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Assembleia francesa debate projeto para relançar energia nuclear questionado por ecologistas

A Assembleia Legislativa francesa começa a debater nesta segunda-feira (13) um projeto de aceleração do desenvolvimento da energia nuclear bastante controvertido. A proposta é criticada por deputados ecologistas, que questionam a segurança das centrais e os impactos no meio ambiente.  

Piscina de tratamento de lixo nuclear da Hague, no noroeste da França, em 5 de junho de 2018.
Piscina de tratamento de lixo nuclear da Hague, no noroeste da França, em 5 de junho de 2018. © AFP - CHARLY TRIBALLEAU
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Os deputados franceses devem analisar em quatro dias as 650 emendas do texto destinado a facilitar a construção de seis novos reatores na França, até 2035.  

O conflito na Ucrânia e a crise energética decorrente, assim como a necessidade de diminuir as emissões de gases do efeito estufa, aumentaram a adesão ao nuclear, que vinha sendo bastante questionado após o acidente Fukushima, no Japão. O presidente francês, Emmanuel Macron, tinha decidido fechar de 14 a 58 reatores até 2025, mas voltou atrás e anunciou uma reativação do setor.

“Nós íamos fechar centrais nucleares e nos voltar totalmente para a produção de energias renováveis”, salienta Geneviève Baumont, especialista no setor nuclear do Instituto Francês de Formação aos Riscos e para o Meio Ambiente, entrevistada pela RFI.

“Sabendo que, com os carros elétricos, a demanda de eletricidade vai aumentar, se não queremos utilizar carvão ou petróleo será necessário continuar a utilizar as centrais nucleares atuais, ou construir outras, como deseja o presidente Macron”, ela diz.  

Meios técnicos para construir novas centrais

A França é o país no mundo com maior dependência da energia nuclear, que representa aproximadamente 70% de sua produção de eletricidade. Devido às interrupções de produção por corrosão e da fraca disponibilidade do parque nuclear, a proporção se estabeleceu em 63% em 2022.

O projeto de lei visa simplificar os processos administrativos para diminuir os prazos de instalação dos reatores. Além disso, o texto suprime o teto de 50% da parte da energia nuclear na matriz energética francesa até 2035.

Mas os meios técnicos e financeiros da França para chegar a seu objetivo de construção de centrais são questionados. Atualmente, o governo tenta finalizar a usina de Flamanville, no noroeste do país. Chamada de “fiasco do nuclear francês”, sua inauguração foi anunciada para 2024, com 12 anos de atraso. O projeto, que no início deveria custar 3,4 bilhões, acabou saindo por quase 10 bilhões.

“Esta é a questão que deve ser aprofundada. Levamos dez anos para construir o reator nuclear EPR em Flamanville, com muito atraso, mas não existe nenhum relatório aprofundado sobre isso. Sobretudo sobre os aspectos organizacionais, humanos e sobre as competências que ainda temos na França comparadas a que tínhamos nos anos 1970 e1980”, salienta a especialista.

Reatores antigos

Grande parte do parque nuclear francês foi construído há mais de 30 anos. Por isso, questões de segurança estão no centro dos debates. Novas fissuras “não-negligenciáveis” foram encontradas em reatores de duas centrais na semana passada, a de Penly, a leste de Paris, e a de Cattenom, na Moselle, no leste do país.

“É o sinal de que existe um problema no setor” nuclear, alertou na sexta-feira (10), em entrevista à Franceinfo, o deputado ecologista Julien Bayou.

Além disso uma parte dos reatores existentes está parada.  “O que seria muito importante, seria ter uma transparência completa sobre este ponto”, afirma Baumont. Para a especialista, o modo de controle adotado pela empresa francesa de energia, a EDF, e que acompanhamentos foram feitos sobre estes casos, deveria ser informado.

Sem benefícios para o meio ambiente

Emmanuel Macron costuma enfatizar o que chama de “benefícios ambientais” da energia nuclear, sobretudo por permitir à França sair das energias fósseis.

“Efetivamente, a fissura do urânio não provoca emissão de gases do efeito estufa. Claro que existe toda a construção da usina, do cimento, que produz gás carbônico. Mas depois, durante a produção de energia, não produz. É o que faz esta energia ser interessante, contrariamente ao petróleo e ao carvão”, explica Baumont.  

Mas este tipo de energia gera impactos importantes para o meio ambiente, como ressaltam organizações ecologistas. A questão do lixo gerado pela energia nuclear é um destes pontos problemáticos: a cada ano, 23 mil m3 de lixo nuclear, altamente radioativo, são produzidos pela França, de acordo com o Greenpeace. Até hoje não foi encontrada uma solução definitiva para estes resíduos tóxicos.

Além disso, a questão do resfriamento das centrais, que utilizam água de rios, vem sendo questionado, enquanto a França atravessa uma seca histórica, que poderia levar ao racionamento de água.

Outro problema da energia nuclear criticado pelos ecologistas é que este tipo de matriz não garante toda a energia nuclear da França, já que o urânio, combustível das centrais elétricas francesas, provêm em grande parte de países estrangeiros como Cazaquistão e Níger.

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