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Animais/Extinção

Bolívia: as rãs gigantes do Lago Titicaca na rota da extinção por causa do Homem

O Titicaca, o lago navegável mais alto do mundo, situado a 3.600 metros acima do nível do mar, abriga uma espécie de sapo muito especial: a rã gigante do lago Titicaca, que vive apenas nessa área do planeta. Em perigo de extinção, esta grande dama do fundo do lago pode desaparecer para sempre, por causa da ameaça humana.

A rã gigante do lago Titicaca, conhecida como Telmatobius culeus.
A rã gigante do lago Titicaca, conhecida como Telmatobius culeus. © Arturo Muñoz, Bolivian Amphibian Initiative
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Alice Campaignolle, correspondente da RFI na Bolívia

Ele pode medir 35 centímetros de comprimento, às vezes pesa até meio quilo, e na década de 1970 chamou a atenção do famoso explorador Jacques-Yves Cousteau. Trata-se do sapo gigante do Lago Titicaca, e seu nome latino é Telmatobius culeus. Uma de suas especificidades mais notáveis é conseguir respirar debaixo d'água, através de sua pele. E infelizmente, tem outra peculiaridade, menos gloriosa: está em sério risco de extinção.

No entanto, é difícil dar números exatos. Arturo Muñoz, da Fundação Boliviana de Iniciativas dos Anfíbios, explica: "O número de indivíduos está diminuindo e, em algumas áreas, eles desapareceram completamente. Mas dar números é complicado no momento. Porque é um sapo difícil de ver, que vive essencialmente debaixo d'água. Então, para a pesquisa, é preciso um barco e mergulhadores”. O pesquisador Cousteau e sua equipe tiveram que mergulhar nas águas do lago Titicaca, sob os olhos perplexos dos moradores locais, para observar a fauna subaquática.

Mas, na época de Costeau, as águas eram cristalinas e as margens sem lixo: a poluição não havia atingido as taxas atuais. Hoje, o lixo e detritos das cidades vizinhas degradam o lago, prejudicando seu equilíbrio milenar. Mas há algo ainda mais grave: cobre, chumbo, arsênico, mercúrio. São metais pesados ​​encontrados nas águas do Titicaca devido a resíduos gerados pela atividade da mineração. Um conjunto de fatores que tornam o lago dificilmente habitável para o sapo gigante e para muitos outros animais.

Animais morrem aos milhares

Em 2015, um evento conscientizou as pessoas sobre o estado do lago: uma "floração" de algas foi criada na superfície, e o Titicaca se tornou de coloração verde. O fenômeno é devido em particular à presença humana e a um excesso de nutrientes trazidos por uma estação chuvosa anormalmente longa.

Consequência assustadora desta "capa" de algas verdes na superfície: as rãs morrem aos milhares. Em uma região de apenas 50 km, haviam até 10.000 sapos mortos. Para Xavier Lazzaro, "oceanógrafo de água doce", como ele se auto intitula, "este evento dramático permitiu uma coisa: a sociedade civil e as autoridades políticas tornaram-se plenamente conscientes da urgência da situação. A partir de agora todos os atores são mobilizados, os políticos, os cidadãos, os cientistas, no Peru, como na Bolívia."

Batidos vivos para fazer suco de sapo

Como o lago está espalhado por dois territórios, Bolívia e Peru, as ameaças a estes animais vêm de ambos os países. Um hábito peruano, por exemplo, que agora se estende à Bolívia: o consumo de carne destes anfíbios. "É um costume muito francês comer rãs, mas agora vocês não têm mais exclusividade", ri Arturo Muñoz.

Um riso amarelo, porque é uma ameaça séria que paira sobre esta espécie, caçada para consumo: pernas de sapo, sopa de sapo, mas também suco de sapo! Nos dois lados da fronteira, em algumas feiras, encontra-se o licuado de rana, bebida em que as rãs são batidas vivas e que permite curar a tosse, a bronquite, e ajuda no vigor sexual. "Em resumo, são atribuídas todas as virtudes", ironiza Muñoz.

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