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Cerimônia oficializa fim do desarmamento das Farc na Colômbia

A Colômbia vive um dia histórico nesta terça-feira (27). A guerrilha das Farc encerrou na segunda-feira (26) a entrega de todas as armas individuais de seus 7 mil guerrilheiros à missão da ONU, como previa o Acordo de Paz. Hoje, o presidente Juan Manuel Santos e o chefe das FARC, Rodrigo Londoño, mais conhecido como "Timochenko", participam de uma cerimônia que oficializa a conclusão dessa etapa crucial do desarmamento e o ingresso das Farc no processo democrático colombiano.

A guerrilha das Farc terminou na segunda-feira, 26 de junho de 2017, a entrega de todas as armas individuais de seus 7 mil guerrilheiros à missão da ONU, como previa o Acordo de Paz.
A guerrilha das Farc terminou na segunda-feira, 26 de junho de 2017, a entrega de todas as armas individuais de seus 7 mil guerrilheiros à missão da ONU, como previa o Acordo de Paz. REUTERS/Jose Miguel Gomez/File Photo TPX IMAGES OF THE DAY
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Andrea Domínguez, correspondente da RFI em Bogotá

Após meio século de guerra contra o Estado, a guerrilha das FARC finalizou a entrega das armas e deixa de ser um grupo insurgente para se tornar uma organização política com participação ativa no jogo democrático. A cerimônia oficializando esse momento histórico acontece ao meio-dia, pelo horário local, 14h em Brasília. Ela acontece em Mesetas, no sul do país, uma área tradicionalmente dominada pelas FARC e onde está concentrada a maioria dos guerrilheiros.

Segundo a ONU, até segunda-feira as FARC tinham entregue 7.132 armas, isto é, uma para cada combatente registrado desde fevereiro passado. No entanto, um pequeno número de armas será permitido, até primeiro de agosto, em 26 zonas menores da guerrilha para permitir a segurança nessas áreas. Armamento pesado, oculto em depósitos secretos, também será entregue até o dia primeiro de agosto.

Incertezas

Embora seja um grande dia para o país, que durante cinco décadas sofreu com o conflito armado, tanto ex-combatentes quanto civis que moram nos territórios de influência da guerrilha, ainda vivem num clima de muita incerteza sobre o que virá nos próximos meses.

Para cada um dos ex-guerrilheiros, a nova vida que começa hoje sem um fusil pendurado no ombro, sem um uniforme com o qual se identificar e sem uma ordem para obedecer, vai ser um desafio enorme. Muitos desses sete mil homens e mulheres temem pelo seu futuro. Como vão sobreviver, trabalhar, onde vão morar, será que vão ser aceitos de novo na sociedade, são algumas das perguntas levantadas. Muitos deles questionam principalmente se suas vidas serão respeitadas quando já não tiverem mais uma arma para se proteger.

O medo não é infundado em um país com uma história de perseguição política e um passado violento, marcado pela oposição de ideologias de esquerda.

Justiça Especial para a Paz

Com o desarmamento, as FARC se tornaram um partido político que poderá participar das eleições legislativas em março de 2018. Segundo o estabelecido nos acordos de paz, o movimento terá garantidas cinco vagas no Senado e cinco na Câmara dos Deputados. Mas independentemente de querer ou não se lançar como candidato, o Acordo de Paz prevê que todos os ex-guerrilheiros deverão primeiro encarar a Justiça Especial para a Paz, fato que também gera apreensão.

Ainda restam muitos desafios pela frente na Colômbia. Grupos criminosos que tentam dominar os territórios deixados pelas FARC se proliferam e o país vive uma aguda polarização política, dividido entre os partidários e os opositores ao processo. Mesmo assim, a importância dessa data em que a guerrilha mais antiga do mundo deixa as armas é inquestionável.

A analista Marisol Gómez escreveu no diário El Tiempo que “a entrada das FARC na política apresenta ao Estado e às suas instituições o desafio de demostrar que na Colômbia do século 21 todos podem defender as suas ideias na legalidade e sem o temor de serem assassinados”.

Talvez querendo passar uma imagem de esperança, Julián Gallo, um dos comandantes das FARC que assinou os acordos de paz, chegou ontem a Mesetas com a sua filha Dalila no colo. O bebê de apenas três meses de idade, assim como outras crianças que nasceram nos acampamentos nos últimos meses, provavelmente não vai se lembrar que participou da comemoração, mas com certeza irá estudar a data nos livros de história.

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