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Em Davos, Haddad defende sustentabilidade ambiental e fiscal com política de acesso a crédito

O Brasil voltou ao Fórum Econômico Mundial de Davos nesta segunda-feira (16), após quatro anos de ostracismo do governo Bolsonaro. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo Lula vai impulsionar o crescimento econômico com sustentabilidade fiscal e ambiental, sem abrir mão de justiça social. Questionado por jornalistas sobre a necessidade de uma ampla reforma tributária no país, Haddad declarou que o projeto que está no Congresso "tem muitos méritos". A principal preocupação do governo, afirmou, é com a agenda de crédito.

O governo Lula é representado em Davos pelos ministros Fernando Haddad, da Fazenda, e Marina Silva, do Meio Ambiente.
O governo Lula é representado em Davos pelos ministros Fernando Haddad, da Fazenda, e Marina Silva, do Meio Ambiente. AP - Markus Schreiber
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Em seu primeiro dia de compromissos em Davos, Haddad disse que as instituições brasileiras "deram uma resposta muito imediata" depois que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram edifícios governamentais em Brasília no dia 8 de janeiro. "O Brasil está comprometido com o resultado eleitoral, com as regras democráticas, a liberdade, as liberdades individuais, respeitando as garantias constitucionais", afirmou a um grupo de jornalistas que foram entrevistá-lo no hotel em que está hospedado.

Para esta primeira viagem internacional como representante do novo governo brasileiro, Haddad foi solicitado para uma maratona de 12 reuniões, que fará em apenas dois dias de estadia na badalada estação de esqui suíça. 

"Podemos pensar na reindustrialização do Brasil com base na sustentabilidade", apontou o ministro, depois de afirmar que o país quer retomar seus compromissos ambientais, combatendo o desmatamento e fazendo avançar os projetos de energia renovável.

Haddad reuniu-se, nesta segunda-feira, com Achim Steiner, chefe do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas. Depois, teve um encontro com o novo presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, o brasileiro Ilan Goldfajn.

O plano fiscal ambicioso apresentado na semana passada para reduzir o déficit estimado do governo para mais da metade neste ano, aumentando a receita tributária e diminuindo as despesas, contempla os objetivos de sustentabilidade e redistribuição. Ainda assim, os investidores aguardam detalhes sobre as novas regras fiscais.

Agenda de crédito

Jornalistas brasileiros que fazem a cobertura em Davos questionaram o ministro sobre a demanda insistente por uma ampla reforma tributária, ao que Haddad respondeu: "O projeto que está no Congresso é essencial porque não apenas simplifica, como dá transparência, faz com que a carga recaia sobre os setores de maneira um pouco mais justa e prepara o terreno da reforma seguinte, que envolve os impostos diretos para buscar menos regressividade no sistema", afirmou. "Essa reforma tem muitos méritos; não é a bala de prata, mas é muito importante", frisou. 

O ministro da Fazenda de Lula disse estar mais preocupado, no momento, com a agenda de crédito no Brasil. "O crédito no Brasil nunca foi assistido e temos outra chance agora de, acompanhados pelo Banco Central e o Congresso Nacional, fazermos novas reformas visando acesso a crédito", disse Haddad. A prioridade do governo é "limpar o nome das pessoas que estão listadas no Serasa" por inadimplência. De acordo com o ministro, o Brasil tem atualmente "70 milhões de CPFs negativados". "Precisamos trazer essas pessoas de novo para o mercado de consumo", explicou, acrescentando que o governo irá lançar um programa nessa área.

Marina: meio ambiente e combate a desigualdades alinhados

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que acompanha Haddad no encontro das elites globais na Suíça, participou do painel "Em harmonia com a natureza". Ela martelou que a defesa do meio ambiente deve estar alinhada ao combate das desigualdades no Brasil e no resto do mundo. Marina recordou em Davos que o Brasil tem 120 milhões de pessoas que estão passando fome. "O país voltou ao Mapa da Fome durante o governo Bolsonaro e tem atualmente 33 milhões de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia", destacou a ministra. Ela defendeu a ideia de que é preciso "liderar pelo exemplo" e superar o estágio das discussões eternas para implementar ações concretas. 

Marina também defendeu o conceito de "constrangimento ético" de governantes, que devem ser cobrados por suas promessas e responsabilidades. Ela usou essa expressão quando recordou que havia implantado um sistema de monitoramento real de desmatamento durante o primeiro governo Lula (2003-2006). Muitas pessoas manifestaram o temor que os dados abertos ao mundo pudessem causar constrangimento ao Executivo. Segundo Marina, "na época, ninguém entendeu nada". "Nós somos os maiores produtores de grãos, e o presidente Lula tem dito: nós vamos matar a fome dos brasileiros também", prometeu Marina em Davos. 

Ucranianos em Davos

Além da participação brasileira, uma grande delegação de ucranianos, liderada pela primeira-dama Olena Zelenska, está presente em Davos, em busca de recursos humanitários e armas para enfrentar a invasão da Rússia, que está próxima de completar um ano e tem destruído o país. 

O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, disse nesta segunda aos jornalistas que a economia ucraniana está totalmente destruída, assim como as infraestruturas e a vida de seus cidadãos. "A guerra é uma tragédia porque (o presidente russo, Vladimir Putin) tem a ideia maluca de reconstruir o império soviético", disse o ex-lutador de boxe, hoje prefeito da capital ucraniana. "Nós vivemos no império e não queremos voltar para a URSS", disse Klitschko. "É dentro da família europeia que vemos nosso futuro", concluiu.

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