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Imagens na internet amplificam preconceitos de gênero com efeito duradouro nos usuários, diz estudo

As imagens na internet amplificam os preconceitos de gênero, em detrimento das mulheres, com um efeito duradouro nos usuários que são expostos a elas, de acordo com um estudo publicado nesta quarta-feira (14) na prestigiosa revista Nature

Estudo na prestigiosa Revista Nature mostra como as imagens difundidas na internet prejudicam a diversidade de gênero e causam efeitos duradouros nos internautas.
Estudo na prestigiosa Revista Nature mostra como as imagens difundidas na internet prejudicam a diversidade de gênero e causam efeitos duradouros nos internautas. Getty Images/iStockphoto - ajijchan
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Há muito tempo, as imagens têm precedido o texto no consumo de informações na Web. Essa tendência foi ampliada pelo uso de redes sociais em smartphones, onde plataformas como TikTok, Instagram e Snapchat favorecem sua publicação.

O estudo conduzido por Douglas Guilbeault, professor de sociologia da computação na Universidade norte-americana de Berkeley, mostra que essa hegemonia das imagens exacerba "o preconceito de gênero, em detrimento das mulheres", impondo uma maioria de imagens de homens, com um efeito psicológico claro e definitivo sobre os usuários.

A descoberta é considerada "alarmante, devido à possível consequência de reforçar estereótipos prejudiciais, principalmente para as mulheres, mas também para os homens", disse o pesquisador.

Coautora do estudo e professora em Berkeley, Solène Delecourt cita o "exemplo muito simples de uma criança tentando descobrir mais sobre uma profissão, que veria nas imagens apenas a representação de um gênero e poderia dizer a si mesma que aquilo não é para ela".

Esse problema é ainda mais grave, de acordo com o estudo, porque o "efeito silencioso" de uma imagem é multiplicado por sua ampla distribuição na web. As imagens são "mais facilmente memorizadas e emocionalmente evocativas" do que o texto.

"Efeito psicológico"

A equipe de Douglas Guilbeault analisou mais de um milhão de imagens extraídas automaticamente do Google, da Wikipedia e do banco de dados de filmes IMDb, além de um corpus de pesquisa de mais de cem bilhões de palavras no Google News.

Em seguida, eles mediram a associação de imagens e textos com quase 3.000 categorias sociais, incluindo ocupações [como médico ou carpinteiro] e funções [como colega ou vizinho].

Primeiro resultado detectado pelos estudiosos: um viés de gênero em favor dos homens, que estão mais presentes do que as mulheres nas imagens e nos textos. Segundo o resultado, essa tendência é muito mais acentuada em imagens do que em textos.

Por exemplo, o viés de gênero a favor de que as enfermeiras sejam mulheres "é sempre mais forte nas imagens do que nas descrições textuais dessa categoria nas mesmas plataformas on-line", explica o professor. Em outras palavras, "esses estereótipos são exagerados, ou mais fortes, nas imagens do que nos textos".

O estudo mostra que o fenômeno não se limita aos Estados Unidos - a equipe extraiu imagens de endereços da internet no exterior - ou a uma plataforma específica.

Esse viés nas imagens é mais pronunciado do que o detectado em uma pesquisa de opinião realizada pelos pesquisadores. Acima de tudo, ele está em desacordo com as estatísticas do Departamento do Trabalho dos EUA sobre gênero e ocupações.

Mas o mais perturbador foi medir o efeito psicológico das imagens em comparação com o texto.

Efeito duradouro

As pessoas pesquisaram em um banco de dados de imagens ou em um banco de dados de texto descrições de ocupações relacionadas à ciência, à tecnologia e às artes, como astronauta, harpista, poeta ou neurobiólogo.

Imediatamente depois, os participantes foram submetidos a um teste padrão, o IAT (Implicit Association Test), que mede os preconceitos implícitos de uma pessoa.

"Descobrimos que as pessoas que pesquisaram imagens tinham um viés de gênero mais acentuado" do que aquelas que pesquisaram textos, disse o professor Delecourt. Esse efeito foi duradouro, pois ainda era detectável três dias depois.

"Em última análise, as imagens influenciam as pessoas de maneiras das quais elas não têm consciência", acrescenta o professor Guilbeault. Em sua opinião, "não prestamos atenção suficiente a esse movimento em direção à comunicação baseada em imagens".

O estudo questiona a responsabilidade das plataformas de conteúdo na propagação do preconceito de gênero e as medidas que elas poderiam tomar para evitar acentuá-lo.

Ainda mais com o desenvolvimento de ferramentas de geração de imagens baseadas em inteligência artificial, cujos algoritmos extraem sua matéria-prima do contexto do conteúdo on-line.

O resultado é que "as imagens geradas por esses algoritmos refletem todos os tipos de preconceitos", observa o professor Guilbeault.

(Com AFP)

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