Acessar o conteúdo principal

Espanha se recusa a participar de coalizão para defesa marítima no Mar Vermelho

A Espanha não vai participar da coalizão internacional para proteger o tráfego marítimo no Mar Vermelho contra os ataques dos rebeldes huthis do Iêmen. No entanto, Madri também anunciou que não se irá se opor à participação de outros países da União Europeia (UE) no âmbito de uma missão específica.

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, em foto de 24 de outubro de 2023.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, em foto de 24 de outubro de 2023. AFP - OSCAR DEL POZO
Publicidade

Após vários dias sem resposta e de um evidente constrangimento, o governo do premiê socialista Pedro Sanchez esclareceu, através de um comunicado do Ministério da Defesa publicado no sábado (23) à noite, que se opõe a uma ampliação da missão da operação europeia Atalanta, que luta contra a pirataria no Oceano Índico desde 2008.

O ministério lembra que a missão Atalanta está atualmente limitada apenas à Espanha e a um único navio, a fragata Victória, e destaca que a retomada dos ataques piratas na região “exige o máximo investimento” desta missão.

“A natureza e os objetivos da missão Atalanta (…) nada têm a ver com aqueles que se pretende alcançar no Mar Vermelho”, insiste ainda o ministério.

O governo espanhol considera, portanto, “indispensável” a criação de uma missão “nova e específica” dedicada à proteção do tráfego marítimo comercial no Mar Vermelho.

A iniciativa deve ter “um âmbito de ação, meios e objetivos próprios, decididos pelos órgãos competentes da União Europeia”, continua a nota, acrescentando que “Espanha não se opõe de forma alguma à sua criação”.

Questionado neste domingo (24) pela AFP, um porta-voz do Ministério da Defesa esclareceu, no entanto, que a Espanha “não participará” desta operação da UE. O ministério não explicou os motivos desta recusa, anunciada logo após um telefonema na sexta-feira (22) do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para Sánchez.

A Casa Branca sublinhou num comunicado de imprensa que a conversa se baseou, em particular, "(na condenação) dos atuais ataques dos huthis contra navios comerciais no Mar Vermelho", um assunto que o governo espanhol não mencionou ao relatar a conversa dos dois chefes de Estado por telefone.

Questões internas

De acordo com a imprensa espanhola, a recusa de Madri de se envolver nesta missão liderada pelos Estados Unidos explica-se provavelmente por razões políticas internas.

Sánchez precisa lidar, dentro da coligação governamental, com um partido de esquerda radical, o Sumar, muito hostil à política externa americana.

Numa entrevista para rádio na última quinta-feira (21), a líder desta legenda, Yolanda Díaz, também vice-presidente do governo, considerou a rapidez dos países ocidentais em proteger o comércio marítimo internacional "extremamente hipócrita", contrastando-a com a sua impotência para proteger a população civil de Gaza dos bombardeamentos israelenses.

Guardiões da Prosperidade

A criação desta coligação militar no Mar Vermelho, denominada “Guardião da Prosperidade” e liderada pelos Estados Unidos, foi anunciada pelo ministro da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, na segunda-feira (18) em Washington.

Austin disse que dez países participariam nesta coligação, incluindo a Espanha. Segundo o site de notícias El Confidencial e o diário El País, este anúncio causou descontentamento no governo espanhol, que não foi consultado previamente.

A porta-voz do governo espanhol, Pilar Alegría, alertou que a Espanha “nunca participaria numa operação [de forma] unilateral” e exerceria “a máxima cautela”.

A formação desta coalizão constitui uma fonte adicional de tensão para as relações entre Madri e Washington, recentemente perturbadas por um caso de espionagem. A Espanha expulsou discretamente dois agentes americanos que se infiltraram nos serviços secretos espanhóis.

No seu comunicado de imprensa, o Ministério da Defesa considera, no entanto, oportuno esclarecer que “Espanha é e será sempre um aliado sério e confiável” das missões militares da UE, da Otan e das Nações Unidas, “como demonstram os 3 mil homens e mulheres das forças armadas espanholas" atualmente empenhados em missões de paz.

Drones derrubados

No sábado, os Estados Unidos anunciaram que quatro drones que seguiam em direção a um destroyer americano no sul do Mar Vermelho foram derrubados. Tudo indica que eles tenham sido lançados de áreas do Iêmen controladas pelos huthis.

“Esses ataques são os 14º e 15º contra navios comerciais dos rebeldes huthis desde 17 de outubro”, disse o Comando Central americano (Centcom) em uma mensagem no X, antigo Twitter.

O Comando Central das forças navais americanas disse ter respondido aos pedidos de socorro de dois navios atacados.

Os rebeldes huthis, aliados do Irã, que controlam a maior parte do Iêmen, estão atrapalhando o comércio marítimo mundial ao atacar navios que passam pelo Estreito de Bab el Mandeb, no extremo sul do Mar Vermelho, em resposta à guerra liderada por Israel em Gaza.

O Comando Central americano disse ter respondido aos pedidos de socorro de dois navios atacados neste fim de semana.

Um navio-tanque de bandeira norueguesa relatou ter evitado por pouco um ataque de drone e um navio-tanque de propriedade gabonesa e de bandeira indiana disse que foi atingido.

Dois mísseis balísticos também foram “disparados contra rotas marítimas internacionais no sul do Mar Vermelho, a partir de áreas do Iêmen controladas pelos huthis”. “Nenhum navio foi atingido” por esses disparos, informou o Centcom na mensagem.

(Com informações da AFP)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.