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"As vítimas do Holocausto e do 7 de outubro devem contar suas histórias", diz sobrevivente de campo de concentração nazista

Neste sábado (27) é lembrado o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. O resgate desse momento histórico é necessário diante da explosão de atos antissemitas na França e na  Europa. Mas, em meio à guerra em Gaza e às represálias de Israel contra o ataque do Hamas, em 7 de outubro, como homenagear as vítimas do passado sem esquecer as do presente? A equação é complexa, mesmo para as Nações Unidas.

Vista do memorial do Holocausto, em Berlim
Vista do memorial do Holocausto, em Berlim Thierry Tronnel/Corbis via Getty Images
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Com quase 88 anos, Martha Raviv veio de Israel para testemunhar na cerimônia organizada pela ONU em Genebra, na Suíça, os horrores que sofreu nos campos de concentração nazistas na época da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Ela lamenta que as Nações Unidas não fizeram o suficiente, na sua opinião, pelos reféns mantidos pelo Hamas. "A reação da comunidade internacional após o 7 de outubro me lembra a reação do mundo na época do Holocausto. Os sobreviventes devem continuar a contar suas histórias. Como aqueles que sobreviveram ao 7 de outubro terão que fazer", diz.

O Alto Comissário para os Direitos Humanos, Volker Türk, interpreta a situação de uma maneira diferente. Ele pede que o mundo lute contra todas as formas de “desumanização”, se referindo ao massacre de 7 de outubro e às vítimas dos ataques israelenses em Gaza. De acordo com dados do Ministério da Saúde do Hamas divulgado neste sábado, mais de 26 mil pessoas morreram na ofensiva de Israel no enclave, a maioria mulheres e crianças.

O embaixador israelense Meirav Eilon Shahar rejeita a comparação entre o Hamas e Israel. "Ninguém deve ser desumanizado, claro. Mas o que aconteceu em 7 de outubro foi um ataque de genocidas que querem destruir todos os judeus. Em Gaza, Israel só está se defendendo", diz. Uma coisa é certa: quase 79 anos depois da libertação dos campos, a memória do Holocausto ainda continua viva.

"Nunca mais"

O chanceler alemão, Olaf Scholz lembrou a data neste sábado antes de elogiar a população pela mobilização contra a extrema-direita.

"Nossa responsabilidade por este crime contra a humanidade cometido por alemães segue em vigor", declarou o social-democrata em um podcast lançado neste sábado. Ele também se disse satisfeito de ver o seu país "de pé, com milhões de cidadãos marchando pelas ruas".

Nas últimas semanas, milhares de alemães protestaram contra as tendências radicais do partido de extrema-direita Alternativa para Alemanha (AfD). Durante o fim de semana estão previstas mais de 300 passeatas, segundo a aliança cidadã 'Campact', uma das organizadoras do movimento.

"Temos o triplo de manifestações em relação à semana passada, em particular no leste da Alemanha", afirmou a Campact em um comunicado divulgado neste sábado. Nesta região, a ex-Alemanha Oriental, o partido AfD registra seus melhores resultados eleitorais.

A Alemanha lembra todos os anos o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto no aniversário da libertação do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau pelos soviéticos, em 27 de janeiro de 1945.

Este ano, o 79º aniversário da libertação do campo é recordado em um cenário de tensão, depois que a organização de jornalismo investigativo Correctiv revelou, em 10 de janeiro, que membros da AfD discutiram a expulsão massiva de migrantes e "cidadãos não assimilados", em uma reunião em novembro.

A ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, comparou a reunião à "horrível conferência de Wannsee", em 1942, quando o regime nazista planejou o extermínio dos judeus europeus. "'Nunca mais' exige que todos devem permanecer vigilantes. Nossa democracia não é um presente de Deus, é feita pelo homem", advertiu Scholz.

Roma adia manifestação pró-Palestina

A prefeitura de Roma ordenou nesta sexta-feira o adiamento de uma manifestação pró-palestina prevista para este sábado na capital italiana, no Dia da Memória do Holocausto.

O protesto convocado pelo Movimento dos Estudantes Palestinos Italianos terá que ser realizado "em outra data, a partir de 28 de janeiro", disse a prefeitura.

A decisão foi considerada "justa e de bom senso" pelo presidente da Comunidade Judaica de Roma, Victor Fadlun, e "evitará um insulto à memória" do Holocausto, escreveu no Facebook.

A presidente do Movimento dos Estudantes Palestinos, Maya Issa, considera "grave que a comunidade judaica esteja influenciando uma decisão já tomada pela autoridade competente, que autorizou a marcha", declarou. "Mas respeitamos a lei: não protestaremos", acrescentou, citada pela agência AGI.

O ministro italiano do Interior, Matteo Piantedosi, reconheceu que "a liberdade de manifestação do pensamento é sagrada e só pode ser limitada por razões de ordem pública". 

Em Milão, no norte do país, outra passeata foi cancelada. No sábado passado, manifestantes pró-palestinos que protestavam contra a presença de expositores israelenses em uma feira internacional de joias, entraram em confronto com a polícia na cidade de Vicenza, no nordeste do país.

Na quarta-feira, na Câmara dos Deputados, a primeira-ministra Giorgia Meloni se disse contrária à rejeição por Israel da solução "dois povos, dois Estados": " Não compartilho a posição assumida por Netanyahu", disse.

(RFI e AFP)

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