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Cannes: thriller brasileiro discute sexismo e extremismo na Quinzena dos Realizadores

Vestida com uma camiseta com a frase “Vacina, sim – ele, não”, a cineasta carioca Anita Rocha Silveira recebeu a equipe da RFI Brasil em Cannes para falar do seu filme “Medusa”, selecionado para a Quinzena dos Realizadores.

Anita Rocha Silveira apresenta o longa "Medusa" na Quinzena dos Realizadores, em Cannes (12/07/2021).
Anita Rocha Silveira apresenta o longa "Medusa" na Quinzena dos Realizadores, em Cannes (12/07/2021). © Patricia Moribe/RFI
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Por Patricia Moribe, enviada especial a Cannes

“Medusa” é um thriller que, apesar de distópico, traz discussões bastante realistas sobre o Brasil de hoje, como religião, extrema direita e machismo.

“Eu queria muito falar do machismo estrutural, como isso afeta homens e mulheres, de como crescemos tendo que nos controlar tanto, desde as roupas que podemos usar, a nossa primeira vez, o tom de voz que é permitido, senão podemos ser tachadas de loucas, histéricas, de piranhas e outras coisas assim”, explica Anita. “De tanto sermos controladas, acabamos controlando outras mulheres”, acrescenta.

Para tratar desse assunto, a cineasta decidiu colocar em cena jovens que vêm de um universo muito conservador, “que hoje é uma boa porcentagem da sociedade brasileira”.

A personagem principal, Mari (Mariana Oliveira), faz parte de um coral neopentecostal chamado Preciosas do Altar. Ela vive em um mundo que venera a beleza plástica, além de Deus. Ela trabalha em uma clínica de estética, mas perde o emprego após um incidente que provoca uma cicatriz em seu rosto. A beleza maculada a faz ser expulsa do grupo feminino. Ela passa, então, a questionar certos dogmas e aos poucos vai encontrando a liberdade de ser como ela é.

Anita conta que o filme teve origem em 2015, quando se deparou com notícias sobre grupos de jovens mulheres em várias áreas do Brasil que atacavam violentamente outras adolescentes que teriam violado a máxima da “bela, recatada e do lar”. A diretora ousa no quesito estético, aproveitando a plasticidade da linguagem visual. “Meu objetivo não é filmar a vida como ela é”, diz Anita, que cita como inspiração o cinema de David Lynch, por exemplo.

Em um novo projeto de longa-metragem, a cineasta carioca quer trabalhar a memória, ou melhor, a falta dela. “Eu quero falar de como as pessoas se esquecem de coisas que aconteceram e não percebem que situações se repetem politicamente”, diz. “Há também as que negam a tortura na ditadura, o que é uma barbaridade.”

Protesto no tapete vermelho

A equipe do filme aproveitou o tapete vermelho na noite de apresentação do filme “Três Andares”, do italiano Nino Moretti, no domingo (11), para abrir uma faixa nas escadarias de Cannes, com a seguinte frase, em inglês: “533 mil morreram no Brasil de uma doença para a qual já tem vacina”.

Na sexta-feira (9), outro protesto contra a má gestão da crise sanitária no Brasil aconteceu no final da projeção de “O Marinheiro das Montanhas”, de Karim Ainouz. Uma faixa vermelha trazia a mensagem: “Brasil 530 mil mortos. Fora, gângster genocida”.

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