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Revolta toma conta de haitianos desesperados com a fome e o fim de subsídios aos combustíveis

Os protestos desencadeados pela decisão do governo haitiano de suspender os subsídios aos combustíveis se espalham pela ilha e estão cada vez mais violentos. Na região norte, em Gonaives, a 150 quilômetros da capital, Porto Príncipe, depósitos onde a ONU e a organização católica Caritas estocam alimentos foram saqueados por moradores revoltados com a miséria e o caos no país.

Manifestações paralisam Haiti após suspensão de subsídios a combustíveis.
Manifestações paralisam Haiti após suspensão de subsídios a combustíveis. REUTERS - RALPH TEDY EROL
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Ronel Paul, correspondente da RFI no Haiti

Uma multidão invadiu as instalações do Programa Mundial de Alimentos (PMA) de Gonaives na quinta-feira (15). Centenas de manifestantes deixaram o local levando sacos de arroz nas costas e litros de óleo nos braços. Um homem que participou do saque disse à reportagem da RFI que não tinha o costume de fazer esse tipo de ação. "Mas compreendo o desespero diante da quantidade de alimentos guardada aqui, enquanto o povo está passando fome. Desta vez, vou até o fim", afirmou o haitiano. 

Policiais tentaram acalmar a multidão lançando bombas de gás lacrimogêneo, mas a repressão foi em vão. Parte do edifício do PMA pegou fogo, mas nem a intensidade das chamas conseguiu deter a revolta dos manifestantes. Em meio à fumaça, algumas pessoas saíram do local carregando aparelhos de TV, baterias e painéis solares. Gonaives tem 4 mil habitantes e não tem até hoje uma unidade do Corpo de Bombeiros. 

Em meio ao tumulto, um jovem parou para falar com a reportagem e enviou uma mensagem ao primeiro-ministro Ariel Henry

"Você não tem poder porque não foi eleito. Você está se sentindo confortável como se fosse o presidente. Você não é um presidente. O povo está com fome. Mesmo esses policiais que estão aqui também estão com fome. É por isso que eles não estão atirando em nós. Eu mesmo sou um segurança e estou passando fome", disse ele.

Saques aconteceram em várias cidades da ilha. Além das instalações da organização católica Caristas e do PMA, os manifestantes também vandalizaram empresas privadas. 

Os protestos se intensificaram na quarta-feira (14), quando o governo formalizou a suspensão dos subsídios ao diesel e ao combustível doméstico, ao mesmo tempo em que reduziu os da gasolina. Os preços do diesel e do querosene passarão de cerca de 350 gourdes (moeda haitiana, cerca de US$ 3) para cerca de 670 gourdes (cerca de US$ 5,70).

Escassez de gasolina e eletricidade

Neste verão, uma dupla escassez de gasolina e energia elétrica já havia paralisado várias cidades. Diante desta escassez, os haitianos são obrigados a recorrer ao mercado paralelo, onde a gasolina e o diesel estão facilmente disponíveis, mas a preços seis vezes superiores ao estabelecido pelo governo.

O Haiti atravessa uma profunda crise econômica e política há vários anos. Considerado um dos mais pobres do mundo, o país do Caribe nunca conseguiu se recuperar do grave terremoto ocorrido em janeiro de 2010, apesar da ajuda internacional que recebeu. Desde então, gangues de criminosos têm ampliado cada vez mais o seu domínio em todo o território, controlando estradas e impondo terror à população, sem que as autoridades consigam reagir ao caos.

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