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Tsunami

Indonésia: 15 anos depois, população ainda vive consequências do tsunami, diz antropóloga

Há exatos 15 anos, em 26 de dezembro de 2004, um violento terremoto de 9,3 graus de magnitude era registrado no fundo do mar na costa oeste de Sumatra, na Indonésia, desencadeando um tsunami com ondas de mais de 30 metros de altura, que se propagou ao longo das costas da maioria dos continentes banhados pelo Oceano Índico. O impacto foi sentido até no leste da África.

Muito mais do que 230 mil vítimas fatais, tsunami de 2004 deixou lastro de traumas e de ausências de gerações.
Muito mais do que 230 mil vítimas fatais, tsunami de 2004 deixou lastro de traumas e de ausências de gerações. REUTERS/Jorge Silva
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A Indonésia foi o país mais atingido, seguida por Sri Lanka, Índia e Tailândia. Considerado um dos mais mortais desastres naturais da história, o tsunami deixou uma devastação incomensurável, muito maior do que suas 230 mil vítimas fatais. Devastação ambiental e patrimonial, famílias com ausência de gerações, deficientes, doenças e mortalidade de infantil nos anos que se seguiram, além de um trauma ampliado e eternizado pelos registros de imagens.

“Este é um trauma ainda muito presente, que deixou grandes “ausências” em muitas famílias, devastou cidades inteiras, em que paisagens tiveram que ser restituídas. A data é lembrada todos os anos e as pessoas ainda se sentem muito próximas do acontecimento”, conta Silvia Vignato, professora de Antropologia cultural e social da Universidade Milão-Bicocca, especializada no sudoeste da Ásia.

Ela explica como o trauma é intensificado em famílias que perderam até duas de suas gerações, além de crianças. Porque além da perda, existe um sentimento de descontinuidade entre o antes e o depois. “Não é possível pensar a Aceh (província mais atingida da Indonésia) contemporânea sem pensar no tsunami”, diz Silvia, em entrevista à RFI.

Percepções da tragédia que mudam com o tempo

Quinze anos depois as percepções da catástrofe são diferenciadas. A ideia imediata de uma punição divina por mudanças religiosas e por tensões políticas que se estendiam há décadas na região, pouco a pouco foi dando lugar aos argumentos técnicos e científicos, com auxílio da intensa presença de organismos internacionais.

Na opinião da especialista, outros dois “ineditismos” também teriam contribuído para que o trauma tenha se perpetuado por todos esses anos: um tsunami de magnitude nunca antes registrada, mas também a captura de imagens que circularam em todo o mundo e foram exaustivamente revisitadas. “Nunca havia existido antes um registro de tanta destruição em nossos espíritos, em nossas consciências”, define Silvia.

A dimensão dos danos também seria revelada aos poucos, não podendo ser completamente mensurada de imediato. “Além dos mortos, outras pessoas sofreram consequências por muito tempo. Doenças, deficiências, mortalidade infantil que ainda se estenderam por cinco ou seis anos”, enfatiza.

Impactos nas políticas públicas

Silvia acredita que, para avaliar as consequências do tsunami percebidas até hoje, é preciso diferenciar a província de Aceh, a mais atingida, do restante da região. Ali pode ser observada uma reconstrução impressionante, inclusive material.

Mas a dimensão da catástrofe traria mudanças conjunturais, fazendo as políticas públicas se ocuparem de forma completamente diferente após o episódio.

“O presidente reeleito Joko Widodo passou a anunciar em seus pronunciamentos os planos de prevenção e emergência para catástrofes naturais, que continuam a atingir a Indonésia, como terremotos e inundações, consciente de se tratar de um problema social, técnico, e em grande parte ambiental”, completa a professora da Universidade de Milão.

Em dezembro do ano passado, outro tsunami provocado por uma erupção vulcânica deixou mais de 500 mortos no estreito de Sonda, que separa as ilhas de Java e Sumatra.

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