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Caso Emmily: Empresário suspeito de matar brasileira na Argentina pode ser libertado

Se o juiz acatar o pedido de liberdade do suspeito Francisco Sáenz Valiente, será um sinal de que a versão de morte de Emmily Gomes por suicídio sob efeito de alucinógenos prevalece sobre a versão da acusação, de feminicídio para encobrir uma tentativa de abuso sexual. A RFI entrevistou os advogados de defesa e acusação e teve acesso a detalhes do processo que investiga a morte da brasileira que caiu no sexto andar de um prédio residencial em 30 de março.

Se o juiz acatar o pedido de liberdade do suspeito Francisco Sáenz Valiente, será um sinal de que a versão de morte de Emmily Gomes por suicídio sob efeito de alucinógenos prevalece sobre a versão da acusação, de feminicídio para encobrir uma tentativa de abuso sexual.
Se o juiz acatar o pedido de liberdade do suspeito Francisco Sáenz Valiente, será um sinal de que a versão de morte de Emmily Gomes por suicídio sob efeito de alucinógenos prevalece sobre a versão da acusação, de feminicídio para encobrir uma tentativa de abuso sexual. AFP - LOIC VENANCE
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

“Fiz tudo o que foi possível para evitar que Emmily pulasse pela janela”, disse o empresário Francisco Sáenz Valiente, 52, em uma carta de condolências escrita à família da vítima, suas primeiras palavras públicas desde o incidente, quando ela caiu no vão interno de um luxuoso edifício na Recoleta, zona nobre de Buenos Aires.

Desde então, o empresário está preso em uma delegacia no bairro de Barracas. Em 5 de abril, ele escreveu uma carta à família da modelo brasileira Emmily Rodrigues Santos Gomes, de 26 anos.

“Caros pais,

Lamento muito o acidente de sua filha.

Fiz tudo o que foi possível para evitar que ela pulasse pela janela.

Foi uma tragédia e liguei duas vezes para o 911 para pedir ajuda à polícia.

Usei toda minha força para salvá-la.

Daqui da prisão, lhes envio enormes condolências.

Espero que se esclareça minha inocência.

Francisco Sáenz Valiente”

“Como Francisco Sáenz Valiente não conhece a família, a carta foi anexada ao processo. Meu cliente e sua família estão muito mal. Igual à família de Emmily. Essa é uma tragédia para duas famílias. Por isso, Sáenz Valiente escreveu uma carta em que fala sobre a lamentável situação em que ele não conseguiu, depois de tentar três ou quatro vezes, conter Emmily”, explica à RFI o advogado Rafael Cúneo Libarona, uma referência em direito penal na Argentina.

Corpo encontrado nu

As testemunhas alegam que a vítima teria tirado a própria roupa, em função da hipertermia causada pelo consumo de drogas.

“As circunstâncias para que Emmily termine nua no vão do edifício são bastante confusas. É algo, no mínimo, chamativo. Nós consideramos que a versão da defesa é uma mera tentativa de melhorar sua situação processual”, rebate o Ignacio Trimarco, advogado da família de Emmily, em entrevista à RFI.

“As testemunhas dizem que, em nenhum momento, houve sexo. A autópsia diz que não havia sêmen. Todos estavam vestidos. Era uma reunião de amigos, mas uma reunião em que consumiam cocaína e outras drogas”, afirma Cúneo Libarona.

O advogado da acusação, Ignacio Trimarco, acrescenta à RFI que foram encontrados dois preservativos usados, mas o advogado da defesa nega essa informação.

“Dentro do apartamento, foram encontrados dois preservativos usados cujo material genético será agora analisado para descartar que essa circunstância da morte de Emmily não esteja relacionada com abuso sexual”, indica Trimarco.

Surto psicótico

A RFI perguntou a Cúneo Libarona como uma pessoa que mede apenas 1,57m e pesa 60Kg não pôde ser contida na sua suposta tentativa de suicídio por duas pessoas, o empresário Francisco Sáenza Valiente e a outra brasileira presente no momento da morte, a médica Juliana Magalhães Mourão, 37.

Foi Juliana quem apresentou Emmily a Francisco nesse mesmo dia. O nome de Juliana aparece como integrante da diretoria da empresa de Sáenz Valiente, dedicada ao agronegócio e à mineração.

Os depoimentos das testemunhas apontam em uma mesma direção: Emmily teve um surto psicótico, após misturar álcool, maconha, cocaína e cocaína rosa, uma droga sintética com efeito alucinógeno, e se tornou incontrolável.

As testemunhas são a cubana Dafne Santana, a argentina Lía Alves, além da brasileira Juliana Mourão, que a princípio disse à Polícia não conhecer a vítima.

“As circunstâncias que rodeiam Juliana são, pelo menos, contraditórias. Supostamente é uma amiga que levou Emmily à casa desse empresário, mas quando a amiga dela, segundo o seu relato, teve um acidente e caiu no vão, ela não prestou socorro, sendo uma médica. A polícia a encontrou no hall do edifício, quando Juliana tentava fugir da cena”, relata Ignacio Trimarco.

A RFI tentou contato com Juliana Mourão, que não respondeu ao pedido de entrevista.

Pedido de socorro

Nas duas ligações de Francisco Sáenz Valiente ao número de emergências, minutos antes de Emmily cair, o empresário pede que a polícia vá ao apartamento porque Emmily estaria “alterada” como se estivesse “possuída”. No fundo das chamadas, Emmily pode ser ouvida pedindo socorro à polícia aos gritos.

“Uma pessoa num surto psicótico não pede socorro à polícia”, garante o advogado da família de Emmily.

Antes de supostamente pular pela janela do quarto do empresário que dá para o vão interno do edifício, Emmily teria tentado pular pela frente do edifício, tendo sido vista por um vizinho do prédio de frente. Esse vizinho descreve ter visto Emmily pedir ajuda e ser puxada para dentro por um homem.

A RFI também questionou por que o empresário está preso, enquanto a outra brasileira, a médica Juliana Mourão, é considerada apenas uma testemunha, se também pode ter participado do eventual homicídio.

“O motivo pelo qual Francisco está preso e a outra testemunha, Juliana, está em liberdade, quando as duas pessoas estavam no mesmo lugar, ao mesmo tempo, com a mesma participação, acho que se deve ao fato do juiz ou o promotor entender que Francisco era o dono da droga. Mas aqui na Argentina o consumo pessoal não é delito”, ressalta Cúneo Libarona.

Posse de arma, fornecimento de droga e feminicídio

A Justiça ampliou a acusação contra o empresário, indiciado também por posse ilegal de arma, fornecimento de drogas e homicídio agravado por feminicídio, um crime com pena perpétua.

O advogado Rafael Cúneo Libarona deve pedir a libertação do seu cliente nesta segunda-feira (17) e estima que o juiz acate o pedido, liberando o suspeito na quarta-feira (19).

A acatamento ou não do pedido por parte do juiz Martín Del Viso indicará o quanto Francisco Sáenz Valiente está ou não comprometido com as evidências.

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