cannes
O glamour e a badalação no tapete vermelho marcaram a abertura do Festival de Cannes na noite de terça-feira (16). Mas o evento também é palco de um protesto de um coletivo de artistas contra a presença do ator americano Johnny Depp.
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O longa "Jeanne du Barry", dirigido pela diretora e atriz francesa Maïwenn, abriu a 76a edição do Festival de Cannes. Depp interpreta do rei francês Luís XV no filme, que oficializa sua volta às telonas, depois de um midiático e complexo julgamento sobre violências conjugais contra sua ex-esposa Amber Heard.
O holofote para esse controverso astro de Hollywood gerou um manifesto publicado nesta quarta-feira (17) no jornal Libération. A iniciativa partiu de um coletivo de atrizes e atores e é assinada por 123 profissionais do cinema – homens e mulheres –, que denunciam "um evento que apoia agressores". Segundo os signatários, as escolhas do Festival de Cannes demonstram que a violência no setor cinematográfico "pode ocorrer sob total impunidade".
Sem citar nomes, o texto faz referência não apenas a Johnny Depp, mas à própria diretora de "Jeanne du Barry", Maïwenn. Em fevereiro, a cineasta agrediu fisicamente o jornalista Edwy Plenel, cofundador e presidente do site Mediapart, em um restaurante de Paris. O motivo da agressão teria sido uma matéria publicada pelo veículo sobre suspeitas de estupro contra o diretor Luc Besson, ex-marido de Maïwenn.
O manifesto afirma que profissionais que trabalham com cinema na França são frequentemente vítimas de agressões sexuais, assédio moral e racismo – um sistema normalizado e considerado "inerente" às suas profissões. "Estamos profundamente indignados e nos recusamos a manter o silêncio diante dos posicionamentos políticos do Festival de Cannes", diz o texto.
Os assinantes do manifesto também defendem a atriz Adèle Haenel, uma das iniciadoras do movimento #metoo no cinema francês, que anunciou o fim de sua carreira artística recentemente, devido à “indulgência generalizada” do setor a agressores sexuais. "Só podemos deplorar o fato de que esse meio seja tóxico a ponto de se querer abandoná-lo completamente", diz o manifesto.
Classificando a situação de "vergonhosa", os signatários apontam que "já passou da hora para que o cinema francês deixe de apoiar pessoas que abusam de suas posições de poder". O texto ressalta que é preciso "ouvir a voz de homens e mulheres que denunciam essas violências e jornalistas que publicam investigações" sobre a questão. Segundo o manifesto, "uma outra maneira de funcionar é possível". "Nossa voz está apenas nascendo", finalizam os assinantes.
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