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Pregando união de forças políticas, governador gaúcho recebe Lula e fala em plano Marshall para o RS

Com quatro estações de tratamento de água paralisadas, abastecimento é incerto nos próximos dias em bairros da grande Porto Alegre. Sem estradas nem pontes, que foram destruídas pela força da água, famílias ainda aguardam resgate em regiões de mais difícil acesso.

Morador de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, é resgatado durante evacuação do seu bairro.
Morador de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, é resgatado durante evacuação do seu bairro. AP - Carlos Macedo
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Raquel Miura, correspondente da RFI Brasil em Brasília, e AFP

A previsão do tempo aponta mais um dia com chuva forte no Rio Grande do Sul neste domingo (5), mas com menos intensidade do que o nível registrado nos últimos dias e por tempo mais curto. Ventos carregados, no entanto, podem elevar novamente a força das precipitações a partir de segunda-feira (6).

Prova de que a fase de resgate ainda levará tempo é a chegada a Porto Alegre, a todo momento, de botes com pessoas que estavam ilhadas em bairros mais distantes e comunidades vizinhas, sem comunicação e sem comida. Muitos descrevem que viram corpos boiando pelo trajeto.

“A minha casa tinha mais de 100 anos. Era do meu bisavô, do meu avô, do meu pai e agora, minha. Eu nasci lá. Era o que eu tinha de mais sagrado”, conta o aposentado Érico Rohsig, de 74 anos. Ele já havia tido parte da casa inundada no município de Colinas nas enchentes de setembro de 2023. Agora, perdeu tudo.

“O meu passado estava lá. Eu não tenho nem palavras para descrever. Não posso culpar ninguém. Os próprios culpados somos nós, os seres humanos. Esse aquecimento que existe na Terra, somos nós”, disse Rohsig à RFI, por telefone.

Governos pregam união

A tragédia gaúcha atinge cerca de 320 cidades no estado. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará uma segunda visita à região neste domingo, acompanhado de ministros e desta vez também dos presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco.

Se no começo era perceptível nas redes sociais a rivalidade entre petistas e tucanos, agora, diante de uma crise que salta aos olhos e da ajuda que o estado vai precisar para a reconstrução, os discursos são convergentes.

Vista aérea mostra centro de Porto Alegre inundado. Cheia do Guaíba ultrapassou recorde histórico.
Vista aérea mostra centro de Porto Alegre inundado. Cheia do Guaíba ultrapassou recorde histórico. AP - Carlos Macedo

“Todos nós temos que estar à altura do que a história nos exige neste momento, como lideranças públicas. E é isso que eu sinto nessa disposição de todas as partes. A vinda do presidente Lula amanhã vai ser muito bem-vinda. Mais uma vez para que ele, o presidente da Câmara, o presidente do Senado, que já manifestaram estarem conosco, possam ver in loco o que está acontecendo e entender que a gente vai precisar de medidas absurdamente excepcionais”, afirmou o governador Eduardo Leite (PSDB).

 

“O Rio Grande do Sul vai precisar de uma espécie de um plano Marshall de reconstrução, aquele da reconstrução da Europa do pós-guerra. A gente vai precisar de um plano Marshall para o estado”, reforçou o chefe do Executivo estadual.

Os ministros do Desenvolvimento, Waldez Góes, e da Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta, que é gaúcho, vão permanecer na região nos próximos dias para acompanhar o trabalho de resgate e ajudar na formatação de políticas de ajuda ao Rio Grande do Sul.

Mortos, desaparecidos e desabrigados

Até o momento, mais de 80 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas e cerca de 60 morreram. Pelo menos 74 estão desaparecidas em meio às inundações sem precedentes na região. As enchentes e os deslizamentos de terra mantêm diversas estradas bloqueadas no Rio Grande do Sul, muitas delas em localidades isoladas.

Mais de um milhão de lares estão sem água e os danos nas infraestruturas são, por enquanto, incalculáveis, segundo a Defesa Civil.

Porto Alegre, com uma população de quase 1,4 milhão, e especialmente sua região metropolitana, foram muito afetadas. Segundo a prefeitura, o nível do rio Guaíba, que corta a cidade, atingiu 5,09 metros, acima do recorde de 4,76 metros registrado durante as históricas inundações de 1941.

No meio das operações de resgate, uma forte explosão em um posto de gasolina deixou dois mortos no norte da cidade, constatou um jornalista da AFP presente no momento da explosão. O incidente ocorreu quando veículos envolvidos nos resgates estavam abastecendo no posto de gasolina inundado, de onde saiu uma espessa nuvem de fumaça, visível de longe.

Em muitos lugares, formaram-se longas filas para tentar pegar um ônibus, enquanto os motoristas de carros tentavam abrir caminho em meio às ruas alagadas. A situação também obrigou ao fechamento da estação rodoviária da cidade, localizada às margens do Guaíba. O aeroporto internacional de Porto Alegre suspendeu suas operações na sexta-feira por tempo indeterminado.

Racionamento de água em Porto Alegre

O governador Leite disse em transmissão ao vivo no Instagram neste sábado que esta é uma situação "dramática" e "absolutamente sem precedentes". Em coletiva de imprensa ao lado de ministro do governo, que viajaram a Porto Alegre para cooperar, o governador disse temer que o abastecimento e a cadeia de produção da região sejam comprometidos.

O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB-RS), pediu para a população racionar água, depois que quatro das seis plantas de tratamento da cidade tiveram que ser fechadas.

As chuvas atingem também o estado de Santa Catarina, onde foi registrada na sexta-feira a morte de um homem quando seu carro foi arrastado pela correnteza no município de Ipira.

A "combinação desastrosa" da mudança climática com o fenômeno meteorológico El Niño favoreceram as precipitações, explicou à AFP o climatologista Francisco Eliseu Aquino, chefe do departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O estado do Rio Grande do Sul sofreu vários eventos climáticos extremos no ano passado. O mais grave, a passagem de um ciclone em setembro, deixou mais de 30 mortos.

Colaborou Lúcia Müzell

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