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Morre Abimael Guzmán, chefe histórico da guerrilha maoísta Sendero Luminoso, aos 86 anos

O líder histórico da derrotada guerrilha maoísta peruana Sendero Luminoso, Abimael Guzmán, morreu aos 86 anos na prisão de segurança máxima onde cumpria pena de prisão perpétua desde 1992, informou seu advogado à AFP neste sábado (11).

Uma foto de arquivo de 14 de julho de 2003 mostra Abimael Guzmán, líder do Sendero Luminoso, na prisao naval de Callao, Peru.
Uma foto de arquivo de 14 de julho de 2003 mostra Abimael Guzmán, líder do Sendero Luminoso, na prisao naval de Callao, Peru. HO CONGRESO NACIONAL/AFP/File
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"O dr. Abimael Guzmán faleceu, a Marinha informou sua esposa Elena Yparragurre sobre a morte", disse o advogado Alfredo Crespo por telefone.

"Não sei a que horas ocorreu a morte. Ela pediu às autoridades que entregassem os restos mortais", acrescentou.

A autoridade penitenciária afirmou em nota que a morte de Guzmán ocorreu "no sábado, 11 de setembro, aproximadamente às 06h40 (8h40 de Brasília) no Centro de Detenção de Segurança Máxima da Base Naval de Callao (...) devido a complicações em seu estado de saúde".

A esposa de Guzmán está presa na penitenciária Virgem de Fátima, em Lima, condenada à prisão perpétua por terrorismo. Ela era a número dois no Sendero Luminoso.

A morte do líder guerrilheiro foi anunciada um dia antes do 29º aniversário de sua captura, em 12 de setembro de 1992.

Milhares de mortos e desaparecidos

O ex-professor universitário de filosofia, que sofreu problemas de saúde em julho, passou seus últimos 29 anos na prisão por ter sido o responsável intelectual de um dos conflitos mais sangrentos da América Latina, com 70 mil mortos e desaparecidos em duas décadas (1980-2000), de acordo com dados da Comissão da Verdade e Reconciliação, de 2003.

Guzmán terminou seus dias como o prisioneiro mais famoso do Peru, sem concretizar seu plano de reproduzir no país com sangue e fogo o modelo de seu ícone Mao. A causa e os detalhes de sua morte não foram divulgados.

Ele cumpria pena de prisão perpétua no presídio de segurança máxima da Base Naval de Callao, próximo a Lima, mas seria transferido para um presídio comum nos próximos meses.

Ele abraçou o maoísmo e os métodos do líder cambojano Pol Pot e forjou a imagem de um revolucionário duro e implacável disposto a ordenar o massacre dos habitantes de um povoado nos Andes peruanos como punição por não apoiá-lo.

Em 2006, durante um julgamento cujas audiências duraram mais de um ano, um de seus lados desconhecido foi revelado quando seu tenente Oscar Ramírez, o camarada 'Feliciano', o acusou de ser um "covarde" e de não conseguir puxar o gatilho de uma arma.

"Um covarde, alcoólatra e um chorão", disse 'Feliciano', que liderou uma facção radical do Sendero Luminoso que continuou a guerra após a prisão de seu líder, desrespeitando sua ordem de acabar com o conflito.

Abimael Guzmán ganhou destaque quando, no início dos anos 1960, deixou a cadeira de filosofia na Universidade San Cristóbal de Huamanga, em Ayacucho, região do sudeste do Peru onde a pobreza se tornou uma marca indelével.

Sonho de um caminho luminoso

Em Ayacucho criou e promoveu seu partido, cuja tarefa era "construir o comunismo ao longo do caminho luminoso de José Carlos Mariátegui" (pensador peruano, criador do Partido Socialista do Peru). Daí a origem de seu nome.

Guzmán cultivou o culto à personalidade e aqueles que o conheciam deviam tratá-lo como "presidente Gonzalo".

A arma de Guzmán era sua própria interpretação do marxismo, que transformou seus seguidores em fanáticos de suas ideias.

O "grande salto à frente" começou em 1979, quando ele passou à clandestinidade e anunciou que estavam reunidas as condições para fazer uma revolução do campo à cidade.

Em 17 de maio de 1980, ele trocou os livros por dinamite. Naquele dia marcou o Peru com fogo. Sendero iniciou a luta com um ato simbólico: queimou urnas em uma cidade andina às vésperas da eleição que encerrou 12 anos de ditadura militar.

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