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Quanto ganha alguém considerado "rico" na França?

Não pense em jet set e castelos. Quando se fala dos ricos na França, o grupo pode apresentar um padrão de vida bem mais modesto. De acordo com um relatório divulgado nesta quarta-feira (1°) pelo Observatório das Desigualdades, são considerados ricos todos aqueles que ganham acima de € 3.673 mensais (o equivalente a menos de R$ 20.000), descontados os impostos.  

De acordo com o Observatório das Desigualdades, 7,1% dos franceses podem ser considerados ricos.
De acordo com o Observatório das Desigualdades, 7,1% dos franceses podem ser considerados ricos. © RFI/Jan van der Made
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Para fixar esse “piso” da riqueza, o estudo multiplicou por dois a renda mediana da população e chegou aos € 3.673 mensais para uma única pessoa, descontados os impostos, ou € 7.713 para um casal com dois filhos. Partindo desse cálculo, 4,5 milhões de franceses são "ricos", detalham os autores do relatório, Anne Brunner e Louis Maurin.

“É claro que parte dos franceses nessa situação não se consideram ricos, mas é isso que eles são, se comparados com a grande maioria”, observa Brunner, em entrevista à RFI. “Isso significa que 93% dos franceses vivem abaixo desse valor”, completa.

A segunda edição anual do "relatório sobre os ricos na França" também revelou que a parcela de franceses que podem ser considerados "ricos" caiu de 8,6% da população para 7,1%, entre 2010 e 2019. Isso não significa que os mais ricos ficaram mais pobres, mas que as desigualdades caíram um pouco, aumentando o tamanho da classe média, segundo os cálculos divulgados pelo órgão independente.

A diminuição da proporção de famílias francesas ricas, entre 2010 e 2019, é explicada, em parte, pelas medidas fiscais adotadas em 2011 e 2012, que afetaram os rendimentos mais elevados. Medidas em favor da classe média, tomadas em 2019 para responder às manifestações dos "coletes amarelos", também impactam na mudança.

Modo de vida dos ricos

Os pesquisadores destacam que, ao contrário do que se pode imaginar, o modo de vida dos franceses "ricos" não se define pela quantidade de barcos, carros de luxo ou propriedades. Entre as características que marcam essa parcela da sociedade estão: “liberdade de movimento, tirar férias quando desejam, ter uma casa maior, poder viajar para esquiar uma vez a cada dois anos, além de contarem com mais serviços a domicílio”, explica Anne Brunner.

Enquanto a superfície média de uma habitação é de 40 m² por pessoa, segundo dados de 2013 do Instituto nacional de estatísticas e estudos econômicos da França (INSEE na sigla em francês), essa superfície aumenta para 60 m² para quem ultrapassasse o limiar de riqueza, segundo as estimativas do Observatório de Desigualdades.

A mobilidade é outro aspecto avaliado. “Segundo o Ministério dos Transportes, os 10% mais favorecidos fazem nove viagens de mais de 80 km ao ano por motivos pessoais e percorrem quase 15.000 km, contra três viagens e 3.200 km, na base da pirâmide social. 

O relatório distingue, ainda, a riqueza em rendimentos, em patrimônio e outras particularidades de que alguém pode dispor. “Por exemplo, ter um bom diploma e um emprego garantido são vantagens numa sociedade em que a insegurança aumenta”, continua a pesquisadora.

O Observatório das Desigualdades afirma querer “abrir os olhos” para as disparidades de renda e lançar luz sobre um debate em torno das questões de “justiça e mérito” no país.

Os super-ricos

Os franceses super-ricos representam 1% da população e ganham mais de € 7.180, após o pagamento de impostos. De acordo com o estudo, eles se concentram na região de Paris, especialmente no oeste da capital, tendo o bairro de Neully sur Seine como um dos que mais concentram riqueza. Nos últimos dez anos, entretanto, o número de ricos diminuiu no país.

Outra mudança apontada pelo relatório é que o patrimônio herdado volta a fazer diferença. “Como nos anos 1920, a constituição de patrimônio por herança aumenta e é cada vez mais raro se fazer fortuna sozinho”, destaca Anne Brunner.

“As desigualdades criam tensões sociais porque são percebidas como amplamente injustas”, sublinha a autora do estudo, que defende uma “reforma abrangente da tributação dos rendimentos, de herança e de patrimônio”.

"Na França, ninguém gosta de ser chamado de rico", observa Maurin. Porque "além de Bernard Arnault e um punhado de ultra-ricos, somos sempre os pobres dos outros", conclui.

Considerado um dos símbolos do sucesso no país, o empresário Bernard Arnault, dono do grupo LVMH, líder mundial do luxo, possui uma fortuna avaliada em € 158 bilhões. Segundo os cálculos de Brunner e Maurin, ele tem “o suficiente para comprar todos os imóveis de cidades como Marselha ou Lyon”.

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