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Haiti: em meio à violência generalizada, líder de gangue ameaça com "guerra civil"

Ele é conhecido pela alcunha de "Barbecue" (churrasco em inglês). O poderoso líder de uma das gangues que assolam o Haiti ameaçou, na terça-feira (5), iniciar uma "guerra civil" se o primeiro-ministro Ariel Henry continuar no poder no pequeno país caribenho, que enfrenta uma explosão de violência. O canal de notícias dominicano CDN informou que Henry tentou viajar nesta quarta-feira (6) para a República Dominicana em um voo procedente de Nova Jersey,

O líder de gangue Jimmy Cherizier, conhecido como "Barbecue" rodeado por seus homens em Porto Príncipe, Haiti, 5 de março de 2024.
O líder de gangue Jimmy Cherizier, conhecido como "Barbecue" rodeado por seus homens em Porto Príncipe, Haiti, 5 de março de 2024. AFP - CLARENS SIFFROY
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As autoridades do país que compartilha a Ilha de Santo Domingo com o Haiti negaram permissão para que Henry aterrissasse em seu território. Por esse motivo, o premiê voou para Porto Rico, segundo pôde confirmar o canal dominicano.

O polêmico chefe de governo haitiano estava em paradeiro desconhecido havia vários dias. Um porta-voz do governo porto-riquenho disse não saber se Henry permanecia na ilha. O premiê não retornou ao Haiti desde que viajou para o Quênia, na semana passada, onde firmou um acordo para o envio de tropas internacionais ao seu país, no contexto de uma missão apoiada por Washington e a ONU.

"Se Ariel Henry não renunciar, se a comunidade internacional continuar apoiando seu governo, seguimos no caminho de uma guerra civil que levará ao genocídio", declarou Jimmy Cherizier, nome do ex-policial conhecido como "Barbecue", durante uma entrevista à imprensa.

Desde quinta-feira (29), grupos armados que controlam amplas áreas do Haiti, incluindo a capital Porto Príncipe, vêm promovendo ataques contra locais estratégicos do país, com o objetivo de derrubar Henry. No poder desde o assassinato do presidente haitiano Jovenel Moïse, em julho de 2021, Ariel Henry deveria ter deixado o cargo no início de fevereiro, mas resiste a convocar eleições.

"Devemos nos unir. Ou o Haiti vira um paraíso para todos, ou um inferno para todos", acrescentou Barbecue, de 46 anos, que lidera uma coalizão de gangues conhecida como G9 e que é alvo de sanções da ONU. "Não é um pequeno grupo de ricos que vivem em grandes hotéis que decide o destino dos moradores dos bairros populares", acrescentou ele.

 

People run outside a convenience store that is being looted during a protest to demand the resignation of Haiti's Prime Minister Ariel Henry, in Port-au-Prince, Haiti, February 6, 2024.
Pessoas correm do lado de fora de uma loja de conveniência que está sendo saqueada, durante um protesto para exigir a renúncia do primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, em Porto Príncipe, Haiti, em 6 de fevereiro de 2024. REUTERS - RALPH TEDY EROL

Violência continua nas ruas

Depois de um fim de semana particularmente violento com ataques a dois presídios, na terça-feira, as gangues haitianas atacaram uma academia de polícia da capital, Porto Príncipe, mas foram repelidas pelas forças de segurança, após a chegada de reforços, informou Lionel Lazarre, dirigente do sindicato policial Synapoha.

Este último episódio de violência ocorre após a retirada de milhares de residentes da cidade, enquanto Washington e as Nações Unidas reiteram suas preocupações com a crise no pequeno país insular.

Algumas atividades cotidianas, como transporte e comércio, começavam a voltar ao normal em Porto Príncipe, depois que as gangues libertaram milhares de presos de duas penitenciárias, deixando uma dúzia de mortos. Os criminosos também tentaram tomar o aeroporto internacional.

A polícia e o Exército repeliram o ataque contra o terminal aéreo internacional Toussaint Louverture por parte das organizações armadas. Mas os distúrbios em torno das instalações levaram as companhias aéreas internacionais a cancelar todos os voos para a capital haitiana.

As autoridades da República Dominicana fecharam hoje o espaço aéreo com o Haiti. Em razão dessa medida, cerca de 250 cubanos que viajaram ao Haiti para fazer compras estão presos em Porto Príncipe, indicou à AFP a companhia Sunrise Airways.

Humanitários em ação

A nova escalada de violência levou cerca de 15 mil pessoas a abandonarem suas casas em Porto Príncipe, declarou nesta quarta-feira o porta-voz das Nações Unidas, Stéphane Dujarric, acrescentando que trabalhadores humanitários começaram a distribuir alimentos e outros itens essenciais em três novos centros para refugiados.

No domingo (3), o governo do Haiti decretou estado de emergência em Porto Príncipe "por um período renovável de 72 horas" e um toque de recolher entre 18h e 5h locais na segunda, terça e quarta-feiras.

Considerado o país mais pobre do continente americano, o Haiti enfrenta uma grave crise política, humanitária e de segurança desde o assassinato de Moïse.

Segundo a ONU, 8.400 pessoas foram vítimas da violência das quadrilhas no ano passado, incluindo mortos, feridos e sequestrados, "um aumento de 122% em relação a 2022".

(Com AFP)

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