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Estado Islâmico assume responsabilidade por atentados no Irã que mataram mais de 80 pessoas

O grupo Estado Islâmico assumiu nesta quinta-feira (4), via Telegram, a responsabilidade por duas explosões que mataram, na quarta-feira (3), quase 90 pessoas no sul do Irã. Os ataques aconteceram durante uma cerimônia em homenagem aos quatro anos da morte do líder de uma unidade de elite da Guarda Revolucionária, Qasem Soleimani, assassinado em um ataque americano no Iraque em 3 de janeiro de 2020.

O número de mortos foi revisado para baixo: após 103 mortes anunciadas pela IRNA e depois 95 pelo ministro da Saúde, o chefe dos serviços de emergência relatou 84 mortes e 284 feridos.
O número de mortos foi revisado para baixo: após 103 mortes anunciadas pela IRNA e depois 95 pelo ministro da Saúde, o chefe dos serviços de emergência relatou 84 mortes e 284 feridos. © AFP - SARE TAJALLI
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O Irã decretou luto nacional nesta quinta-feira, um dia após o ataque que deixou pelo menos 84 mortos perto do túmulo do general Qasem Soleimani, antigo responsável pelas operações militares no Oriente Médio.

A dupla explosão ocorreu num contexto regional muito tenso desde o início do conflito, em outubro, entre Israel e o Hamas, e no dia seguinte à eliminação de um alto funcionário do movimento islâmico palestino num ataque perto de Beirute, atribuído a Israel.

Em entrevista à RFI, o diretor de pesquisa do CNRS, especialista em Irã e autor do livro "Iran. Paradoxes d’une nation“ (Irã: Paradoxos de uma nação, em livre tradução), Bernard Hourcade, destaca que Soleimani "era alguém muito complexo".

"Quando foi assassinado pelos americanos, houve um número inimaginável de pessoas em seu enterro, surpreendente em todo o Irã. Porque ele não era um guardião da revolução apenas, mas também um general do Exército iraniano e sobretudo um dos generais mais eficazes no combate ao Estado Islâmico. O Irã é o único país no mundo que combate o Estado Islâmico no campo de batalha", disse.

Houcarde detalha ainda que o atentado "atinge o Irã como potência emergente" e que o país não tem interesse em uma guerra contra Israel, "o que seria fatal para o regime islâmico". 

"O Irã defende sua identidade e a sobrevivência do regime, além de sua posição como potência regional", diz o especialista. "Uma sobrevivência que passa por um bom entendimento com a Arábia Saudita e a integração nos Brics desde o primeiro de janeiro. Assim, a guerra de Israel contra o Hamas e o atentado na homenagem a Soleimani, tudo isso acontece em um mau momento". 

Houcarde opina ainda que o atentando poderia levar à unidade da população em torno do regime, que está desacreditado, desde o caso de Masha Amini a jovem que morreu durante detenção por não usar o véu islâmico de maneira correta, que levou a manifestações contra o regime, com mais de 500 mortos. "Mas a ameaça à identidade nacional talvez seja uma maneira de reunificar não somente os muçulmanos, mas as pessoas que acreditam que não se pode fazer um atentado deste jeito".

Homem-bomba

Uma multidão de representantes do regime iraniano e moradores locais participavam da cerimônia em memória de Soleimani na cidade de Kerman, no sul do país.

Segundo a agência oficial IRNA, citando “uma fonte”, a primeira explosão foi provocada por um homem-bomba. No segundo caso, a investigação continua, mas muito provavelmente também se tratou de um homem-bomba, acrescenta a IRNA.

Antes de serem assumidos pelo Estado Islâmico, os ataques foram atribuídos pelas autoridades locais a Israel e aos Estados Unidos.

Um conselheiro político do presidente iraniano, Mohammad Jamshidi, chegou a acusar os “regimes americano e sionista” de estarem por trás do ataque.

Nos Estados Unidos, o Departamento de Estado considerou "absurda" qualquer sugestão de envolvimento do país ou de Israel no que "parece ser um ataque terrorista, o tipo de coisa que o Estado Islâmico fez no passado", segundo um alto funcionário americano.

O número de mortos foi revisado para baixo novamente na quinta-feira. Após 103 mortes anunciadas pela IRNA e depois 95 pelo ministro da Saúde, Bahram Eynollahi, o chefe dos serviços de emergência do país, Jafar Miadfar, relatou 84 mortes e 284 feridos.

“Resposta severa” 

Inimigo do Irã, Israel não comentou o ataque. “Estamos concentrados na luta com o Hamas” no território palestino da Faixa de Gaza, disse o porta-voz do exército israelense, Daniel Hagari.

O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, prometeu uma “resposta severa” a este ato descrito como “odioso e covarde” pelo presidente Ebrahim Raïssi, que cancelou uma viagem prevista à Turquia.

Apoiado por Teerã, o Hamas denunciou um “ato terrorista (…) que visa desestabilizar a segurança da República Islâmica ao serviço da agenda da entidade sionista”.

A Síria expressou “a sua total solidariedade face aos ataques terroristas e conspirações vergonhosas” que, segundo ela, têm como alvo o seu aliado iraniano.

Por sua vez, o presidente russo, Vladimir Putin, denunciou um ataque “chocante pela sua crueldade e cinismo”.

A ONU, a União Europeia, a França, a Alemanha, a Jordânia e a Arábia Saudita também condenaram o ataque.

 (Com RFI e AFP)

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