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Liga Árabe reintegra regime sírio após onze anos de ausência

Os ministros das Relações Exteriores árabes decidiram neste domingo (7), no Cairo, reintegrar o regime sírio do ditador Bashar al-Assad à Liga Árabe. Eles o haviam rejeitado em 2011, devido à repressão de uma revolta popular que degenerou em uma guerra civil sangrenta, que acabou por deixar o país em ruínas.

Reunião na sede da Liga Árabe, no Cairo, em 7 de maio de 2023.
Reunião na sede da Liga Árabe, no Cairo, em 7 de maio de 2023. REUTERS - AMR ABDALLAH DALSH
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"As delegações do governo da República Árabe da Síria voltarão a ter assento na Liga Árabe", diz o texto votado por todos os ministros em uma reunião a portas fechadas na sede da Liga, no Cairo.

Diplomaticamente isolado desde 2011, o presidente sírio, Bashar al-Assad, deixou recentemente seu status de persona non grata. Alguns observadores acreditam que ele poderia até mesmo participar da cúpula anual de chefes de Estado da organização árabe em Jedda, em 19 de maio. Essa é uma reviravolta dramática para milhares de sírios, já que em 2013 a oposição anti-Assad conseguiu ocupar o assento do país em uma cúpula da Liga Árabe em Doha, no Catar.

Os países árabes apoiaram os rebeldes no início da guerra. No entanto, o território sírio se transformou com o tempo em um campo de batalha para forças estrangeiras. O conflito deixou cerca de meio milhão de mortos e milhões de refugiados, além de pessoas deslocadas.

Embora o aquecimento diplomático com Damasco estivesse sendo preparado há vários meses, Assad se beneficiou da manifestação global de solidariedade após o terremoto devastador de 6 de fevereiro, que matou milhares de pessoas na Turquia e na Síria.

Normalização

Assim, o presidente e seus ministros voltaram a se encontrar com representantes de muitos países árabes que anteriormente se recusavam a normalizar suas relações com a Síria – alguns até mesmo fazendo de sua saída do poder uma condição sine qua non.

Damasco agora está apostando na normalização total com os países árabes, especialmente com as ricas monarquias do Golfo – que já foram os maiores aliados da oposição a Assad – para financiar a dispendiosa reconstrução das infraestruturas do país, que foi devastado por repetidos conflitos.

Com o tempo e o valioso apoio da Rússia e do Irã, o regime de Assad recuperou o controle da maior parte do território, embora quatro milhões de pessoas vivam na região noroeste sob o controle de rebeldes e jihadistas.

No sábado, em Damasco, o presidente iraniano, Ebrahim Raissi, e seu colega sírio anunciaram que estavam fortalecendo seus laços diplomáticos e econômicos, com ênfase na reconstrução.

Além disso, de acordo com uma investigação da agência AFP, publicada em novembro, a Síria conseguiu se manter à tona exportando captagon, uma droga à base de anfetamina para reduzir o medo. Esse estimulante gerou uma indústria ilegal avaliada em mais de US$ 10 bilhões, tornando a Síria o mais novo narcoestado do mundo.

Os Emirados Árabes Unidos – o primeiro Estado do Golfo a restabelecer relações com Damasco – reabriram sua embaixada em Damasco. Em troca, Bashar al-Assad reservou para eles, em março de 2022, sua primeira visita a um país árabe desde o início da guerra. 

Em novembro de 2011, 18 dos 22 membros da Liga Árabe haviam suspendido a participação do governo sírio em suas reuniões, obtendo a aprovação dos países ocidentais e da Turquia, e protestos da Rússia, do Irã, do Iraque e do Líbano. Em fevereiro de 2012, os países do Conselho de Cooperação do Golfo (Bahrein, Kuwait, Omã, Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos) retiraram seus embaixadores de Damasco.

A organização árabe também impôs sanções econômicas à Síria e o fim das conexões aéreas, após meses de medidas econômicas dos EUA e da Europa contra líderes e interesses econômicos sírios.

Aproximação entre Irã e Arábia Saudita

Em 2023, a situação regional mudou radicalmente: a Arábia Saudita sunita e o Irã xiita, grandes inimigos no Oriente Médio, reconciliaram-se em março.

Na esteira disso, em 12 de abril, o ministro das Relações Exteriores da Síria fez uma visita surpresa à Arábia Saudita, a primeira desde o início do conflito. Duas semanas depois, a Tunísia nomeou um embaixador em Damasco.

Antes disso, logo após o terremoto, o chefe da diplomacia egípcia – o peso pesado da Liga Árabe – foi enviado a Damasco para uma visita "humanitária".

Fora da Liga Árabe, a Turquia, um dos principais apoiadores do movimento anti-Assad desde 2011, também está começando a reconsiderar suas relações com Damasco. No final de 2022, os ministros da Defesa da Turquia e da Síria conversaram em uma reunião tripartite em Moscou. Mas Assad insiste que não pode haver reaproximação sem o "fim da ocupação turca" no território sírio.

(Com AFP)

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