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Segunda astronauta francesa da história celebra entrada na Agência Espacial Europeia

Ela cresceu admirando a trajetória de mulheres ambiciosas em profissões que costumam ser atribuídas aos homens, como pilotas de avião. E hoje, se torna a segunda mulher da história da França a se tornar astronauta. Sophie Adenot está na lista de cinco novos astronautas da Agência Espacial Europeia (ESA), ficando à frente de uma seleção que teve mais de 22,5 mil candidatos.

Sophie Adenot esteve nos estúdios da RFI um dia após a Agência Espacial Europeia anunciar que ela faz parte da sua nova equipe de astronautas. (24/11/2022)
Sophie Adenot esteve nos estúdios da RFI um dia após a Agência Espacial Europeia anunciar que ela faz parte da sua nova equipe de astronautas. (24/11/2022) © RFI
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Antes dela, Claudie Haigneré foi a primeira francesa a conquistar a façanha, em 1996. Ao lado de Adenot, outra mulher, a britânica Rosemary Coogan, também foi escolhida, além de três homens. A biotecnóloga espanhola Sara García foi adicionada à lista como reserva.

"Não saberia explicar como nasceu a minha paixão pelo espaço, mas ela veio bem rapidamente. Como todas as crianças, eu sempre gostei muito de observar a noite estrelada”, relata a nova astronauta francesa, em entrevista à RFI. "Acho que o que deslanchou mesmo foi ver a Claudie Haigneré decolar. É claro que ver todos os outros astronautas antes dela me motivava muito, mas ver a Claudie foi o que mudou tudo, para mim."

Adenot conta que realizar o sonho de infância começou cedo, quando optou pelos estudos aprofundados nas ciências exatas na escola, e depois seguiu o percurso superior na aeronáutica. Pilota de helicópteros, ela agora se vê no papel de inspiradora de outras meninas – uma “função” que ela desempenha com orgulho, afirma.

"Tenho impressão de que é como completar um ciclo, já que eu mesma me inspirei muito em personagens femininas. Acho que não estaria chegando aqui se eu não tivesse me inspirado na vida de pessoas que testemunharam, com muita humildade, sobre todas as dificuldades desse longo percurso”, avalia. "Então, vejo que agora é a minha vez de, talvez, ser uma fonte de inspiração para os mais jovens."

"Sendo um homem ou mulher, podemos ter talentos comparáveis”

A francesa de 40 anos disse esperar que a questão de gênero seja cada vez menos colocada quando uma prestigiosa instituição, como a ESA, contrata novos profissionais.

"A profissão de astronauta não tem gênero e para Claudie Haigneré foi uma grande etapa, por ela ser a primeira francesa. A minha grande esperança é que, na próxima seleção, a gente não tenha mais que colocar essa questão e ela já tenta se normalizado”, salientou a astronauta, nos estúdios da RFI. A última vez que a agência europeia recrutou novos integrantes tinha sido há 13 anos.

Adenot sublinha que, nesta nova equipe, a paridade entre homens e mulheres astronautas já foi quase atingida. "A agência europeia tem essa vontade de mostrar que, sendo um homem ou mulher, podemos ter talentos comparáveis”, nota.

A etapa inicial da longa jornada será um ano de treinamento básico no Centro Europeu de Astronautas (EAC, na sigla em inglês), em Colônia, na Alemanha. Depois, a seleção para uma missão espacial deve demorar no mínimo mais dois anos – podendo chegar a sete, como foi o caso do astronauta francês Thomas Pesquet, que voltou do espaço este ano.

Orçamento em alta

Além dos membros da nova equipe, a Agência Espacial Europeia anunciou nesta quarta-feira (23) um forte aumento de seu orçamento para manter seus programas e fazer frente à concorrência dos Estados Unidos e da China. Os 22 Estados-membros da ESA aprovaram, após uma reunião de dois dias em Paris, um orçamento de €17 bilhões para os próximos três anos.

O valor significa uma alta de 17% com relação ao triênio anterior, mas inferior aos € 18,5 bilhões reivindicados por seu diretor-geral, Josef Aschbacher. As maiores fatias do orçamento serão destinadas a programas de exploração espacial, de observação da Terra e de fabricação de ônibus espaciais.

O aporte da Alemanha sobe para € 3,5 bilhõe, o da França para € 3,25 bilhões, o da Itália para € 3,1 bilhões e o da Espanha para € 932 milhões. É um "grande sucesso", celebrou o ministro francês da Economia, Bruno Le Maire, para quem o pacote está "acima das expectativas".

"Levando-se em consideração o nível de inflação, estou muito impressionado com este resultado", disse Aschbacher, garantindo que o orçamento votado é "necessário para não perder o bonde".

Nova corrida espacial

A verba da ESA segue, entretanto, muito distante dos US$ 24 bilhões por ano que a Nasa tem nos Estados Unidos. A agência europeia pretende se manter como uma das organizações mais poderosas do setor, em meio à revolução do "Novo Espaço" (do inglês "New Space"), a nova corrida espacial marcada pela multiplicação de atores privados, que tem a empresa americana SpaceX à frente.

A soberania europeia se fragilizou com o atraso no projeto Ariane 6, considerado uma resposta à SpaceX, e com a guerra na Ucrânia, que privou a agência europeia dos foguetes russos Soyuz.

A questão dos foguetes costuma ser motivo de atritos entre França, Alemanha e Itália, reconhece Philippe Baptiste, presidente da CNES, a agência espacial francesa. "O programa de lançadores é extremamente estratégico. Claro que há competição, embora eu não goste dessa palavra, e pode ser saudável", disse Aschbacher em entrevista à AFP na semana passada.

"Sei que França, Itália e Alemanha podem ter interesses diferentes, mas na ESA o nosso papel é definir um terreno comum, algo que funciona muito bem na observação da Terra, na navegação, nas telecomunicações, na exploração", acrescentou.

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