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Argentina/Calote

Argentina acaba com o corralito, mas efeitos estão longe do fim

A Argentina deve reembolsar nesta sexta-feira os últimos detentores de títulos emitidos durante o congelamento das cadernetas de poupança da crise de dezembro de 2001 e anunciar assim o fim do chamado "corralito". Esse foi um dos fatos mais traumáticos do desastre econômico que levou a uma rebelião popular e à queda do governo de Fernando de la Rúa.

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Como resultado, a Argentina deu o maior calote da História, de 100 bilhões de dólares. Grande parte desses últimos títulos a serem reembolsados estão nas mãos de bancos de investimento. Muitos poupadores que precisavam de dinheiro rapidamente acabaram vendendo seus papéis por um valor muito abaixo do que o que está sendo pago hoje pelo governo.

Um painel eletrônico foi instalado na fachada do Ministério da Economia para a contagem regressiva de um dia histórico para os argentinos. "Terminaremos de reembolsar o corralito dentro de 10horas, 5 minutos e 12 segundos". Pouco abaixo do painel, a simbólica frase: " Sem dívida, nós somos livres". Nesta quinta-feira a presidente argentina Cristina Kirchner anunciou que um período histórico se fecha no país e que tudo o que será reembolsado agora é nada mais do que uma obrigação dos bancos, que deveriam restituir os valores aos cidadãos argentinos. Para fechar o capítulo histórico do corralito, o governo argentino emitiu títulos no valor de 19 bilhões de dólares (cerca de 40 bilhões de reais), dos quais 2,3 bilhões de dólares ( 4,6 bilhões de reais) serão reembolsados nesta sexta-feira.

No dia 3 de dezembro de 2001, com a intenção de conter o saques massivos das contas bancárias argentinas e evitar uma quebra dos bancos, o ministro da economia Domingo Cavallo ordenou o congelamento de todas as cadernetas de poupança, uma soma de cerca de 156 bilhões de reais. Para o secretário da Associação das Pessoas Lesadas pelo Calote, o fim do corralito é somente um simbolismo. "Para milhares de argentinos, essa história está longe do fim", lembra HugoVazquez.

Os efeitos do corralito, por exemplo, são sentidos até hoje na família Aran, que vive no subúrbio de Buenos Aires. "Eu fui demitido e depositei o dinheiro que recebi da minha demissão em uma conta no banco Scotianbank. Minha esposa adoeceu e eu não pude retirar sequer um centavo para pagar o tratamento dela. O Scotianbak deixou a Argentina sem reembolsar os clientes e eu tive que vender nossa casa, pela metade do seu preço de mercado", conta Alberto Aran, 70 anos, que perdeu sua esposa e nunca mais recuperou as suas economias depositadas no Scotianbak. Além disso, Alberto Aran frequenta até hoje sessões de terapia direcionadas para pessoas lesadas pelo maior calote da História. Muitos argentinos conseguiram recuperar uma parte das economias graças às decisões da justiça. Mas eles ainda são minoria a festejar um verdadeiro fim do corralito.

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