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Nicarágua: Pela primeira vez, Fundo Verde do Clima, da ONU, cancela projeto de proteção de florestas

Pela primeira vez, o Fundo Verde do Clima, sob a chancela das Nações Unidas, cancelou na Nicarágua o financiamento de um projeto para a proteção de florestas. A razão é uma escalada de violações dos direitos humanos na região e uma ameaça direta aos povos indígenas que vivem nos locais beneficiados pela verba. A decisão pode abrir precedentes para o resto do mundo.

Foto aérea de 16 de setembro de 2015 mostra desmate ilegal em Murubila, Nicarágua.
Foto aérea de 16 de setembro de 2015 mostra desmate ilegal em Murubila, Nicarágua. AP - Esteban Felix
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O financiamento, de US$ 64 milhões, era destinado a um programa do governo da Nicarágua para proteger duas reservas florestais, listadas junto à Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura), nos extremos norte e sul do país: em Bosawas, região do Caribe no norte, e em Indio Maíz, reserva natural na região do rio San Juan, no sul.

No papel, o projeto é relevante para o Fundo Verde do Clima, cujo objetivo é apoiar exatamente este tipo de iniciativa. Entretanto, muito rapidamente, o projeto foi alvo de oposição por parte de habitantes locais.

A maior parte do programa concentrou-se em áreas já desmatadas, ocupadas por grileiros que atacam, com frequência com violência, inclusive assassinatos, as comunidades indígenas já presentes nas regiões.

Primeira suspensão em julho de 2023

Como o dinheiro e a gestão do programa eram gerenciados pelas autoridades da Nicarágua, houve o temor de que este projeto agravasse ainda mais a situação – uma vez que o governo jamais foi eficaz para controlar a situação e fazer cumprir os direitos dos indígenas.

Este receio foi transmitido ao Fundo Verde que, três anos após o alerta, optou por deixar de fornecer o seu apoio e os seus milhões de dólares ao projeto. Uma primeira suspensão dos recursos havia sido determinada em julho, em advertência.

O valor, estimado em um total de US$ 115,7 milhões, visava reduzir em 47,3 milhões de toneladas os gases com efeito de estufa gerados pela degradação florestal. Em resposta, a Nicarágua reclamou, nesta sexta-feira (8), do cancelamento do financiamento.

Governo critica práticas “antiéticas”

“O governo da Nicarágua repudia e rejeita a decisão do secretariado do Fundo Verde para o Clima que, através de processos e procedimentos pouco transparentes e antiéticos, cancelou o financiamento do projeto BIOCLIMA”, indica um comunicado publicado na imprensa oficial.

“Pedimos, exigimos, que o Fundo Verde para o Clima garanta a mobilização dos recursos comprometidos pela comunidade internacional e que foram retirados dos povos indígenas e afrodescendentes da nossa Nicarágua”, acrescentou o governo do presidente Daniel Ortega.

Esta é a primeira vez que tal decisão é tomada desde a criação do mecanismo, em 2010. A medida poderia abrir um precedente para melhor conciliar os projetos ambientais e o respeito pelos direitos das comunidades – muitas vezes esquecidos nos programas de restauração da natureza.

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