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Diplomacia

Reconciliação entre Estados Unidos e Cuba será longa e complexa, preveem especialistas

Estados Unidos e Cuba formalizam nesta segunda-feira (20) o restabelecimento de suas relações diplomáticas com a reabertura das embaixadas de Washington e Havana, depois de mais de meio século de ruptura. Esse é o primeiro passo concreto desde que os dois países anunciaram o descongelamento das relações, em dezembro do ano passado. Mas, muitos especialistas adiantam que a reconciliação entre as duas nações não será um processo simples.

O presidente cubano, Raúl Castro, e o presidente norte-americano, Barack Obama, durante encontro bilateral em 11 de abril de 2015.
O presidente cubano, Raúl Castro, e o presidente norte-americano, Barack Obama, durante encontro bilateral em 11 de abril de 2015. Jonathan Ernst/Reuters
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Pela primeira vez desde 1961, quando os países romperam relações, a bandeira cubana será hasteada em uma representação oficial do país nos Estados Unidos nesta segunda-feira. O ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodriguez, vai presidir uma cerimônia, na qual inaugurará uma placa com o novo estatuto da representação e a participação de cerca de 500 pessoas em Washington.

Rodriguez será o primeiro chanceler cubano em Washington desde 1959. Depois da cerimônia, ele se reunirá com o secretário de Estado americano, John Kerry. Enquanto isso, em Havana, o edifício que abriga a delegação dos Estados Unidos não tem eventos oficiais planejados até o momento.

Complexidade da política interior

Teoricamente, esse 20 de julho ficará marcado como o último capítulo da "Guerra Fria das Américas". Mas, na prática, o processo deve ser longo e complicado, especialmente devido à complexidade da política interior norte-americana. É o que garantem especialistas na questão.

"É importante entender que as autoridades cubanas e as autoridades norte-americanas são muito favoráveis aos avanços no processo de reaproximação entre os dois países. Mas a normalização das relações entre as duas nações será um processo longo e complicado, por uma razão simples: há uma maioria republicana no Congresso americano", ressaltou em entrevista à RFI Stéphane Witkwoski, presidente do Conselho de Gestão do Instituto de Altos Estudos da América Latina na França (Iheal). Ele sublinha, no entanto, a importância política da reconciliação.

Já para o especialista em Cuba do Instituto Brookings, Ted Piccone, a reaproximação é resultado do "novo espírito pragmático que molda o ambiente" entre os dois países. "Há aspectos comuns entre os dois lados, mas também existem profundas diferenças. Desta forma, construir a confiança será a chave para o progresso", analisa especialista, que acredita que Cuba e Estados Unidos precisam tentar agilizar a reconciliação para "aproveitar da abertura".

Fim de sanções x realidades do século XXI

A aproximação representa o abandono da política de sanções praticada há décadas por Washington, e o reconhecimento de Havana das realidades econômicas do século XXI. Mas a agenda bilateral é ampla: aviação civil, meio ambiente, luta contra o tráfico de droga, bem como o interesse dos educadores e empresários para aumentar o intercâmbio.

O próprio presidente cubano, Raúl Castro, declarou, na semana passada, que as duas nações passarão por uma etapa "longa e complexa". "No caminho para a normalização das relações, necessitaremos de vontade para encontrar soluções aos problemas que se acumularam ao longo de cinco décadas e que afetaram os laços entre nossos países e povos", disse.

Segundo Piccone, Washington procura se aproximar de Cuba para fomentar o desenvolvimento dos cidadãos cubanos, enquanto Havana necessita "do motor econômico" dos Estados Unidos para "atualizar o modelo socialista sem precisar realizar reformas políticas".

Ambiente restritivo, mas prático

A alteração do estatuto diplomático terá efeitos práticos rapidamente. A embaixada dos Estados Unidos em Havana funcionará em um ambiente restritivo, mas a reabertura já é um grande progresso, ressaltou a subsecretária de Estado para a América Latina, Roberta Jacobson.

Algo impensável há 10 meses: diplomatas americanos, assim como os seus homólogos cubanos em Washington, terão liberdade para circular em toda a ilha e se reunir com diversos setores da sociedade, sem a necessidade de autorização do governo.

O processo também deve resultar no restabelecimento da confiança entre os empresários americanos, que já não se sentirão "em território estrangeiro" ao tentar fazer negócios na ilha proibida, segundo Pedro Freyre, assessor jurídico para as empresas americanas em Cuba.

Aumento de viagens

A alteração do estatuto diplomático deverá gerar um aumento de pessoal nas duas capitais para atender uma agenda bilateral mais complexa, bem como o aumento das viagens e do comércio, que já estão em andamento.

A companhia aérea americana JetBlue anunciou começará a oferecer trajetos entre Nova York e Havana, enquanto a plataforma comunitária de alojamentos privados Airbnb adicionou Cuba ao seu catálogo. Os Estados Unidos também começaram a emitir licenças para empresas que operam serviços de ferry de passageiros para a ilha, a 150 quilômetros da costa norte-americana.

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