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“Fim do tapete vermelho para agressores”: França quer investigar abusos sexuais no cinema, moda e publicidade

A Assembleia francesa aprovou, nesta quinta-feira (2), a criação de uma comissão de inquérito para investigar "abusos e violência" cometidos no cinema e outros setores, como moda e publicidade, após as denúncias feitas pela atriz francesa Judith Godrèche. Em fevereiro, ela prestou queixa contra os cineastas Benoît Jacquot e Jacques Doillon por violência sexual e física, que ela teria sofrido desde a adolescência. 

A atriz francesa Judith Godrèche durante o prêmio César, em fevereiro
A atriz francesa Judith Godrèche durante o prêmio César, em fevereiro AFP - STEPHANE DE SAKUTIN
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Os deputados franceses aprovaram por unanimidade a proposta da ecologista Francesca Pasquini. A comissão de inquérito deve ser formada em 13 de maio, iniciar as audiências no dia 20 e divulgar as conclusões nos próximos seis meses. "Essa comissão deve ir até o fim. Foi extremamente comovente ouvir essas palavras em um lugar onde as leis são criadas, já que as filmagens não são submetidas a nenhuma lei", disse Godrèche, que estava presente no plenário, após a votação dos deputados.

Em fevereiro, durante a cerimônia do prêmio César, o mais importante do cinema francês, a atriz disse que sonhava com uma "revolução" que permitisse que os abusos viessem à tona. Após a denúncia, a Justiça abriu uma investigação em Paris contra os dois diretores, que negaram as acusações através de seus advogados.

Desde então, a atriz francesa se tornou um símbolo na luta contra as violências sexuais que atingem menores. "Vamos nos calar? Conto com vocês para proteger as crianças e parar de entregá-las ao cinema sem nenhuma proteção", disse aos deputados.   

A comissão de inquérito ficará encarregada de "avaliar a situação dos menores que trabalham nos setores do cinema, audiovisual, artes, moda e publicidade”, mas também tratará dos casos envolvendo adultos.

O objetivo é "identificar os mecanismos e falhas que permitem os abusos e violências", "estabelecer as responsabilidades de cada ator nesta área" e "fazer recomendações sobre as possíveis soluções". A deputada francesa disse esperar que os parlamentares iniciem rapidamente o trabalho e "tomem medidas". "É hora de parar de estender o tapete vermelho para os agressores", disse ela.  

Francesca Pasquini lembrou em seu discurso que 160.000 menores e 84.000 mulheres são vítimas de violência todos os anos, segundo estimativas da Ciivise (Comissão Independente sobre Incesto e Violência Sexual contra Crianças), e do Ministério do Interior.

"Os mecanismos dos predadores e do isolamento são os mesmos em todos os lugares, mas parecem florescer ainda mais nas indústrias do cinema, audiovisual, publicidade, moda, que operam como uma grande família", disse ela.   

"Vamos agir, porque é urgente" 

"Querida Judith, se os outros não te ouviram, nós deputados ouvimos. Então, hoje, vamos fazer melhor do que ouvir. Vamos agir porque é urgente", disse a deputada Perrine Goulet (do partido centrista MoDem, presidente da Delegação pelos Direitos da Criança.  

A criação da comissão ocorre um dia após a publicação de um livro da atriz Isild Le Besco, "Dire vrai" (Dizer a verdade, em tradução livre). Na obra, ela relembra seu relacionamento com o diretor Benoît Jacquot, que começou quando ela tinha 16 anos. Embora o acuse de estuprá-la, ela diz que não está pronta para prestar queixa.

Com informações da AFP

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