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Última geleira da Venezuela derrete e país é o primeiro a perder todos os seus glaciares

Tudo indica que o país é o primeiro a ter perdido todas as suas geleiras nos tempos modernos. Apesar dos esforços, a geleira Humboldt, também conhecida como La Corona, se tornou um campo de gelo, como classificaram os cientistas. Ela teria derretido mais rápido que o esperado.

Foto tirada em outubro de 2023 mostra vista do Parque Nacional Serra Nevada de Mérida, na Cordilheira dos Andes, na Venezuela.
Foto tirada em outubro de 2023 mostra vista do Parque Nacional Serra Nevada de Mérida, na Cordilheira dos Andes, na Venezuela. AFP - SUSANA RODRIGUEZ
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A Venezuela abrigou seis glaciares na cordilheira da Serra Nevada de Mérida, que fica a cerca de cinco mil metros acima do nível do mar. Cinco das geleiras haviam desaparecido até 2011, restando apenas o glaciar Humboldt, perto da segunda montanha mais alta do país, o Pico Humboldt.

De acordo com o jornal inglês The Guardian, os cientistas acreditavam que a geleira duraria pelo menos mais uma década, mas durante alguns anos eles não conseguiram monitorar o local devido à turbulência política no país. Agora ficou constatado que o glaciar derreteu muito mais rápido do que o que havia sido projetado e encolheu para uma área de menos de dois hectares. Como resultado, sua classificação foi rebaixada de geleira para campo de gelo.

O climatologista e historiador do tempo Maximiliano Herrera, ouvido pela publicação, destacou que outros países perderam as suas geleiras no fim da era glacial, mas que “a Venezuela é o primeiro a perdê-las nos tempos modernos”. Ele alerta ainda que a Indonésia, o México e a Eslovênia podem ser os próximos, devido aos recordes de calor registrados recentemente.

El Niño

De acordo com especialistas, o fenômeno climático El Niño, que provoca temperaturas mais quentes, pode acelerar o desaparecimento dos glaciares tropicais.

“Na região andina da Venezuela, houve alguns meses com anormalidades mensais de +3ºC/+4ºC acima da média de 1991 a 2020, o que é excepcional nessas latitudes tropicais”, disse Herrera.

Já o ecologista Luis Daniel Llambi, também ouvido pelo jornal, disse que a Venezuela é um espelho do que continuará acontecendo de norte a sul na América Latina, primeiro na Colômbia e no Equador, depois no Peru e na Bolívia, à medida que as geleiras continuam a derreter nos Andes.

“Este é um registro extremamente triste para o nosso país, mas também um momento único na nossa história, proporcionando uma oportunidade não só de mostrar a realidade e o imediatismo dos impactos das alterações climáticas, mas também para estudar a colonização da vida sob condições extremas e as modificações que as mudanças climáticas trazem aos ecossistemas das montanhas.”

Manta térmica

Numa última tentativa de salvar a geleira, o governo venezuelano instalou uma manta térmica para evitar mais derretimento, mas os especialistas dizem que este foi um exercício inútil.

“A perda de La Corona marca a perda de muito mais do que o próprio gelo, mas também de muitos serviços dos ecossistemas que as geleiras fornecem, desde habitats microbianos únicos até ambientes de valor cultural significativo”, disse Caroline Clason, glaciologista e professora assistente na Universidade de Durham, ao The Guardian.

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