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Tribunal russo condena célebre militante a dois anos e meio de prisão por criticar guerra na Ucrânia

O dissidente russo Oleg Orlov, um célebre defensor dos direitos humanos, foi condenado nesta terça-feira (27), em Moscou, a dois anos e meio de prisão por suas críticas à ofensiva russa na Ucrânia. Orlov, de 70 anos, era membro da ONG Memorial, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2022 pelo trabalho de preservação da memória da repressão na era soviética e que foi dissolvida pela Justiça russa.

O dissidente russo Oleg Orlov é algemado por um policial após o anúncio de condenação a dois anos e meio de prisão por um tribunal de Moscou nesta terça-feira (27).
O dissidente russo Oleg Orlov é algemado por um policial após o anúncio de condenação a dois anos e meio de prisão por um tribunal de Moscou nesta terça-feira (27). AFP - ALEXANDER NEMENOV
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"O tribunal decidiu declarar Orlov culpado e sentenciá-lo a uma pena de dois anos e seis meses (...) em uma colônia penal", anunciou o juiz ao ler o veredicto.

Dezenas de pessoas compareceram ao local para apoiar Orlov, entre eles, familiares. No momento do anúncio do veredicto, o dissidente olhou para a esposa e pediu para que não chorasse. Na saída do tribunal, algemado e cercado por policiais, ele foi ovacionado por apoiadores.

"Voltamos ao regime soviético, onde aqueles que não estão ao lado do poder são acusados de mentiras", afirmou um outro defensor dos direitos humanos na Rússia, Ian Ratchinski, após o julgamento. 

Svetlana Gannouchkina, que milita pela mesma causa, denunciou "um processo que nada tem a ver com a lei". "Ser julgado por declarações pedindo paz e criticando as autoridades é um absurdo. Mas cada tirano precisa de inimigos", reitrou. 

Sem arrependimento

Além de ter criticado por diversas vezes a ofensiva russa na Ucrânia, Orlov também assinou um artigo contra o Kremlin publicado no site de informação francês Mediapart. O dissidente acusou as tropas russas de "assassinatos em massa" de civis ucranianos e defendeu que Moscou busca "uma revanche total" pelo fim da então União Soviética, em 1991. 

Em sua última declaração ao tribunal, na segunda-feira (26), Orlov denunciou "o estrangulamento da liberdade" na Rússia e o envio de tropas russas para a Ucrânia. "Não me arrependo de nada", disse ele.

O dissidente também criticou a morte do opositor Alexei Navaly no último 16 de fevereiro em uma prisão no Ártico. Orlov se referiu ao incidente como um "assassinato", e fez um apelo aos outros opositores do Kremlin a "não perderem a coragem".

Na militância desde os anos 1970, Orlov se tornou um dos pilares da ONG Memorial, principal instituição russa de luta pela preservação da memória da repressão soviética e pela documentação de atos recentes contra os direitos humanos.

Recusa de exílio

Orlov era um dos últimos críticos do Kremlin que estava livre na Rússia. Muitos opositores ao governo russo preferiram se exilar, mas o defensor dos direitos humanos nunca quis deixar seu país natal.

"Sou mais útil aqui", disse em uma entrevista em meados de fevereiro, na qual defendeu que é "importante" que vozes críticas permaneçam na Rússia, apesar da repressão sistemática.

Para a esposa de Orlov, Tatiana Kassatkina, que também integrava a ONG Memorial, "o essencial será continuar trabalhando". "É muito importante ter uma voz aqui. Não conseguiríamos viver em outro país. Permanecer na Rússia foi uma decisão que tomamos juntos", ressaltou após o anúncio do veredicto.

Em outubro de 2023, Orlov já havia sido considerado culpado em primeira instância por "desacreditar" o Exército e foi condenado a uma pequena multa branda em comparação com as sentenças habituais contra críticos do governo. A Justiça russa decidiu então recorrer da sentença e abriu um novo processo contra o dissidente.

(Com informações da AFP

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