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Guerrilha

Depois das Farc, começa cessar-fogo do ELN na Colômbia

Após meio século de um enfrentamento feroz, a guerrilha do Exército de Liberação Nacional (ELN) e as forças armadas iniciaram na primeira hora deste domingo (1º) um inédito cessar-fogo na Colômbia. 

Guerrilheiros do ELN, prontos para calar as armas.
Guerrilheiros do ELN, prontos para calar as armas. REUTERS/Federico Rios
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A trégua, que a princípio se estenderá até 9 de janeiro, representa o maior avanço nas negociações de paz realizadas desde fevereiro entre o governo colombiano e o ELN em Quito, no Equador, para pôr fim ao conflito mais longo das Américas.

"A partir deste momento, e como disse nosso comandante Nicolás Rodríguez, o ELN cumprirá o cessar-fogo bilateral de forma plena", informou a delegação de paz do grupo insurgente em sua conta no Twitter.

É a primeira vez que o Exército de Libertação Nacional aceita suspender suas operações de forma temporária e recíproca desde que pegou em armas em 1964. As forças armadas colombianas, por sua vez, já tinham recebido a instrução do presidente Juan Manuel Santos para interromper suas operações.

Um preâmbulo sangrento

A trégua é antecedida de uma semana de ataques contra a força pública, e contra um dos principais oleodutos do país, deixando um militar morto, além de vazamentos de petróleo em vários rios dos departamentos (estados) de Norte de Santander e Arauca, fronteiriços com a Venezuela.

No sábado, os rebeldes também sofreram um duro golpe, ao perder um de seus líderes no nordeste do país, conhecido como "Carro Loco", em uma operação de comandos especiais, segundo um comunicado do comando militar.

Ainda assim, o presidente Santos espera que o cessar-fogo "seja o primeiro passo para alcançar a paz" com o ELN, após conseguir o desarmamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que foi a guerrilha mais antiga e poderosa do continente.

Compromissos

O cessar-fogo com o ELN, que surgiu sob a influência da revolução cubana misturada aos princípios cristãos da Teologia da Libertação, vai além do campo militar. Com 1.500 combatentes, segundo cifras oficiais, a organização se comprometeu a deter os ataques petroleiros, a tomada de reféns, o recrutamento de menores de 15 anos e a instalação de artefatos explosivos. O ELN também aceitou analisar "a liberação dos sequestrados que têm em seu poder", segundo o chefe negociador do governo, Juan Camilo Restrepo.

O governo, por sua vez, deverá melhorar as condições carcerárias de 450 guerrilheiros e fortalecer a proteção de líderes sociais e de direitos humanos, alvos de ataques que deixaram 190 mortos desde janeiro de 2016, segundo a Defensoria do Povo.

Um mecanismo formado pela ONU, pelo governo, pelos rebeldes e pela Igreja católica verificará a trégua no terreno. As Nações Unidas enviarão observadores aos 33 municípios com maior presença do ELN, enquanto a Igreja católica acompanhará o mecanismo em 20 dioceses. O componente internacional será o encarregado de facilitar o entendimento entre as partes diante de eventuais violações do cessar-fogo.

Paz completa

Criticado por setores conservadores por suas supostas concessões à rebelião armada, o governo Santos quer selar um acordo com o ELN que conduza a uma "paz completa".

Santos, que deixará o poder em agosto de 2018, já levou adiante um pacto que permitiu o desarmamento de 7.000 combatentes e a transformação das Farc em partido político.

Os confrontos na Colômbia, que, além das guerrilhas, envolveram paramilitares, narcotraficantes e agentes do Estado, provocaram em 50 anos 7,5 milhões de vítimas, entre mortos, desaparecidos e deslocados.

O ELN celebrou diálogos preliminares de paz com todos os presidentes desde 1990, mas a de Quito é sua primeira negociação formal. Alguns observadores afirmam que o cessar-fogo iniciado neste domingo poderia ser mais frágil que o que vigorou com as Farc. Enquanto as Farc sempre atuaram como uma organização muito vertical, o ELN tem uma estrutura federada. Seu órgão máximo de decisão é o Comando Central (COCE), formado por cinco membros, liderados por Nicolás Rodríguez.

“Ainda que as frentes possam tomar decisões militares autônomas, o cessar-fogo é uma decisão política do COCE”, explica, mais otimista, o cientista político Víctor De Currea-Lugo, especialista na guerrilha guevarista. "O ELN hoje está unido (...) Todas as estruturas vão levar a sério", opinou em entrevista para a AFP.

Em 23 de outubro, o governo colombiano e o ELN devem abrir, em meio ao cessar-fogo, o quarto ciclo de conversações de paz em Quito.

(Com agência AFP)

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