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Chile se despede de Sebastian Piñera; ex-presidente deixa ‘vácuo de liderança’ na direita

Ainda chocado com a notícia da morte do ex-presidente Sebastián Piñera, o Chile se despede do líder de uma direita que marcou o distanciamento com a ditadura militar chilena e defendeu causas progressistas – mas não foi poupado de duras críticas de seus opositores. Ex-presidentes e políticos, da esquerda e da direita, familiares e eleitores se despedem nesta sexta-feira (9) de Piñera, que morreu na terça-feira enquanto pilotava o seu helicóptero no sul do país.

Caixão de Sebastian Piñera recebe homenagens no Congresso. (09/02/2024)
Caixão de Sebastian Piñera recebe homenagens no Congresso. (09/02/2024) REUTERS - PABLO SANHUEZA
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Leticia Fuentes, da redação em espanhol da RFI, com AFP

Todo o gabinete do presidente de esquerda Gabriel Boric, assim como a viúva de Piñera, Cecilia Morel, e seus quatro filhos, chegaram à sede do antigo Congresso, no centro de Santiago, para uma cerimônia no último dos três dias de luto decretados pelo governo.

Os ex-presidentes democrata-cristão Eduardo Frei (1994-2000) e socialista Michelle Bachelet (2006-10; 2014-18) devem discursar durante a homenagem. O ex-presidente socialista Ricardo Lagos (2000-2006) não comparecerá, após ter se retirado da vida pública.

"Ainda não posso fazer muitas reflexões porque o impacto é muito forte (...) mas tem sido muito emocionante ver todas as pessoas de todos os lugares do Chile", disse Cecilia Morel. "Agradeço também ao governo, ao presidente Boric, que nos recebeu com muito carinho e organizou este funeral de Estado", destacou.

Piñera pilotava seu helicóptero com três pessoas, incluindo sua irmã, que saíram ilesas. O empresário era, aos 74 anos, um dos homens mais ricos do país.

Morte 'chocante' encerra perspectiva de volta à presidência

As palavras de Morel apaziguam um momento em que líderes de direita criticaram a "oposição dura e injusta" que o agora presidente Boric e membros do seu governo encarnaram quando lideraram a oposição a Piñera, durante a crise social de outubro de 2019, e depois na pandemia que abalou a economia do país.

"Sua morte é muito chocante, ele ainda tinha todo o potencial para ser presidente novamente depois deste período que os chilenos estão testando com a esquerda", disse à AFP Nancy Garrido, administradora de 45 anos, segurando uma foto com a imagem presidencial de Piñera, como milhares de outras pessoas que fizeram fila para o funeral público desde quarta-feira.

Mulher segura foto de Sebastian Piñera, morto em acidente de helicóptero na última terça-feira, 6 de fevereiro. (08/02/2024)
Mulher segura foto de Sebastian Piñera, morto em acidente de helicóptero na última terça-feira, 6 de fevereiro. (08/02/2024) REUTERS - PABLO SANHUEZA

Até os seus últimos dias, Sebastián Piñera foi uma figura política proeminente na América Latina. “Seu principal legado político é primeiro levar, dar identidade própria à direita, à centro-direita de base liberal, fazer distinção com o que foi o governo da ditadura militar. Ele se distancia de tudo isso", disse Guillermo Holzmann, analista político e acadêmico da Universidade Valparaíso do Chile, em entrevista à RFI em espanhol.

O seu primeiro mandato foi marcado por ser o primeiro presidente de direita do Chile desde o regresso à democracia em 1990. Em sua carreira política, ele promoveu Lei de Identidade de Gênero e a Lei do Casamento Igualitário. Depois de dois mandatos, muitos já o viam como o próximo candidato às eleições presidenciais de 2025.

“Estando em boas condições físicas e intelectuais, provavelmente teria vencido. O vazio que Piñera deixa agora no centro-direita é importante. É um vácuo de liderança”, enfatiza Holzmann.

Carreira marcada por avanços e manchada por escândalos

A cientista política ressalta que Piñera chegou a votar 'Não' no plebiscito de 1988, que definiu que o general Augusto Pinochet não poderia mais continuar no poder. ”Ou seja, politicamente, ele tinha uma posição clara em defesa da democracia e de estar numa agenda claramente internacional de proteção ambiental, inclusão de diversidades sexuais, proteção às mulheres, expansão dos direitos dos cidadãos”, salientou.

O ex-presidente teve uma carreira política de luzes, mas também de sombras. Enfrentou vários distúrbios sociais, pelos quais foi acusado por organismos internacionais de violação dos direitos humanos, e também graves casos de corrupção devido ao uso de informações privilegiadas e financiamento irregular. Os casos Bancard, Penta e Cascadas originaram acusações das quais foi absolvido.

Aqueles que o conheceram o descreveram com carinho como “atrevido”, um “cara esperto” que adorava voar de helicóptero pelo Lago Ranco. Paradoxalmente, foi a sua paixão que lhe roubou as asas.

Com informações da AFP

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