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Peru terá semana decisiva para reduzir protestos; família de Castillo obtém asilo no México

As autoridades peruanas iniciam a semana com a expectativa de que os violentos protestos ocorridos no país, após a destituição do presidente Pedro Castillo, sejam reduzidos nos próximos dias. A sucessora Dina Boluarte anunciou no domingo (18) que fará uma reforma ministerial e prometeu investigar as mortes de manifestantes. A família de Castillo teria obtido asilo no México, segundo Boluarte.

Manifestantes levantam as mãos para o alto quando percebem que soldados caminham armados na direção deles, em Ayacucho, onde nove pessoas morreram na repressão militar.
Manifestantes levantam as mãos para o alto quando percebem que soldados caminham armados na direção deles, em Ayacucho, onde nove pessoas morreram na repressão militar. REUTERS - STRINGER
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No fim de semana, o papa Francisco pediu diálogo entre os peruanos para solucionar a crise política e social, enquanto o governo dos Estados Unidos defendeu reformas para proteger a democracia. 

"As medidas que tomamos estão funcionando, ou seja, as estradas estão sendo recuperadas, os aeroportos estão sendo reabilitados e a violência dos manifestantes nas ruas também está diminuindo", disse o primeiro-ministro peruano, Pedro Angulo, ao canal estatal TV Peru. 

Os protestos – mais intensos no sul andino, região atingida pela pobreza, desigualdade e com reivindicações sociais adiadas – exigem a libertação de Castillo, preso e investigado por rebelião, após sua fracassada tentativa de autogolpe. Os manifestantes também reivindicam a renúncia de sua sucessora, Dina Boluarte, o fechamento do Parlamento e eleições gerais imediatas.

Boluarte já anunciou que seguirá "firme" no cargo e exigiu que o Congresso acelere a aprovação de uma antecipação das eleições gerais, uma reivindicação apoiada por 83% dos cidadãos e que poderia atenuar a crise. O Parlamento deve votar novamente nesta terça-feira (20), o projeto para adiantar as eleições de 2026 para 2023. A proposta não conseguiu os votos necessários na semana passada.

O conflito acontece porque um setor do Congresso, sobretudo o que apoia Castillo, quer incluir a convocação de uma Assembleia Constituinte para redigir uma nova Carta Magna que substitua a de 1993, uma possibilidade que não tem consenso.

Boluarte, há 11 dias no cargo, anunciou na noite de domingo (18), durante uma entrevista para o programa Cuarto Poder, que haverá mudanças em seu gabinete a partir de terça-feira, a começar pelo primeiro-ministro. Ela afirmou que dará preferência a nomes com mais experiência política do que técnica para enfrentar melhor a crise.

Sobre o asilo concedido pelo México à família Castillo, Boluarte foi evasiva. Disse que a medida inclui a esposa e os filhos do líder destituído, mas não informou se a família já deixou o país.

A família do ex-presidente é formada por sua mulher, os dois filhos e a irmã mais nova da esposa, que também foi criada como filha do casal. Boluarte disse que não tem mais detalhes e falou, de forma geral, sobre um asilo concedido à ex-primeira-dama e aos filhos dela.

Lilia Paredes, esposa de Castillo, é investigada pelo Ministério Público peruano como possível coordenadora de uma suposta organização criminosa que envolveria o marido. Boluarte explicou que a investigação não impediria a concessão de asilo.

Vinte mortes

As manifestações no Peru começaram depois que Castillo, um professor de esquerda da área rural do país e de origem modesta, foi destituído pelo Congresso.

Em 7 de dezembro, antes de ser submetido a um novo julgamento político que levaria ao seu impeachment, ele tentou fechar o Parlamento, intervir nos poderes públicos e governar por decreto. Castillo justificou a decisão alegando uma constante obstrução do Congresso que o impedia de governar. Ele também afirmou que era tratado com racismo, mas não conseguiu apoio institucional para sua manobra. Castillo foi detido quando tentava chegar à embaixada mexicana para pedir asilo. A Justiça peruana determinou a prisão preventiva do ex-dirigente até junho de 2024, para uma investigação por rebelião.

A repressão das manifestações provocou 20 mortes, segundo o boletim mais recente da Defensoria do Povo. Também foram registrados 646 feridos (356 civis e 290 policiais) em confrontos entre manifestantes e as forças de segurança. No domingo (19), ainda foram registrados alguns conflitos entre manifestantes e policiais no noroeste do país.

"Instamos às instituições democráticas do Peru que realizem as reformas necessárias durante este período difícil", disse o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, no Twitter neste domingo, sobre uma conversa que teve com Boluarte na sexta-feira (16). Blinken afirmou que Washington continuará apoiando a Presidência peruana.

No Vaticano, em sua tradicional celebração dominical, o papa Francisco rezou pelo Peru para que "a violência cesse" e "se percorra o caminho do diálogo para superar a crise política e social".

Investigações

No domingo, representantes da Defensoria peruana se coordenaram em Aguaytia e Ucayali (noroeste, selva peruana) com autoridades para promover o diálogo com os manifestantes. Nessa área, os confrontos deixaram cinco civis e seis policiais feridos.

Em algumas localidades, como em Ayacucho (sul), as mortes da última sexta-feira foram resultado de confrontos com militares, autorizados a controlar a segurança interna no âmbito do estado de emergência. Na ocasião, a Defensoria solicitou investigação criminal, devido a denúncias de que soldados teriam atirado no corpo dos manifestantes. Entre as vítimas, havia menores.

A presidente Boluarte disse que "embora o Ministério Público tenha atuado", ela também conversou com o comandante das Forças Armadas para que esses casos sejam investigados na jurisdição militar.

Familiares de alguns dos que morreram em Ayacucho carregaram no sábado seus caixões em uma praça em procissão, com pedidos de punição aos responsáveis pela violência.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos declarou no domingo que "reconhece a abertura para a construção de canais de diálogo como forma de abordar o conflito social" e anunciou uma visita de dois dias ao Peru, na terça e quarta-feira.

"Bom caminho"

As manifestações produziram no início da semana passada o bloqueio de uma centena de vias públicas e vários aeroportos, em alguns casos com danos por vandalismo. No entanto, desde sexta-feira, estes locais foram desbloqueados após a intervenção de policiais e militares.

"Acredito que estamos em um bom caminho, como já apontou a presidente, as medidas que foram tomadas estão ajudando a diminuir o conflito", observou o ministro da Economia, Alex Contreras, entrevistado pela Radio RPP. Ele explicou que vários ministros viajaram para as zonas de conflito "para promover o diálogo e chegar a consensos".

A ministra dos Transportes, Paola Lazarte, disse que as operações aeroportuárias serão retomadas nesta segunda-feira em Juliaca (sudeste) e na terça-feira em Ayacucho. Na sexta-feira, o aeroporto de Cusco retomou as atividades. O mesmo deve acontecer durante a semana em Arequipa (sul).

A cidadela inca de Machu Picchu, em Cusco, de onde foram retirados no sábado 200 turistas que ficaram bloqueados devido aos distúrbios nas estradas, permanecia fechada "até segunda ordem", informou o Ministério da Cultura.

Com informações da AFP

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