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Dia internacional pelo direito ao aborto: Brasil está entre os países com mais restrições

O direito das mulheres à interrupção voluntária da gravidez ainda é frágil em grande parte do mundo. Segundo a ONG americana Center for Reproductive Rights (CRR), somente 35% das mulheres em idade de procriar vivem atualmente em países onde o aborto é autorizado por simples demanda. De acordo com a mesma fonte, os abortos clandestinos causam 39.000 mortes por ano. O Brasil está entre os países que impõem mais restrições às mulheres.

Uma manifestante segura um cartaz que diz "aborto é assunto de saúde pública" (tradução livre) depois que uma jovem  morreu em um aborto clandestino, em Rabat, no Marrocos, em 28 de setembro de 2022.
Uma manifestante segura um cartaz que diz "aborto é assunto de saúde pública" (tradução livre) depois que uma jovem morreu em um aborto clandestino, em Rabat, no Marrocos, em 28 de setembro de 2022. © AFP/Fadel Senna
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O dia internacional pelo direito à interrupção voluntária da gravidez é celebrado em 28 de setembro. Nos últimos 30 anos, mais de 60 países mudaram sua legislação para facilitar o acesso ao aborto, segundo o CRR. O último deles foi o México, onde a Suprema Corte declarou “inconstitucional” o delito de abortar que fazia parte do Código Penal.

Na Irlanda, país de forte tradição católica, o aborto passou a ser legal em 2018, após um referendo histórico. A prática também foi legalizada em 2019 na Irlanda do Norte, a única parte do Reino Unido onde ainda era proibida.

A Nova Zelândia também descriminalizou o aborto em 2020. Na Austrália, a Nova Galles do Sul passou a ser, em 2019, o último estado a torná-lo legal.

Na Tailândia, o aborto foi descriminalizado no começo de 2021 e plenamente legalizado em 2022 até 20 semanas de gravidez. Também na Ásia, o mais alto tribunal da Coreia do Sul ordenou em 2019 o fim da interdição.

Na África, o Benim autorizou o aborto em 2021 e em 2022 o presidente da Serra Leoa deu sinal verde para sua descriminalização. Outros países como a Tunísia, pioneira na matéria, comemora, em 2023, 50 anos da legalização.

Outros três países africanos preveem o acesso sem restrições: a África do Sul, Moçambique e Cabo Verde.

Já na América do Sul, o direito ao aborto teve um progresso na Colômbia, onde, em 2022, foi legalizado, independente da razão, antes de 24 semanas de gestação.

Limitações e proibições

De acordo com a CRR, a tendência no mundo é de flexibilização das regras. O aborto continua proibido ou muito limitado em apenas cerca de 15 de países, principalmente na África e na América Latina.

El Salvador adotou em 1998 uma legislação draconiana que proíbe todo aborto, mesmo em caso de perigo para a vida da mãe ou do feto, e prevê penas que podem chegar a oito anos de prisão.

Na Europa, a proibição total é uma exceção, e se restringe apenas a Andorra e ao Vaticano. Em Malta, uma autorização em caso de perigo para a vida da mãe ou quando o feto é inviável (incapaz de sobreviver fora do útero) foi votada em junho.

Como em Malta, em alguns países o aborto é autorizado somente para salvar a mãe: Nigéria, Líbia, Uganda, Sudão do Sul, Tanzânia, Irã, Afeganistão, Iêmen, Bangladesh, Birmânia, Sri Lanka, Guatemala, Paraguai e Venezuela, de acordo com o CRR.

No Brasil e no Chile, o acesso ao aborto é limitado aos casos de estupro, riscos para a mãe ou má-formação grave do feto. Mas muitas vezes as mulheres brasileiras encontram dificuldades em fazer valer seus direitos. O Supremo Tribunal Federal (STF) debate atualmente um pedido descriminalização do aborto até a 12ª semana de gravidez.

Os Estados Unidos oferecem um direito contrastado ao aborto desde que a Suprema Corte revocou, em junho de 2022, a célebre decisão Roe v. Wade que, desde 1973, garantia o direito das americanas de abortar.

Esta decisão deixou cada estado livre para autorizar a interrupção ou não. O resultado foi que aproximadamente 20 estados, principalmente do sul do país, decretaram proibições e restrições. Ao contrário, estados do leste e oeste adotaram novas garantias para proteger o direito ao aborto.

Endurecimento de proibições ou restrições

Em alguns países as proibições ou restrições ao acesso ao aborto foram endurecidas nos últimos anos: Honduras, que proibiu o aborto, inclusive em caso de estupro, de má-formação grave do feto ou quando a vida ou a saúde da mãe estão ameaçadas, aprovou em janeiro de 2021 uma reforma constitucional tornando mais difícil qualquer mudança na legislação.

Na Polônia, o Tribunal Constitucional proibiu, em outubro de 2020, o aborto em caso de má-formação grave do feto. Ele é autorizado somente em caso de estupro ou quando a vida da mãe corre perigo.    

As regras também foram endurecidas na Hungria. Desde setembro de 2022, a mulher que queira abortar deve ser confrontada às “funções vitais” do feto, como escutar seu ritmo cardíaco.

De acordo com a OMS, aproximadamente 45% dos abortos não são realizados de maneira segura. A grande maioria destes casos perigosos (97%) acontece em países em desenvolvimento.

(Com informações da AFP)

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