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Multidão marcha contra o antissemitismo em Paris; ausência de Macron é criticada

De acordo com autoridades policiais, 105 mil pessoas participaram, em Paris, no domingo (12), da “grande marcha cívica” contra o antissemitismo. Grande parte da classe política francesa, incluindo a extrema direita, esteve no evento. O presidente Emmanuel Macron e representantes da oposição radical de esquerda não participaram. Mais de 180 mil pessoas se manifestaram em todo o país. 

"A República unida contra o antissemitismo": manifestação foi organizada pelos presidentes do Senado e da Assembleia Legislativa e teve a participação de cidadãos e autoridades políticas francesas, em 12 de novembro de 2023.
"A República unida contra o antissemitismo": manifestação foi organizada pelos presidentes do Senado e da Assembleia Legislativa e teve a participação de cidadãos e autoridades políticas francesas, em 12 de novembro de 2023. © CLAUDIA GRECO / REUTERS
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“Pela República, contra o antissemitismo”: atrás de uma faixa que repetia o slogan desta manifestação, os principais representantes da política francesa saíram, em procissão, por volta das 15h10 (11h10 no horário de Brasília) da praça em frente à Assembleia Nacional.

Estavam presentes a presidente da Assembleia Legislativa, Yaël Braun-Pivet, do Senado, Gérard Larcher, bem como a primeira-ministra Élisabeth Borne, os antigos presidentes Nicolas Sarkozy e François Hollande, e o presidente do Crif (Conselho Representativo de Instituições Judaicas da França), Yonathan Arfi. Representantes de religiões, ex-chefes de governo e diversos ministros também estiveram na marcha.

Classe política francesa na marcha contra o antissemitismo, em 12 de novembro de 2023.
Classe política francesa na marcha contra o antissemitismo, em 12 de novembro de 2023. REUTERS - CLAUDIA GRECO

A Esplanada dos Invalides ficou lotada, enquanto as estações de metrô e ruas adjacentes ficaram congestionadas, demonstrando a adesão do público ao chamado do governo francês.

“Não pensei que um dia teria que me manifestar contra o antissemitismo”, disse à AFP Johanna, 46 anos, secretária médica em Seine-Saint-Denis, que veio “pela única razão de não ter medo de ser judia”. A França tem a maior comunidade judaica da Europa, com mais de 500.000 pessoas.

“Nossa agenda é a República”, resumiu o presidente do Senado, Gérard Larcher, apelando aos cidadãos diante da explosão no número de atos hostis aos judeus desde os massacres do Hamas em Israel em 7 de outubro e a massiva campanha militar israelense na Faixa de Gaza que se seguiu.

Esta é uma causa pela qual “todos deveriam se preocupar”, julgou o rabino-chefe da França, Haïm Korsia, na Rádio J, lamentando que o assunto tenha se transformado em briga política, “uma vergonha”, segundo ele.

Já a primeira-ministra Élisabeth Borne publicou um tweet na manhã de domingo criticando o partido de esquerda radical, La France Insoumise (LFI), e a participação do partido de extrema direita, o Rassemblement National (RN): "Em breve marcharei pelos valores da República e contra o antissemitismo, porque esta luta é vital para a nossa coesão nacional. Posturas não têm lugar neste momento sério. A ausência da France Insoumise fala por si. A presença do Rassemblement National não engana ninguém".

 

Borne criticou a esquerda radical e a extrema direita

 

Tensões 

"Estamos exatamente onde devemos estar”, respondeu Marine Le Pen durante o evento, criticando a “politicagem mesquinha” dos seus opositores, que há vários dias têm enfatizado o passado antissemita do seu partido, o Rassemblement National (RN). Desde que assumiu o RN, em 2011, a líder da extrema direita francesa tem se esforçado para apagar a imagem extremista do partido.

Para seus eleitores, como Christine, uma aposentada de 71 anos, “o RN parece um partido antijudaico por causa das palavras desajeitadas” de seu fundador, Jean-Marie Le Pen, que “não é antissemita”.

A presença da extrema direita foi, no entanto, fonte de tensão no desfile. Um grupo de ativistas da organização judaica de esquerda Golem tentou brevemente opor-se à sua participação no início da manifestação, antes de ser contido pela polícia.

Os partidos de esquerda Europe Ecologie-Les Verts, PS e PCF, bem como as associações de defesa dos direitos humanos e as organizações juvenis optaram por se exibir atrás de uma bandeira comum "contra o antissemitismo e todos os instigadores do ódio e do racismo" numa abordagem de "cordão republicano" contra a extrema direita.

Neste clima tenso foi implantado um importante sistema de segurança com “mais de 3 mil policiais e agentes de segurança”, assim como “unidades de elite mobilizadas”, segundo o ministro do Interior, Gérald Darmanin.

Boicote da esquerda radical

A France Insoumise (LFI), partido de esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon, boicotou o evento. Acusado de ambivalência nas questões contra o antissemitismo, o partido justificou o boicote por conta da presença do RN, mesmo que alguns de seus representantes tenham participado de manifestações realizadas em outras cidades.

O LFI organizou uma entrega de flores no final da manhã de domingo no local do antigo Vel d'Hiv (onde judeus foram reunidos antes de serem enviados a campos de concentração durante a Segunda Guerra), mas a homenagem foi interrompida por um grupo exibindo cartazes que diziam “Não toque na memória”. 

Macron ausente 

Emmanuel Macron decidiu não participar da marcha. O presidente da República dirigiu-se aos franceses na noite de sábado, por uma carta publicada pelo jornal Le Parisien. Ele deplorou “o ressurgimento insuportável do antissemitismo desenfreado”.

“Uma França onde os nossos concidadãos judeus têm medo, não é a França”, escreveu ele, lançando um apelo à unidade do país “por trás dos seus valores, do seu universalismo”.

A ausência do presidente foi bastante criticada pela imprensa francesa, por representantes da comunidade judaica e por políticos.

Manifestações por toda a França

Milhares de pessoas se reuniram no domingo contra o antissemitismo em várias grandes cidades. As primeiras manifestações reuniram 3 mil pessoas em Lyon, outras tantas em Nice, e também alguns milhares em Estrasburgo, em torno do mesmo slogan: “pela República, contra o antissemitismo”.

Em Marselha, segundo a polícia, o ato teve a participação de 7500 pessoas. Mais de 180 mil pessoas se manifestaram em toda a França neste domingo.

(Com informações da AFP)

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