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Nicarágua: "bispo contrário ao regime de Ortega pode ser levado a exílio ou prisão"

O bispo de Matagalpa, Rolando Álvarez, crítico do regime do presidente nicaraguense Daniel Ortega, foi detido pela polícia no mais recente episódio do confronto entre a Igreja Católica e o governo. A polícia invadiu a cúria daquela cidade do norte do país, onde Álvarez estava sitiado por duas semanas, e o transferiu para Manágua.

Rolando Álvarez, bispo de Matagalpa, participa de uma coletiva de imprensa sobre o acordo da Igreja Católica para atuar como "mediador e testemunha" em um diálogo nacional entre membros da sociedade civil e o governo em Manágua, Nicarágua, em 3 de maio de 2018.
Rolando Álvarez, bispo de Matagalpa, participa de uma coletiva de imprensa sobre o acordo da Igreja Católica para atuar como "mediador e testemunha" em um diálogo nacional entre membros da sociedade civil e o governo em Manágua, Nicarágua, em 3 de maio de 2018. AP - Moises Castillo
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Marilyn Lavado, da RFI

De acordo com Álvaro Leiva Sánchez, presidente da Associação Nicaraguense de Defesa dos Direitos Humanos, a situação judicial de Dom Álvarez não estaria isenta de abusos, situação que demonstra mais uma vez a forte repressão do governo de Daniel Ortega contra todos aqueles que se opõem ao seu regime.

A prisão do religioso, segundo depoimentos colhidos pela mídia local, foi violenta. A princípio, as forças policiais não especificaram o local de detenção, o que preocupou toda a comunidade internacional pela defesa dos direitos humanos.

Do exílio, Álvaro Leiva Sánchez, presidente da Associação Nicaraguense de Defesa dos Direitos Humanos, disse à RFI que o bispo foi detido na casa de seus pais, destacando que esta detenção é considerada um “sequestro”.

"Os demais sacerdotes sequestrados encontram-se em prisões preventivas, sob possibilidade de tortura, ameaça e interrogatórios permanentes", anunciou o especialista, que tem acompanhado de perto o desenvolvimento deste caso.

A polícia afirmou que tomou a decisão de transferir Álvarez da cúria de Matagalpa para a capital Manágua porque ele persistiu em suas atividades “desestabilizadoras e provocativas”.

Diante deste fato, várias arquidioceses religiosas da América Latina manifestaram sua solidariedade com o bispo e pediram às autoridades nicaraguenses que revisassem conscientemente este caso.

O que pode acontecer com o bispo?

Dada a forte repressão judicial enfrentada por aqueles que se opõem ao governo de Daniel Ortega, a situação do bispo não é um bom presságio. Segundo Leiva Sánchez, Dom Álvarez estaria sujeito a dois cenários possíveis: “expulsão da Nicarágua ou simplesmente enfrentar um processo ilegal”.

O especialista em direitos humanos acrescentou que o governo vai buscar argumentos para desqualificá-lo e iniciar um processo judicial que não teria base legal.

“Com esta prisão, Ortega continua a demonstrar um comportamento hostil à Igreja Católica, aos direitos humanos e aos direitos constitucionais dos nicaraguenses. Não tem vontade política de melhorar os direitos da população, como a liberdade religiosa”.

A captura de Álvarez, precedida pela prisão de três padres, soma-se a uma longa história de 43 anos de divergências entre a Igreja Católica da Nicarágua e os sandinistas liderados pelo ditador Daniel Ortega.

O regime de Manágua lançou fortes qualificadores contra os bispos nicaraguenses a ponto de chamá-los de "terroristas". E só porque atuaram como mediadores de um diálogo nacional em busca de uma solução pacífica para a crise que a Nicarágua vive desde abril de 2018.

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