#MeToo: Cannes vai exibir filme de atriz francesa que relançou debate sobre abusos no cinema
Os organizadores do Festival de Cannes decidiram exibir em sua próxima edição um curta-metragem sobre o tema dos abusos sexuais no mundo do cinema. O filme é assinado pela atriz e diretora francesa Judith Godrèche, que relançou o debate sobre o assunto após denunciar dois grandes diretores franceses, Benoît Jacquot e Jacques Doillon, de estupro. A 77ª edição do Festival de Cannes tem início em 14 de maio.
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Intitulado "Moi Aussi" (Eu também), o filme de Judith Godrèche “coloca em evidência as histórias de vítimas de violência sexual”, declarou o festival em um comunicado. “Cannes espera dar voz a esses testemunhos”, completou.
Com esse filme, “Judith Godrèche usa os dois meios de expressão que melhor conhece – a escrita e o cinema – para reunir homens e mulheres que compartilharam suas experiências traumáticas com ela”, ressalta o festival, afirmando que mil pessoas participam do projeto. Muitos testemunhos foram identificados graças a um apelo feito pela própria atriz nas redes sociais.
Sem dar mais detalhes sobre o teor da produção, os organizadores explicaram apenas que o filme, que dura 17 minutos, começou a ser produzido logo após o discurso de Godrèche durante a cerimônia do César, o mais importante prêmio do cinema francês, quando a atriz denunciou a impunidade da indústria cinematográfica sobre a questão da violência sexual.
A atriz de 52 anos apresentou queixas judiciais contra os diretores Benoît Jacquot e Jacques Doillon por estupro, acompanhado de violência física no caso de Jacquot, em filmagens quando ainda era adolescente. Desde então, a francesa, que já atuou em quase 50 filmes, se tornou um símbolo da luta contra o assédio e a violência sexual no cinema francês.
Relacionamento abusivo
Godrèche teve um relacionamento com Jacquot, que a dirigiu em um de seus primeiros filmes, e afirma ter sido vítima de comportamento abusivo. Na época ela tinha 15 anos, o cineasta 39 e a relação dos dois durou seis anos. Após a denúncia, outras atrizes revelaram publicamente terem sido vítimas de Jacquot.
No caso de Jacques Doillon, ela revelou que o cineasta teria abusado dela em um set de filmagem, ao substituir um ator durante cenas de sexo com a personagem que ela interpretava. A violência aconteceu quando ela era ainda menor de idade.
Ambos os cineastas negam as acusações. Mas as revelações de Godrèche levaram a um novo movimento para liberar as vozes das vítimas na indústria cinematográfica, sete anos após o surgimento do movimento #MeToo em Hollywood.
As revelações da atriz tiveram um impacto na mídia, mas também na esfera política. Na semana passada, a Assembleia Nacional Francesa aprovou a criação de comissão parlamentar de inquérito para investigar casos de “abuso e violência” nos setores de cinema, audiovisual, artes cênicas, moda e publicidade, atendendo a uma solicitação feita por Godrèche. No âmbito judicial, foi aberta uma investigação preliminar em Paris contra os dois diretores.
O curta-metragem “Moi aussi” será apresentado na cerimônia de abertura da mostra Um Certo Olhar, em 15 de maio.
(Com informações da AFP)
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