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Em Portugal, Lula ressalta que "Rússia errou”, mas quem "não fala em paz, contribui para a guerra”

Ao lado do presidente português, Rebelo de Sousa, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva se esforçou neste sábado (22) para atenuar os comentários sobre a guerra na Ucrânia que provocaram uma onda de reprovações dos ocidentais nos últimos dias. Sousa, por sua vez, manteve o posicionamento português ao lado da União Europeia e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), mas destacou que as divergências com Lula "não afetam em nada” as relações entre os dois países.

Luiz Inácio Lula da Silva e Marcelo Rebelo de Sousa se reuniram neste sábado (22), em Lisboa. (22/04/2023)
Luiz Inácio Lula da Silva e Marcelo Rebelo de Sousa se reuniram neste sábado (22), em Lisboa. (22/04/2023) © Ricardo Stuckert
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Lúcia Müzell, enviada especial da RFI a Lisboa

O assunto dominou uma entrevista concedida pelos dois mandatários depois da reunião que mantiveram em Lisboa, nesta manhã. ”Faz tempo que o meu país tomou a decisão de que nós condenamos a Rússia pela ocupação e por ferir a integridade territorial da Ucrânia – isso logo nos primeiros dias”, explicou-se Lula. “Eu nunca igualei os dois países, porque eu sei o que é a integridade territorial, e todos lá achamos que a Rússia errou”, completou. "Entretanto, nós não somos favoráveis à guerra, nós queremos a paz”, ressaltou o presidente brasileiro, ao responder a jornalistas.

No entanto, ao ser questionado se mantém as declarações de que, ao entregar armas para Kiev, a Europa estaria contribuindo para continuidade do conflito, o petista respondeu: "Se você não fala de paz, você contribui para a guerra.”

Lula explicou que “conversou com [Olaf] Scholtz, com [Emmanuel] Macron, com [Joe] Biden, com Xi Jinping” sobre a proposta de promover o diálogo para encaminhar o fim do conflito ucraniano, que se arrasta há 14 meses na região do Donbass. Até agora, porém, a iniciativa do petista não suscitou maior adesão dos interlocutores internacionais.

Rússia e Ucrânia “não querem parar”

"A Rússia não quer parar e Ucrânia não quer parar. Nós vamos ter que encontrar um grupo de países que possam formular uma relação de confiança. A ideia de que a guerra para, senta na mesa e conversa, que a gente vai encontrar um resultado muito melhor”, argumentou. "É melhor encontrar uma saída em torno de uma mesa do que continuar tentando encontrar a saída do campo de batalha.”

Lula afirmou que foi nesse contexto que o Brasil se recusou a contribuir com armamentos para Kiev se defender da invasão russa, ao contrário do que têm feito diversos países europeus, entre eles Portugal. "O Brasil estaria na guerra e o Brasil não quer participar da guerra”, disse Lula, ao relembrar que o chanceler alemão solicitou a colaboração militar brasileira quando esteve em visita a Brasília, em fevereiro.

Lula também relembrou que, no seu primeiro mandato, em 2002, também rejeitou um pedido do então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, para o Brasil se associar à guerra no Iraque iniciada pelo republicano, após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.

Rebelo de Sousa destaca relações bilaterais

Ao seu lado, o presidente português buscou chamar a atenção para o histórico de aproximação que liga Lisboa e Brasília. "A posição portuguesa é diferente. Entendo que uma eventual via do caminho para a paz supõe previamente o direito da Ucrânia de poder reagir à invasão, recuperar o que puder ser recuperado – tendencialmente tudo o que puder, da sua integridade territorial, por uma questão de princípio, que é não beneficiar o infrator. Por uma posição de princípio que é ficar claro que violações de certos princípios, certos valores da ordem internacional, não são tratados de forma diversa, conforme o violador é mais ou menos poderoso”, alegou Rebelo de Sousa, que recepcionou o brasileiro no Palácio de Belém.

"Mas isso não afeta em nada a comunidade brasileira que existe em Portugal, a comunidade portuguesa que existe no Brasil, as ligações entre passado, presente e futuro com o Brasil”, complementou o líder português.

Lula reafirmou que o assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, deve ir em breve a Kiev para abordar o tema com o governo ucraniano – depois de já ter visitado Moscou, em março. A viagem ainda não tem data para acontecer. O presidente também não revelou qual será a missão de Amorim no país.

"Eu não fui à Rússia e não vou a Ucrânia. Eu só vou quando houver possibilidade de efetivamente ter um clima de construção de paz”, salientou, ao ser questionado se ele próprio poderia fazer a viagem. "A gente vai ter que convencer as pessoas que você pensa que não querem parar, parar. Nós estamos numa situação em que a guerra da Rússia e da Ucrânia não estão fazendo bem à humanidade, porque tem problema de energia, de fertilizantes, de comida. E está fazendo mal também até no Brasil. Eu quero é construir uma forma de colocar os dois na mesa”, frisou.

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