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Corpos com sinais de tortura são exumados em Izium, dizem autoridades ucranianas

 As autoridades ucranianas exumaram 436 corpos enterrados em uma floresta perto da cidade ucraniana de Izium, e 30 deles tinham "sinais de tortura", anunciou o governador da região de Kharkiv nesta sexta-feira (23).

As autoridades ucranianas encontraram 436 corpos em Izium, muitos com sinais de tortura.
As autoridades ucranianas encontraram 436 corpos em Izium, muitos com sinais de tortura. © AP
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"Um total de 436 corpos foram exumados. A maioria mostra sinais de morte violenta e 30 mostram sinais de tortura", declarou Oleg Sinegubov no Telegram. "Há corpos com uma corda em volta do corpo, com as mãos amarradas, com membros quebrados ou feridas de bala. Vários homens tiveram seus órgãos genitais amputados", disse Sinegubov.

Centenas de sepulturas e uma vala comum foram descobertas em meados de setembro perto da cidade de Izium, que estava sob ocupação russa por vários meses antes de ser retomada pelas forças de Kiev.

A polícia ucraniana revelou que também descobriu "salas de tortura" na região, incluindo em Izium. As forças russas são acusadas de múltiplos abusos nos territórios sob seu controle na Ucrânia, especialmente em Bucha, nos arredores de Kiev, onde corpos de civis foram descobertos pelas ruas após sua retirada da área no final de março. Moscou nega ter cometido esses crimes e chamou a descoberta dos túmulos em Izium de "mentira".

Crimes de guerra

A comissão de inquérito da ONU sobre a Ucrânia afirmou nesta sexta-feira que torturas, execuções e outros crimes ocorreram no país desde a invasão russa, em 24 fevereiro. "Com base nas evidências coletadas pela comissão, concluiu-se que crimes de guerra foram cometidos na Ucrânia", disse Erik Mose, presidente do órgão, durante uma primeira apresentação oral no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Ele listou os bombardeios russos em áreas civis, numerosas execuções, torturas, maus-tratos e violência sexual.

 As acusações diretas feitas pela ONU foram elogiadas por muitos diplomatas. Em uma intervenção por vídeo, o representante da Ucrânia, Anton Korinevich, descreveu a apresentação dos investigadores como um "marco importante" para o estabelecimento de responsabilidades diante da Justiça. Ele lembrou que seu país pede a criação de um tribunal especial para julgar os crimes russos na Ucrânia.

"Sua apresentação leva à reflexão sobre o alcance e a amplitude dessas atrocidades e seu impacto na vida de dezenas ou centenas de milhares de civis inocentes, incluindo crianças", disse o embaixador britânico Simon Manley.

A comissão foi criada em março pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas para investigar denúncias sobre as ações das tropas russas na Ucrânia. O conselho aprovou então uma nova resolução em maio, pedindo que a comissão investigasse especificamente as violações de direitos humanos cometidas pelo exército russo nas regiões de Kiev, Chernigov, Kharkiv e Sumy.

Voluntários carregam caminhão com corpos retirados de vala comum em Bucha, no subúrbio de Kiev (12/04/22).
Voluntários carregam caminhão com corpos retirados de vala comum em Bucha, no subúrbio de Kiev (12/04/22). AP - Rodrigo Abd

Comissão conversou com mais de 150 vítimas

Durante suas investigações nessas quatro regiões, os investigadores visitaram 27 cidades e vilarejos e conversaram com mais de 150 vítimas e testemunhas, explicou Erik Mose. "Ficamos chocados com o grande número de execuções nas regiões que visitamos. A comissão está atualmente investigando essas mortes em 16 cidades e locais. Recebemos denúncias críveis sobre mais casos de execuções, que estamos documentando", explicou.

Os corpos encontrados têm sinais visíveis de execuções, como mãos amarradas nas costas, ferimentos de bala na cabeça ou cortes no pescoço. Mose também disse que as investigações "mostraram um número considerável de crimes de guerra" cometidos pelos russos, enquanto apenas dois casos de maus-tratos de soldados russos por forças ucranianas foram encontrados até agora.

"Há uma diferença considerável entre crimes de guerra cometidos em grande escala, por um lado, e dois casos de maus-tratos, por outro", acrescentou outro investigador, Pablo de Greiff.

Soldados ucrânianos carregam um saco contendo o corpo de um soldado ucraniano em uma área próxima à fronteira com a Rússia, na região de Kharkiv, Ucrânia, segunda-feira, 19 de setembro de 2022.
Soldados ucrânianos carregam um saco contendo o corpo de um soldado ucraniano em uma área próxima à fronteira com a Rússia, na região de Kharkiv, Ucrânia, segunda-feira, 19 de setembro de 2022. AP - Leo Correa

Torturas e estupros

Mose também denunciou o uso pela Rússia de "armas explosivas com um longo raio de impacto" em áreas civis. Além disso, as testemunhas forneceram testemunhos consistentes de maus-tratos e tortura, perpetrados durante detenções ilegais. Algumas vítimas indicaram que, após uma primeira prisão pelas forças russas na Ucrânia, foram transferidas para a Rússia e mantidas detidas por semanas em prisões.

"Os interlocutores descreveram espancamentos, choques elétricos e nudez forçada, além de outros tipos de violações nesses locais de detenção", destacou Mose, observando que algumas vítimas transferidas para a Rússia teriam desaparecido. Os investigadores da ONU também receberam informações sobre casos de violência sexual. Em algumas situações, parentes ou amigos foram forçados a testemunhar esses crimes. A idade das vítimas de violência sexual variou de quatro a 82 anos.

(Com informações da AFP)

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