Brasileiro “Levante” fica de fora da premiação da Semana da Crítica, mas ainda concorre ao Caméra d’Or de Cannes
O filme “Levante” de Lillah Halla foi um dos sete concorrentes selecionados na competição da “Semana da Crítica” de Cannes, mas ficou de fora da premiação, anunciada nesta quarta-feira (24). O grande prêmio da mostra paralela recompensou “Tiger Stripes”, da diretora Amanda Nell Eu da Malásia. Mas o longa-metragem de estreia da cineasta brasileira ainda concorre ao prestigioso Caméra d’Or.
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"Levante” aborda o dilema de uma jovem jogadora de vôlei que vê a carreira ameaçada por uma gravidez não desejada. A escolha pelo aborto a leva a buscar caminhos clandestinos em um país onde a prática ainda é crime e a sofrer pressões de uma sociedade cada vez mais conservadora.
O direito ao aborto é uma das causas mais antigas do movimento feminista, mas Lillah Halla frisa que “tem cuidado com encaixotar (o filme) num lugar feminista, apesar de acreditar num feminismo que é um transfeminismo. Também é feminista, mas é muito mais. Não são corpos apenas femininos, são corpas. Não é um detalhe. É por isso que eu insisto; é um olhar sobre os direitos reprodutivos e a violência sobre os corpos”.
“Levante” faz uma abordagem queer e não cisgênera feminina. A personagem principal, Sofia, integra uma equipe de vôlei juvenil formada por atletas LGBTQI+ que a apoiam. “A gravidez indesejada, ela é algo que pode acontecer a todas as ‘corpas’ com útero. Não é um filme de mulheres para mulheres, é um filme de pessoas, para pessoas”, esclarece a cineasta.
"Alegria política"
Para contar essa história e falar da pressão e ameaças da sociedade conservadora brasileira contra a decisão de Sofia de abortar, Lillah Halla confere à trama um clima de suspense. “Talvez eu pudesse fazer um filme de terror com esse assunto, né?”, ironiza.
O filme levou quase oito anos para ficar pronto e ela diz que após o “pandemônio pelo qual o Brasil passou” não quis fazer uma “jornada clássica” de uma personagem vivendo essa situação sozinha. “De onde sai a luz no filme? Das pessoas que dão esse suporte para Sofia (...). Um processo estratégico político, de coletivo mesmo, de levante. Hoje, para mim, uma das coisas mais importantes é a alegria política”.
Atriz principal
A personagem principal é protagonizada por Ayomi Domenica, conhecida no Brasil pelas várias séries, mas que vive com “Levante” seu primeiro papel de protagonista em um longa-metragem. Essa é também a primeira vez que a atriz vem a Cannes.
Segundo ela, a experiência está sendo importante profissional, “uma oportunidade grandiosa”, e pessoalmente. “Quanto isso me afeta? Medo e também coragem, ousadia para não abandonar esse assunto. Também estou sujeita a isso, porque também posso engravidar e também posso passar por um desespero como esse, vivendo no Brasil, correndo riscos, e tendo pessoas ao meu redor que também vivem o mesmo risco”, afirma Ayomi Domenica.
Caméra d’Or
Esta foi a segunda participação de Lillah Halla, radicada em Berlim, na “Semana da Crítica”. Em 2020, Lillah Halla, que se formou em cinema em Cuba, foi selecionada e estreou na mostra de Cannes o curta “Menarca”, premiado em vários festivais e qualificado ao Oscar de 2022.
Como “Levante” é seu longa de estreia, além da Semana da Crítica, ela também concorre ao importante prêmio ”Caméra d’Or”, que recompensa os primeiros filmes selecionados em Cannes, e que será revelado no sábado (26), último dia do festival.
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